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Relatório de Qualidade do Algodão Brasileiro – safra 2023/24 (dezembro)

07 de Janeiro de 2025

Ainda leva um tempinho para concluir a etapa de análise por HVI do algodão brasileiro da safra 2023/2024, que hoje está em 95%. Mas o que já se percebe é que a qualidade tem se mantido estável, com incremento num índice muito importante, que é o relativo às fibras curtas, uma das principais demandas da indústria de fiação global para a fibra nacional. Alguns pontos de melhoria já podem ficar no radar para a safra que vem, como os índices de pegajosidade e de contaminação, que dependem em grande parte da decisão do produtor por variedade e estratégia de manejo. Acompanhe em detalhes a performance do algodão brasileiro na safra 2023/2024, no Relatório de Qualidade da Abrapa de janeiro. Clique no link e confira!

https://abrapa.com.br/wp-content/uploads/2025/01/JOB-012025-Relatorio-de-Estatistica-da-Qualidade-do-Algodao-Brasileiro-.pdf 

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Brasil ultrapassa EUA e já é maior exportador de algodão do mundo

China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão são mercados principais

07 de Janeiro de 2025

Por Marcello Antunes da Silva, repórter da Agência Brasil - O desempenho da safra 2023/2024 de algodão, com a colheita de mais de 3,7 milhões de toneladas, elevou o Brasil ao posto de maior produtor do mundo. O país também se tornou, oficialmente, e pela primeira vez na história, o maior exportador de algodão do mundo, superando os Estados Unidos.


O anúncio foi feito neste fim de semana em Comandatuba, na Bahia, durante a 75ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e seu Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na conferência Anea Cotton Dinner, promovida pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). A meta era prevista para ser alcançada somente em 2030.


A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) comemorou o resultado da safra atual, com 60% da produção totalmente comercializada.


“A liderança no fornecimento mundial da pluma é um marco histórico, mas não é uma meta em si, e não era prevista para tão cedo. Antes disso, trabalhamos continuadamente para aperfeiçoar nossos processos, incrementando cada dia mais a nossa qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade, e, consequentemente, a eficiência”, ressaltou o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel. A meta era prevista para ser alcançada somente em 2030.


Guinada - O presidente da Anea, Miguel Faus, lembrou que há cerca de duas décadas o Brasil era o segundo maior importador mundial.


“Essa guinada se deve a muito trabalho e investimento na reconfiguração total da atividade, com pesquisa, desenvolvimento científico, profissionalismo e união. É um marco que nos enche de orgulho como produtores e como cidadãos”, afirmou.


A Abrapa atribui o bom desempenho dos produtores à interligação entre produtores e a indústria têxtil brasileira. Apesar de sofrer forte concorrência externa, o consumo de fios e de algodão deve subir de 750 mil toneladas para 1 milhão de toneladas por ano.


A própria associação criou uma rede chamada Sou de Algodão, onde produtores de roupas, universidades de moda, pesquisadores e produtores de algodão caminham juntos para desenvolver qualidade aos produtos finais. Cerca de 84% do algodão produzido no Brasil detém certificações socioambientais.


As exportações brasileiras se recuperaram também pela maior demanda de países como Paquistão e Bangladesh, que no ciclo anterior compraram menos devido a dificuldades financeiras para abrir cartas de créditos. Essa retomada colaborou para que as expectativas fossem superadas. "A gente achava que iria exportar inicialmente 2,4 milhões, 2,45 milhões de toneladas."


Entre os principais mercados do algodão brasileiro estão China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão.


Penas de aves - Na última semana, o governo brasileiro recebeu o anúncio, pela Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong, China, da aprovação sanitária para a exportação de penas de aves do Brasil. O produto tem diversos usos industriais, incluindo a fabricação de almofadas, travesseiros, roupas de cama e estofados, além de ser utilizado como matéria-prima em produtos de isolamento térmico e acústico.


A abertura amplia o mercado para produtos avícolas do Brasil, refletindo a confiança no sistema de controle sanitário brasileiro. A relação comercial com a RAE de Hong Kong foi responsável pela importação de mais de US$ 1,15 bilhão em produtos do agronegócio brasileiro no ano passado. Com este anúncio, o agronegócio brasileiro alcança sua 72ª abertura de mercado neste ano, totalizando 150 aberturas desde o início de 2023.


Novo consulado na China - Na última quinta-feira (27), o Brasil abriu seu terceiro consulado-geral na parte continental da China, em Chengdu, capital da Província de Sichuan, no sudoeste do país. Com seu distrito consular abrangendo Sichuan, Chongqing, Guizhou, Yunnan e Shaanxi, o consulado-geral é estabelecido depois dos em Shanghai e Guangzhou. Cézar Amaral tornou-se o primeiro cônsul-geral do Brasil em Chengdu. Como este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil, a abertura do consulado-geral é uma sinalização do aprofundamento da cooperação entre os dois países, segundo Marcos Galvão, embaixador brasileiro na China.

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Mais eficiente e produtivo, algodão brasileiro pode bater nesta safra a meta de 2030

Para manter o ritmo de crescimento, setor tem o desafio de ampliar mercados, estimular o consumo doméstico e baixar o custo no campo

07 de Janeiro de 2025

Originário de regiões quentes e secas, o algodão é daquelas culturas que se adaptaram muito bem ao clima brasileiro. As 3,6 milhões de toneladas da pluma colhidas na safra 2023/2024 em 1,9 milhão de hectares, comprovam o sucesso da planta, cultivada principalmente no Centro-Oeste do pais.


Alem do clima favorável, os investimentos em tecnologia e a melhora dos tratos culturais são elementos que compõem essa receita de alta produtividade.


"Nos últimos 25 anos, a retomada aconteceu graças ao desenvolvimento de variedades melhor adaptadas ao clima brasileiro. O aumento do uso de insumos biológicos também contribui para esse crescimento", avalia o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero.


O resultado é que o setor deve atingir já na próxima safra a meta estabelecida para 2030 e produzir 4 milhões de toneladas da pluma. A area plantada também deve ser 6% maior na temporada 2024/2025 e alcançar 2,1 milhões de hectares.


A boa rentabilidade da cultura e um dos fatores que devem influenciar nesse aumento de área. "Está melhor que o milho, fazendo com que muitos produtores acabem optando por plantar algodão ao invés do grão", explica o analista de inteligência de mercado do Itaú BBA, Francisco Carlos Queiroz.


Atualmente, o Brasil é o maior exportador do mundo, deixando para trás players tradicionais como os Estados Unidos. A quebra da safra norte-americana por conta das oscilações climáticas acabaram por favorecer o Brasil, que tomou a dianteira também na produção.


"A recuperação da safra americana veio tarde e ficou aquém do esperado. No Texas, principal estado produtor, muitas áreas foram abandonadas", explica Queiroz.


Para os próximos anos, mais do que ampliar a produtividade, o setor tem outros desafios: ampliar a demanda e equilibrar os custos.


"Nos últimos anos sofremos com o aumento da concorrência da fibra sintética e por isso ampliar a demanda pela fibra natural se faz necessário para continuarmos a crescer na produção e nas exportações", avalia Portocarrero.


Um aspecto favorável ao algodão esta na mudança de percepção dos consumidores, especialmente no mercado europeu, cada vez mais preocupados com o impacto do consumo e optado por produtos que priorizem a produção sustentável e a economia circular.


"Nesse quesito estamos prontos, pois atendemos a todos os critérios do mercado, produzindo com sustentabilidade, com respeito às normas e ainda temos um produto natural que pode ser reaproveitado de diversas maneiras, com uma longa vida útil" detalha o executivo.


Oferta e demanda alinhadas


A estratégia para ampliar a demanda pelo algodão brasileiro passa pela abertura de novos mercados. Segundo Portocarrero, a demanda global por algodão está estável há anos entre 24 e 26 milhões de toneladas. Na safra 2023/2024, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas.


Com isso, os preços ao longo do ano oscilaram com tendència de queda, inclusive no mercado doméstico.


"Além da relação entre oferta e demanda, a cotação do petróleo também influencia os preços da fibra natural, uma vez que as fibras sintéticas são o principal concorrente", explica Queiroz.


Portocarrero explica que o setor tem condições de chegar a 5 milhões de toneladas produzidas até 2030, mas que esse estimulo à produção só será feito caso a demanda cresça proporcionalmente.


"Não faz sentido ampliarmos a produção se o mercado consumidor não acompanhar esse ritmo", pondera.


Entre os mercados consumidores do algodão brasileiro estão a China, Vietnä, Egito e Bangladesh. Somente os chineses compram cerca de 49% do produto brasileiro.


Para a safra 2024/2025, a estimativa do Itaú BBA é que o pais compre 2 milhões de toneladas, volume 33% inferior as 3 milhões de toneladas da temporada 2023/2024. "Isso se deve principalmente à retomada da produção chinesa", analisa Queiroz.


A İndia também faz parte da lista, com relevância cada vez maior, já que o volume adquirido do Brasil saltou de 8 mil toneladas para 70 mil toneladas em apenas um ano. "É um indicativo de que eles reconhecem a qualidade do nosso produto", avalia Portocarrero.


Outro aspecto que pode turbinar a demanda pelo algodão brasileiro já no próximo ano é a tendência de que Donald Trump, presidente eleito nos Estados Unidos, faça um governo ainda mais protecionista em seu segundo mandato, impondo tarifas à importação.


"Com isso, pode ser que eles fechem o mercado para os têxteis indianos, que, em retaliação, podem ir buscar plumas de algodão em outros mercados, principalmente no Brasil", pondera Portocarrero.


Mercado doméstico


O executivo explica que há perspectiva de aumento da demanda também no mercado doméstico, já que o consumo brasileiro de algodão tem se mantido estável na casa das 700 mil toneladas.


"Podemos chegar a 1 milhão de toneladas já em 2030", calcula.


Para tanto, ele considera que ações de engajamento e conscientização sobre a cadeia do algodão e os beneficios da fibra para a saúde e para o meio ambiente são fundamentais, "Também precisamos de uma politica de estimulo aos produtos nacionais e de um cenário onde haja aumento do poder aquisitivo e melhora da taxa de juros".


Como exemplo, ele cita o projeto Sou de Algodão, iniciativa da Abrapa junto à indústria têxtil, designers e estilistas, chegando até os consumidores, levando informação sobre o setor.


Atualmente mais de 1,7 mil marcas participam da iniciativa, com o compromisso de utilizar pelo menos 70% de algodão na composição de seus produtos.


"Temos um mercado de 220 milhões de consumidores, nosso desafio é educá-los sobre as vantagens do consumo da fibra natural para a saúde e para o meio ambiente", afirma.


Além do aumento da produção no campo, ele considera fundamental a modernização do parque textil brasileiro, ja bastante defasado.


A perspectiva é de que as indústrias tenham mais crédito disponível para investir em renovação de equipamentos, já que em setembro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinou o decreto que institui o programa de depreciação acelerada.


O programa define as 23 atividades económicas - incluindo a indústria tèxtil que serão beneficiadas com créditos financeiros para a modernização do parque industrial. A primeira etapa prevê a liberação de R$ 3,4 bilhões para aquisição de máquinas e equipamentos até 2025,


Controle do custo


Os investimentos no uso de defensivos biológicos nos últimos anos estão contribuindo para a melhora da produtividade e competitividade do algodão.


A titulo de comparação, enquanto a produtividade média por hectare nas fazendas brasileiras e de 1.900 quilos, nos Estados Unidos, segundo maior produtor, essa média é de 950 quilos.


"Nosso desafio é seguir produzindo algodão de alta qualidade e manter a produtividade alta, reduzindo os custos, para que a conta feche", pondera Portocarrero.


Na opinião do executivo, para que isso aconteça, será fundamental um programa de atração de investimentos para a produção de defensivos e moléculas no mercado brasileiro, além da desburocratização do processo de aprovação de moléculas mais modernas e eficazes para o uso no país. "Estamos em média oito anos atrás de outros países na oferta de moléculas".


Ele considera a lei de defensivos, aprovada em 2023, fundamental para destravar a fila e contribuir para que o Brasil de o próximo passo rumo ao aumento da eficiência agricola. "Ter a produção local também contribuiria para a diminuição dos custos".


A aprovação da Reforma Tributária pela Câmara, no último dia 17 de dezembro, é outro elemento que deve contribuir para melhorar a competitividade do setor, na visão do executivo.


"É o ponto de reconhecimento do congresso sobre a importância do agrawegócio para o Brasil e demonstra a preocupação em contribuir para que sejamos cada vez mais eficientes e competitivos".

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Especialistas veem 2025 como 'ano da diplomacia agrícola'

Por que a política internacional e a agenda de meio ambiente devem ganhar ainda mais peso na pauta comercial do agronegócio brasileiro

07 de Janeiro de 2025

Renata Ferguson, grande produtora de soja e milho em Rio Verde (GO), acompanha de perto as novidades sobre as negociações do comércio exterior brasileiro.Para ela, os acordos internacionais definem o futuro de seu negócio, já que grande parte do que ela colhe segue para exportação. Em contraste, o jovem Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP) e abastece a Ceasa da capital paulista, afirma não dar muita atenção às discussões sobre o comércio global. “Eu não exporto, então isso não me afeta”, diz, para em seguida questionar: “Será que eu deveria?”


Essa diferença de abordagens expõe de maneira didática o crescente debate sobre a influência da diplomacia agrícola e das regras do comércio internacional sobre as atividades de produtores rurais brasileiros de diferentes escalas. Para especialistas ouvidos pela Globo Rural, essas discussões serão uma das grandes tendências de 2025, quando devem sair da porteira e se alastrar por outras esferas da sociedade.


Renata oferece treinamento a seus funcionários para que eles intensifiquem a adoção de práticas sustentáveis e, em outra frente, negocia com muitas empresas internacionais, das quais colhe ideias que mais tarde vão enriquecer a gestão da lavoura. A quase quilômetros dali, Natã não adota as mesmas práticas, mas precisa cumprir uma série de exigências para selecionar e armazenar o chuchu que colhe, além de manter o QR code de rastreabilidade para entregar a produção às centrais de abastecimento.


Embora as características do trabalho dos dois agricultores sejam muito distintas entre si, ambos seguem rígidas regras de comercialização e, assim, cumprem tarefas que integram o conceito de diplomacia agrícola. Segundo Carol Pavese, professora de relações internacionais da Faculdade Belas Artes, o termo abrange tanto regras do comércio internacional e de abertura de mercados quanto diretrizes de segurança alimentar e manejo sustentável, independentemente do tamanho da área de cultivo.


“A diplomacia agrícola é uma estratégia de relações internacionais para promover o agronegócio de um país no cenário global, consolidando mercados, negociando barreiras comerciais e fortalecendo a presença de seus produtos em regiões estratégicas. Ela envolve ações coordenadas entre governos, setor privado e organizações internacionais para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do setor”, detalha a professora.


Novo espírito do tempo
Especialistas concordam que as regras do comércio internacional vão pautar ainda mais as reuniões de cooperativas, associações e entidades públicas do setor. Como parte desse novo espírito do tempo, desde 2023 o governo federal tem ampliado o número de adidos agrícolas, que atuam como representantes do Brasil em países parceiros; hoje, há 40 em ação. E, no campo, os produtores correm para ajustar suas práticas para, com isso, não perderem espaço (nem dinheiro). Há consenso de que o Brasil terá um papel diplomático de destaque, sendo o líder do Mercosul na defesa da agropecuária.


Ao mesmo tempo, grandes exportadores e empresas de comercialização de commodities investem em tecnologias de rastreabilidade, automação e certificações. Já nas propriedades, a maioria dos pequenos e médios produtores dá prioridade a questões como crédito e recuperação financeira após um ano de muitos problemas climáticos.


"Não temos tempo para pensar nisso. Precisamos plantar, colher e vender"
— Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP)


Quem exporta precisa lidar com um cenário de crescente protecionismo. Desde 1962, com a criação da Política Agrícola Comum da França, os países têm adotado medidas restritivas para proteger seus mercados. O professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, observa que o Brasil tem respondido a essas barreiras com a criação de um arcabouço legal para retaliações formais, buscando defender interesses nacionais e manter sua posição estratégica no mercado global. Jank destaca que a resposta brasileira vai além da defesa comercial.


"Estamos consolidando padrões que promovem a competitividade, enquanto enfrentamos desafios de barreiras não tarifárias"
— Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global


Segundo Carol Pavese, a padronização de normas internacionais de comércio também gera pressão sobre pequenos e médios produtores. “Essas exigências podem excluir quem não tem estrutura para se adequar, favorecendo grandes integrantes do agronegócio”, afirma ela. O contraste entre a família Ferguson e o jovem Natã ilustra bem essa realidade.


Esforços de grandes e pequenos
Enquanto grandes exportadores personalizam sua produção para atender a novos mercados, pequenos agricultores tentam atender às demandas locais de sustentabilidade. Cadeias como as de café e algodão lideram a corrida pela internacionalização. No primeiro semestre de 2024, o Brasil superou os Estados Unidos e tornou-se o maior exportador de algodão do mundo, em um dos resultados mais evidentes de programas como o CottonBrazil, liderado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e que tem apoio do Ministério da Agricultura.


No caso do café, pequenos produtores têm se destacado com práticas sustentáveis. Na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, por exemplo, Isabela Azevedo e Douglas Fagundes cuidam de uma agrofloresta em que produzem variedades de café arábica a 1,2 mil metros de altitude. Eles já exportam lotes exclusivos, mas sua produção ainda não alcançou escala que permita voos mais altos no mercado externo – a colheita na propriedade é manual e o trato diário requer muita atenção a detalhes. Só que o casal já cumpre diretrizes internacionais, tem recebido prêmios por seus esforços em sustentabilidade, usa apenas insumos biológicos e, além disso, busca financiamento para mecanizar parte da colheita.


O casal já recebeu na propriedade comitivas internacionais interessadas nos microlotes exclusivos e, recentemente, criou a marca de cafés especiais Boa Vista, logo depois da conquista do selo de Melhor Café do Brasil, em 2018, concedido pela Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).
Eles estão de olho nas novidades da pesquisa global e mantêm “talhões-laboratório” para testes de manejo. Na Fazenda Boa Terra, que Isabela herdou de seu pai, Paulo Azevedo, eles trabalham para aplicar as boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) enquanto miram outros mercados.


O conceito de diplomacia agrícola comporta ainda outras iniciativas do casal. A premiação, por exemplo, até hoje contribui para agregar valor ao grão no mercado doméstico e para projetar a marca do casal em outros países. Isso tem atraído mais visitantes, o que levou Isabela e Douglas a decidir fazer um dinheiro extra com o turismo rural. Aos visitantes, que recebem com hora marcada, eles apresentam informações históricas de tradição e cultura do vilarejo rural de Ibicoara (BA), onde fica a propriedade. Em novembro, o casal recebeu um grupo de australianos que começará a negociar a compra do produto por meio da cooperativa local, um modelo de negócio que ajuda a incluir pequenos produtores na rota da exportação.


Efeitos sobre o Brasil
Fim das negociações para o acordo UE-Mercosul lei antidesmatamento europeia, “efeito Trump” e guerras no Oriente Médio foram alguns dos acontecimentos que marcaram 2024 e que tiveram (e ainda terão) influência direta sobre o agro brasileiro. O debate sobre a correlação entre geopolítica e comércio agrícola está em alta, o que pode beneficiar o Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo.


Só o livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, pode gerar US$ 11 bilhões para a economia brasileira até 2040, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É verdade que os efeitos dessa novidade ainda vão levar um tempo para aparecer. No dia 6 de dezembro, os dois blocos anunciaram, em Montevidéu, no Uruguai, a conclusão das tratativas para a assinatura do acordo. O anúncio, histórico, levou 25 anos para ocorrer. No entanto, para entrar em vigor efetivamente, o tratado ainda depende de aprovações dos parlamentos locais.


Em paralelo, o Brasil tem ampliado sua presença em mercados asiáticos para além de seu maior parceiro comercial na atualidade, a China. O avanço ocorre também no Oriente Médio, que, apesar das tensões decorrentes do conflitos na região, tem grande potencial e longo histórico de relações com o agro brasileiro.

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Ministério da Agricultura reconhece 11 programas de certificação de boas práticas para concessão de crédito

Cinco programas de certificação de boas práticas agrícolas foram chancelados ao longo de 2024

07 de Janeiro de 2025

O Ministério da Agricultura reconheceu cinco programas de certificação de boas práticas agrícolas ao longo de 2024, depois que foi criada a regra para a concessão de desconto no custeio rural de médios e grandes produtores. Antes, já havia reconhecido seis iniciativas em 2022 e 2023.


Um dos programas aptos é o Soja Legal, desenvolvido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT). A iniciativa estimula e capacita os proprietários rurais a adotarem ações de conformidade em eixos, como a qualidade de vida no campo e no trabalho, a gestão consciente da água, o gerenciamento de resíduos, as melhores práticas agrícolas, adequação ao Código Florestal, a viabilidade econômica da produção e a qualidade do produto.


Atualmente, 1.250 produtores fazem parte do Soja Legal, dos quais 700 já têm o selo de conformidade. Segundo Luiz Bier, vice-presidente da Aprosoja-MT, 85 agricultores já foram cadastrados e poderão obter os descontos nos financiamentos assim que o sistema estiver operando. Os demais participantes deverão ser inseridos em breve.


Bier acredita que poucos contratos serão firmados agora, mas diz que a medida é importante por reconhecer as adicionalidades ambientais e sociais dos produtores. “A nossa expectativa é que o produtor que realmente faz o dever de casa e que cumpre toda legislação ambiental seja reconhecido. Esperamos que não haja muita contratação nos primeiros meses, porque a safra já está rodando. O produtor vai começar a tomar crédito novamente a partir de a P&A Ltda, o Certifica Minas Café, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, o Selo Mip Experience, da PROMIP Manejo Integrado de Pragas Ltda, e o Boas Práticas Agrícolas IBS, do Instituto BioSistêmico (IBS), já haviam sido reconhecidos pelo Ministério da Agricultura.


Os programas avalizados no segundo semestre de 2024 agregaram mais de 900 produtores rurais ao rol de futuros beneficiários dos descontos.


São eles: Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Programa Algodão Brasileiro Responsável para Unidades de Beneficiamento (ABR-UBA), ambos da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa); o Certifica Minas, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais; o Programa Selo Ambiental do Arroz Rastreado RS, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga); e o Protocolo de Sustentabilidade Cooxupé Gerações, da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda.


Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu.

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