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Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados

26 de Setembro de 2019

Sob forte impacto da queda dos preços do algodão no mercado internacional, atualmente abaixo de US$0,60 contra US$0,80 no pico do período de negociação, em junho de 2018, a área plantada com a pluma no Brasil, em 2020, deve ficar igual ou, no máximo, 3% maior que na safra 2018/2019, que foi de, aproximadamente, 1,6 milhões de hectares. A produção esperada para o próximo período é de três milhões de toneladas de pluma, número semelhante (+1%) ao alcançado na colheita recém-concluída, um recorde de 2,9 milhões de toneladas do produto beneficiado. Os números foram divulgados pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), nesta quarta-feira (25/09), durante a 56ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizada na sede da Abrapa, em Brasília.


Além da Abrapa, que preside a Câmara, participaram do encontro os representantes de todos os dez estados produtores, dos exportadores, da indústria têxtil e de confecções, do Governo, dentre outros setores da cadeia produtiva, integrantes do fórum.


De acordo com o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, as marcas levantadas para a safra 2019/2020 ainda são previsão, “uma vez que o plantio começa a partir de dezembro. Mas o cenário não deve se alterar muito em relação às estimativas atuais”, diz. A produtividade nas lavouras deve permanecer inalterada, ou com discreta redução (-2%), sobre o total alcançado no ano agrícola de 2018/2019, que foi de 1,768 quilos por hectare. A última reunião da Câmara deste ano deverá acontecer no dia 4 de dezembro, na sede da Embrapa, em Brasília.


Os preços em baixa – atribuídos majoritariamente à guerra comercial entre China e Estados Unidos – desestimulam o crescimento de área e estão impactando no ritmo dos embarques para o mercado externo. Para setembro, a expectativa da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) é de 150 mil toneladas exportadas, sobretudo, para a Ásia. Esse mesmo volume era aguardado para os meses de julho e agosto, o que não se concretizou. De acordo com o vice-presidente da Anea, Marco Antonio Aluísio, nesses meses, a associação contabilizou, respectivamente, em 41 mil e 47 mil toneladas.


Para Aluísio, a discrepância entre expectativa e realidade se deve a quebras de contrato, principalmente, na China, onde os compradores questionam os valores negociados à época, ante os praticados no momento. “Até o final do ano, deveremos exportar 700 mil toneladas de algodão, contra uma previsão inicial de 900 mil”, considera.


Estoque de passagem


Com isso, o estoque de passagem brasileiro deve ficar acima de 1,8 milhão de toneladas, uma pressão que recai sobre o primeiro semestre de 2020, e coincide com a colheita da safra americana. “Nossa tradição, até então, era de sermos fornecedores de segundo semestre. Isso se alterou com o recente aumento da produção e, consequentemente, do embarque do excedente, que elevou o Brasil à condição de segundo maior exportador mundial. Agora, com estoques maiores, vamos ter de brigar por mercado com os Estados Unidos”, disse.


O representante da Anea ressaltou os riscos de armazenagem da fibra para o produtor e o esforço logístico empreendido para garantir o embarque de uma produção maior, que ficou comprometido pela contenda entre as duas potências mundiais. As exportações brasileiras deverão totalizar 2,2 milhões de toneladas na safra 2018/2019, e equivalem à diferença entre a produção e o consumo do mercado interno que, há vários anos, está dimensionado em 700 mil toneladas de pluma, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit).


“Abrapa e Anea remeterão um ofício ao Ministério da Agricultura, solicitando intervenção da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais e Ministério de Relações Exteriores junto ao governo chinês, expondo a situação e pedindo para que os compradores cumpram os contratos”, disse o presidente da Abrapa, Milton Garbugio. Ele também adianta que a Abrapa fará pleito para que o Governo Federal inclua, em seu orçamento, recurso para linhas de financiamento para armazenamento, faça estudos visando a correção do Preço Mínimo e assegure a possibilidade de implantação de instrumentos de apoio à comercialização.


Empate



Também presente à reunião da Câmara Setorial, a Abit classifica 2019 como “um ano sem perdas ou ganhos”. No acumulado de 12 meses, até agosto, a produção têxtil teve queda de 2,8%, e o vestuário, de 0,7% no mesmo período. No varejo, as vendas cresceram 1,2%. Segundo o presidente da Abit, Fernando Pimentel, o inverno este ano não contribuiu. “O frio demorou a chegar e a oscilação do clima não foi suficiente para fazer o consumidor investir em roupas para a estação. Agora faz frio em estados como São Paulo, mas as vitrines são das coleções de primavera/verão. Um inverno que para nós não vai deixar saudade”, justifica.


Pimentel afirma que, atualmente, a indústria têxtil nacional trabalha com 77% da capacidade instalada. “Vamos fechar no zero a zero. Será o quinto ano consecutivo sem movimentos favoráveis”, pondera. No comércio, as previsões para 2020 são “um pouco melhores”, na visão do presidente da Abit, mas ainda há muitas indefinições no horizonte. As importações caíram, segundo ele, em função do câmbio, e por conta da opção dos consumidores por produtos nacionais, menos sujeitos à volatilidade da moeda norte americana.


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SBRHVI: Visita técnica e mobilização de produtores em Minas Gerais

19 de Setembro de 2019

Nos últimos dias 17 e 18 de setembro, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) foi até o estado de Minas Gerais, o quarto maior produtor da commodity no Brasil, para checar os níveis de conformidade do laboratório Central de Classificação de Fibra de Algodão (Minas Cotton), da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), e mobilizar os produtores estaduais para aderir ao programa Standard Brasil HVI (SBRHVI). A qualidade de resultados em classificação de algodão por High Volume Instrument (HVI) é um dos compromissos prioritários da Abrapa, fundamental para o incremento da credibilidade do algodão brasileiro nos mercados dentro e fora do país, e para a harmonia nas negociações com a pluma. Com crescimento de quase 50% de área e produção na safra 2018/2019, e aumento da demanda pela entrada do mercado paulista em sua base de clientes, o Minas Cotton, situado em Uberlândia, investiu ainda mais em número e qualidade de equipamentos e segue cumprindo à risca o protocolo do programa SBRHVI.


“As visitas técnicas fazem parte do calendário do programa SBRHVI. O laboratório da Amipa, assim como todos os demais participantes, não apenas tem cumprido os pré-requisitos do nosso protocolo de 42 itens, como vai além das exigências, aprimorando sua estrutura e processos a cada safra”, diz o gestor de Qualidade da Abrapa, Edson Mizoguchi. Ele destacou a aquisição de uma nova máquina de HVI Uster 1000 e melhorias no sistema de condicionamento do ambiente, “que já atendia às exigências do programa”, enfatiza o gestor.


De acordo com o gerente do Minas Cotton, Anicézio Resende, foi preciso investir para acompanhar o crescimento de área, produção, e da demanda adicional de classificação do algodão do estado de São Paulo nesta safra. Esta última, gerada pela desativação do laboratório de classificação da Brasil Bolsa Balcão (B3), que processava a pluma paulista anteriormente. “Na safra passada, analisamos em torno de 270 mil amostras de algodão. Nesta, a previsão é de fecharmos o ciclo processando de 450 a 500 mil amostras”, pondera Resende. A entrada do algodão de São Paulo para classificação em Minas Gerais não ocasionou problemas, segundo o gerente, nem para mineiros nem para paulistas. “Primeiro, porque a safra do estado vizinho ocorre em abril e é curta, de modo que, praticamente, teve exclusividade em nosso cronograma de trabalho. Depois, porque Uberlândia é estrategicamente localizado, próximo à zona de plantio de São Paulo, o que facilitou bastante”, afirma. Nesta safra, 90% do algodão produzido nas lavouras paulistas foram classificados pelo laboratório da Amipa.


Para Anicézio Resende, tanto as visitas técnicas, quanto a orientação aos laboratórios, assim como o trabalho do Centro Brasileiro de Referência em Análise de Alodão (CBRA), dão tranquilidade e segurança para as operações nos laboratórios. “Hoje, com o algodão de checagem e referência do CBRA, descobrimos, rapidamente, se temos algum problema no funcionamento das máquinas e podemos agir imediatamente. Também passamos a ter provas mensuráveis para argumentar as eventuais necessidades de investimentos”, considera.


No dia seguinte à visita técnica, a Abrapa realizou a mobilização para adesão ao SBRHVI com os produtores mineiros. O evento foi realizado na cidade de Patos de Minas. Todos os produtores com cadastro atualizado foram convidados a participar do encontro. “O resultado foi muito bom, e o produtor mineiro está engajado ao SBRHVI”, conclui.

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PPP contra o bicudo-do-algodoeiro

11 de Setembro de 2019

A assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Associaçãoeira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Instituto Mato-grossensse do Algodão (IMAmt), a Embrapa e a Fundação Eliseu Alves, no valor de R$17,7 milhões, para o desenvolvimento de uma variedade de algodão transgênico resistente ao bicudo-do-algodoeiro pode ser o primeiro passo para o Brasil galgar patamares mais altos no ranking dos maiores exportadores mundiais de algodão. O país ocupa o quarto lugar nesse pódio, e, pela estimativa dos cotonicultores, pode alcançar o segundo, em cinco anos, hoje ocupado pela Índia, se crescer a uma média de 15% ao ano. Para isso, erradicar a praga que representa um acréscimo de cerca de 10%, ou US$250 por hectare, nos custos de produção é uma prioridade para cotonicultores, governo e iniciativa privada. A Parceria Público Privada (PPP) foi estabelecida na manhã dessa quarta-feira (06/09), na sede da Embrapa, em Brasília.



Os recursos disponibilizados pelo IBA para a cooperação técnica serão utilizados para acelerar as pesquisas que já existem em desenvolvimento de plantas resistentes ao bicudo e possibilitar a intensificação dos trabalhos, através da Plataforma do Algodão. Ela prevê etapas em curto, médio e longo prazos, até que se chegue à planta definitiva, o que costuma levar de dez a 15 anos. No Acordo de Cooperação Técnica, caberá à Abrapa captar os recursos junto ao IBA e repassá-lo, conforme cronograma físico-financeiro, para a Fundação Eliseu Alves, que será responsável pela gestão do montante a ser utilizado pela Embrapa, e para o IMAmt, que executará parte do projeto. A Embrapa e a Abrapa se comprometem a, em um prazo de 30 dias após a assinatura do termo, constituir um comitê gestor que irá elaborar um regimento interno, constituído por três representantes da Embrapa e três da Abrapa.



 A cerimônia de assinatura contou com a presença do chefe de gabinete do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Coaraci Castilho, representando o ministro Blairo Maggi, dos presidentes da Embrapa, Maurício Lopes, e da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, do presidente executivo do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Haroldo Cunha, do diretor do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, do diretor presidente da Fundação Eliseu Alves, Alexandre Barcellos, da diretora-executiva da Embrapa, Lúcia Gatto, do chefe-geral da Embrapa Algodão, Sebastião Nascimento, do diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, dentre diversos membros da comunidade científica.



Produtores tecnificados



Em seu discurso, o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, rememorou a história da atividade algodoeira no país, enfatizando o período de migração para o cerrado que, segundo ele, ressignificou a cotonicultura nacional. "Esse setor representa muito bem o que o Brasil se tornou: mais que uma nação agrícola, uma potência em agricultura no mundo, e é um orgulho para a Embrapa ter participado desse processo", disse Lopes, dando como exemplo os resultados da safra 2016/2017, que deve fechar em 1,5 milhões de toneladas de pluma. "O Brasil já importou algodão, depois se tornou um grande produtor, até que veio o bicudo. A migração para o cerrado representa uma retomada da nossa cotonicultura", explica o presidente da Embrapa.



O presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, disse que o incremento nas exportações brasileiras, com o combate mais assertivo ao bicudo, pode fazer a cultura voltar a ser expressiva em estados como Alagoas, que sediou, na última semana, entre os dias 29 de agosto e 1° de setembro, o 11° Congresso Brasileiro do Algodão (11° CBA). "Alagoas já foi um grande produtor e processador da fibra, tanto que o algodão está até na bandeira do estado. Mas não produziu um único capulho nas últimas safras, e o bicudo é uma das razões pela qual a atividade foi devastada em seu território. Com a volta dessas regiões à produção, mesmo com produtores de pequenas áreas, vamos contribuir para incrementar a oferta brasileira da fibra. Este projeto nos possibilitará alcançar a meta de dobrar a produção em cinco anos", afirmou. Ainda segundo o presidente da Abrapa, Arlindo Moura, o algodão não precisa ser uma atividade de grandes produtores. "Mas precisa ser de cotonicultores tecnificados. E a tecnologia pode ser difundida para os pequenos. Isso fará dele a grande commodity do Brasil", disse.



Marco histórico



Possibilitado pelo aporte de recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), o desenvolvimento de uma variedade resistente ao bicudo será um marco na atuação do IBA. "Será, sem dúvida, um divisor de águas. Atualmente o bicudo é um problema quase exclusivo do Brasil, se considerarmos que se trata de uma praga que incide majoritariamente na América do Sul, e, nessa região, nosso país é o produtor que impacta na oferta mundial da fibra. Sendo assim, muito dificilmente haveria investimento internacional para buscar soluções. O êxito nessa iniciativa vai resultar em uma tecnologia exclusivamente pensada para as nossas condições, que vai favorecer diretamente a produtividade, a redução dos custos e, consequentemente,  a competitividade do Brasil no cenário mundial", afirma Haroldo Cunha, presidente executivo do IBA.



Nas palavras do chefe de gabinete do MAPA, Coaraci Castilho, a Plataforma do Algodão representará um impacto positivo, tanto na produtividade quanto na geração de renda em toda a sua cadeia produtiva. "Iniciativas como esta precisam ser aplaudidas e incentivadas. As parcerias com o setor privado são fundamentais, na visão do ministro Blairo Maggi, para impulsionar a ciência e a tecnologia em nosso país", recomendou Castilho. O bicudo chegou ao Brasil há aproximadamente três décadas e é considerado o maior problema fitossanitário da cultura do algodão.



A nova plataforma, segundo o diretor do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, representa um grande desafio. "O Brasil produzindo biotecnologia é algo que pode parecer impossível para muitas pessoas, que acham que isso é tarefa para multinacionais e instituições internacionais de pesquisa. Porém, há bastante tempo, nós temos observado que é factível, sim, e isso vai ser o contraponto, assim como um grande salto em tecnologia. Vários caminhos vão se abrir com esse projeto", afirmou Salles.

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