Um dos líderes da cotonicultura brasileira e ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Luiz Ribas Pessa representou a entidade na conferência anual da Internacional Textile Manufacturers Federation (ITMF), realizada entre os dias 14 e 16 de setembro, em Bali, na Indonésia. O encontro reúne líderes globais da cadeia de valor do algodão, que discutem abertamente as questões do setor. Nesta edição, os debates e apresentações focaram em tecnologia, comércio, clima e orientações para "tempos disruptivos".
As inovações tecnológicas que hoje estão na agenda de todos os setores da economia mundial foram, segundo Pessa, uma constante nas discussões. Tanto pelo que podem trazer de bom, quanto de ameaças. Essa ponderação entre investimento em novas tecnologias e potencial de retorno foi tratada em palestras como a de William Humphries, da Humphries Scientific/Austrália, que lembrou que quando o risco de não haver retorno de investimento é grande, a adesão é pequena, e o oposto também se confirma.
Humphries destacou que se muitos investem numa mesma tecnologia, porque imaginam que o risco de não dar resultados é baixo, automaticamente ela deixa de ser uma novidade, trazendo resultados individuais pequenos. Luiz Pessa traz a consideração para a realidade dos produtores brasileiros de algodão, caracterizados pela união e o investimento conjunto. "Enquanto permanecermos unidos e trocando informações, não vejo problema nos benefícios das novas tecnologias serem compartilhados por todos que investirem nelas. O ganho em conhecimento e tecnologia beneficia a todos de maneira compensatória. Temos de evoluir em inovações, principalmente em logística e comunicação para vendas", afirmou.
A agenda do representante da Abrapa teve reuniões diversas. Na que tratou do Encontro do Comitê das Fiações, o cerne das discussões foi a contaminação por plástico no algodão, um dos efeitos que se observa após o advento das colheitadeiras de rolo. "Os comparadores reclamam dos vestígios de plástico amarelo, que ocorrem quando a máquina 'engole' plástico e durante a manipulação do rolo do campo até a algodoeiras, quando o plástico é rasgado", relata. Ele sugere que os produtores adotem os cuidados necessários para evitar o problema e também que haja monitoramento da condição dos plásticos que envolvem os rolos, por ocasião do beneficiamento. De acordo com números apresentados no evento, alguns países têm conseguido diminuir os índices de contaminação.
Qualidade e rastreabilidade
A qualidade é um atributo cada vez mais requerido pelas indústrias, e estas reconhecem a importância de programas como o Better Cotton Iniciative (BCI), que, no Brasil, opera em benchmarking com o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), da Abrapa. Para os conferencistas, essas iniciativas devem ganhar força, pois, ao estabelecerem rígidos parâmetros da boas práticas na produção, resultam em ganhos diversos, como a diminuição da contaminação nos processos de colheita, transporte e beneficiamento. Durante o evento, foi solicitado aos membros do Comitê das Fiações que se pronunciassem sobre a posição do ITMF frente ao BCI. "Foi unânime a votação para que o ITMF continue aceitando e reconhecendo o BCI como ferramenta que auxilia a cadeia têxtil", disse. "Informei sobre o BCI e ABR no Brasil, ressaltando que o ABR é ainda mais completo, e o BCI o aceita como referência", explica Pessa.
Cada vez mais desejada pela indústria, a rastreabilidade também foi um tema importante nas discussões do ITMF. Na oportunidade, Pessa detalhou o programa Standard Brasil HVI em seus três pilares: o Banco Nacional de Dados da Qualidade do Algodão Brasileiro, o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA) e a capacitação, orientação, treinamento e atendimento aos laboratórios participantes.
Bom exemplo
Ter acesso aos diversos pontos de vista dos players é, na opinião do ex-presidente da Abrapa, uma das grandes vantagens da participação da entidade nesses eventos mundiais. "Foi interessante ver como o Brasil foi citado como um país exemplo no sentido de rastreabilidade, classificação e contaminação, principalmente por ter poucos produtores envolvidos – em relação a outros países – e estes serem comprometidos com a sustentabilidade. Embora nossa realidade seja de conhecimento de muitos, ainda precisamos propagar esses atributos positivos, principalmente, no mercado asiático", diz.
Identificar a tendência de consumo global, tanto de indústrias, como de comerciantes é, para Pessa, é um retorno estratégico de estar em fóruns como o ITMF. "Podemos, por exemplo, entender melhor se um determinado país tem um política mais protecionista ou globalista, e agir estrategicamente a partir disso", conclui. Pessa ressaltou ainda o networking entre os participantes, que permite inferir o quanto sabem ou não sobre a produção brasileira. "Por serem pontos de convergência muitos elos da cadeia produtiva da fibra no mundo, encontros como a conferência da ITMF podem ser excelentes oportunidades para a Abrapa realizar ações diretas de promoção do algodão brasileiro e também da sua própria atuação", considera.
Para ter acesso às apresentações da ITMF Annual Conference 2017, acesse:
http://www.itmf.org/2017/conference-downloads