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De “sequeiro” a rastreável

30 de Março de 2020

​Resultados de um pensamento sustentável, que vem se fortalecendo nos últimos 18 dos seus 20 anos, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) falou nesta sexta-feira (27) sobre rastreabilidade, Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Sou de Algodão no webinar A Água na Moda. O evento virtual reuniu, em média, 250 pessoas online por painel para discutir o uso sustentável dos recursos hídricos na cadeia produtiva têxtil. Cotonicultores, representantes da indústria, do comércio, do terceiro setor e formadores de opinião participaram das discussões e puderam conhecer mais sobre a produção da principal matéria-prima da moda, e as práticas que fazem do Brasil o país campeão em sustentabilidade certificada na cotonicultura. Na oportunidade, também mostrou o recém lançado 3º Manifesto Sou de Algodão, que tem como tema "o movimento que cultiva a moda responsável do Brasil".



O evento foi promovido pelo movimento Ecoera, liderado pela especialista em sustentabilidade Chiara Gadaleta, em parceria com as empresas Guardiãs da Água, que engajam a iniciativa A Moda pela Água. Inicialmente, ele estava previsto para acontecer presencialmente, no último dia 20, em São Paulo. A mudança de formato foi a solução encontrada para a realização, mesmo em meio ao isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavirus. "Um momento em que o uso da água está ainda mais em evidência, quando a ordem é lavar as mãos e a gente lembra que 35 milhões de pessoas não têm acesso à água potável no Brasil", disse Gadaleta.



Ao longo dos diversos painéis do webinar, iniciativas para reutilização de resíduos da indústria, cases de sucesso no terceiro setor e das próprias empresas e ainda os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estiveram em evidência. Silmara Ferraresi, assessora da presidência da Abrapa e gestora do movimento Sou de Algodão, apresentou o exemplo dos cotonicultores que hoje recuperam nascentes no cerrado baiano, através da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). "Com investimento dos cotonicultores, o projeto recuperou 55 nascentes de água, diagnosticou outras 87 e identificou mais 210 para futuras ações de preservação, em dez municípios daquela região", explicou.



Silmara Ferraresi destacou que a cotonicultura no Brasil é quase totalmente (92%) praticada sem uso de irrigação. "Ou seja, com água da chuva. E mais de 80% dela é certificada pelo programa ABR, que trata das boas práticas sustentáveis na fazenda e do qual constam 178 itens de verificação, auditados por empresas de terceira parte", disse, ressaltando que, através do movimento Sou de Algodão, a entidade passou a comunicar para os demais elos da cadeia e para o consumidor final que o algodão brasileiro é uma fibra sustentável, democrática e inclusiva.



O diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, falou sobre as pegadas do algodão desde a lavoura até o momento em que é entregue à algodoeira, e, em breve até a porta da fiação. A rastreabilidade da fibra é um compromisso da Abrapa, possível graças ao sistema que integra todas as informações sobre a produção da matéria-prima no país, o SAI. O sistema foca em identidade e rastreabilidade, com dados sobre origem, safra, classificação e sustentabilidade. Uma etiqueta de código de barras que segue em cada fardo funciona como um RG do algodão. "Entregamos todas essas informaçõespara que o comprador possa saber, exatamente, de onde veio aquele algodão e todas as suas caraterísticas", diz Portocarrero.



De acordo com o diretor, até o final de 2020, a rastreabilidade deve chegar até as algodoeiras. "A partir daí, a fiação e, na sequência, a tecelagem vão somar essas informações às suas próprias certificações de rastreabilidade e entregarão à confecção o registro da história dessa cadeia produtiva. Estes, por sua vez, poderão fazer o mesmo, para levar ao consumidor final um produto 100% rastreável. Imaginar isso em 100% da cadeia deixa de ser um sonho para virar realidade", diz. Portocarrero citou o posicionamento de grandes marcas e grifes internacionais que já se comprometeram publicamente a só consumir algodão comprovadamente sustentável, em um curto espaço de tempo. "Vamos dar ao consumidor final a oportunidade de conhecer a história daquela peça antes de tomar a decisão de comprá-la", finalizou.


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Carta Aberta do setor Produtivo Pandemia do Coronavírus – Covid-19

20 de Março de 2020

Aos Excelentíssimos Senhores,



Jair Messias Bolsonaro


Presidente da República Federativa do Brasil


Tarcísio Gomes de Freitas


Ministro de Estado de Infraestrutura



As entidades abaixo assinadas, que representam as mais importantes cadeias produtoras de alimentos, fibras e energia do país, solicitam apoio do Governo Federal no sentido de garantir o funcionamento da logística nacional de abastecimento. Especialmente do Porto de Santos diante da ameaça de paralisação por parte do Sindicato dos Estivadores de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Guarujá. Entendemos que o governo federal e as autoridades constituídas têm trabalhado no sentido de atender as medidas necessárias para mitigar risco de contágio.


Tais orientações e medidas, em nosso entender, devem ser prontamente atendidas não apenas para que se preservem questões humanitárias, bem como evitar uma crise sem precedentes para o nosso País. Caso os estivadores sindicalizados cheguem a paralisar o Porto de Santos há elevadas chances de essa ação disparar processo em cadeia nos demais portos, destruindo empregos e afundando o País em um "efeito dominó" cujos prejuízos são incalculáveis neste momento.


Entendemos que a interrupção das atividades portuárias vai na contramão do que tem sido praticado em nações cujo o impacto do coronavírus tem sido ainda mais grave do que o verificado no Brasil. Todos os esforços têm sido no sentido de garantir o livre trânsito de mercadorias, sejam alimentos, combustíveis, medicamentos ou insumos necessários para a produção e para a manutenção do abastecimento das populações ao redor do mundo.


Com votos de que superemos de forma mais breve este difícil momento, Nossos cumprimentos,



Assinam este documento:



ABAG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AGRONEGÓCIO ABBA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA BATATA


ABCS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SUÍNOS


ABCZ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE ZEBU



ABIEC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE


ABIFUMO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO FUMO



ABIMAQ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS


ABIOVE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS


ABIPESCA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE PESCADOS ABPA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL


ABRAFRIGO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS ABRAMILHO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE MILHO ABRAPA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO


ABRASS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SEMENTES DE SOJA


ACRIMAT - ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE MATO GROSSO



ALCOPAR - ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE BIOENERGIA DO ESTADO DO PARANÁ


AMPA -  ASSOCIAÇÃO  MATOGROSSENSE DOS PRODUTORES DE ALGODÃO


APROSMAT - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SEMENTES DE MT



APROSOJA - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA DE MATO GROSSO DO SUL- MS


APROSOJA BR - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SOJA



APROSOJA MT - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA E MILHO DO ESTADO DE MATO GROSSO


CECAFÉ - CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL



CITRUS BR - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS


CROPLIFE BRASIL



FAEP - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ


FAESP - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO



FAMATO - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO MATO GROSSO


FIESP - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO FENSEG - FEDERAÇÃO NACIONAL DE SEGUROS GERAIS


FNS - FÓRUM NACIONAL SUCROENERGÉTICO IBÁ - INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES


OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS



ORPLANA - ORGANIZAÇÃO DE PLANTADORES DE CANA DA REGIÃO CENTRO SUL DO BRASIL


SICREDI - CONFEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO SICREDI



SINDAN - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA SAÚDE ANIMAL


SINDICERV - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CERVEJA



SINDIRAÇÕES - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL


SINDIVEG - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL


SRB - SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA



UNEM - UNIÃO NACIONAL DO ETANOL DE MILHO UNICA - UNIÃO DA INDUSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR


UNIPASTO - ASSOCIAÇÃO PARA O  FOMENTO À  PESQUISA DE MELHORAMENTO DE FORRAGEIRAS


VIVA LÁCTEOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LATICÍNIOS

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Sou de Algodão inaugura nova fase com manifesto que ressalta moda responsável

20 de Março de 2020

Sou de Algodão inaugura nova fase



com manifesto que ressalta moda responsável


Seguir em ação para crescer, florescer e fazer o bem. A ideia que arremata o terceiro manifesto do movimento Sou de Algodão, divulgado nesta sexta-feira (20/03), foi também a razão que levou a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e suas associadas a manter a agenda de lançamento da nova fase da iniciativa, mesmo quando o mundo se vê forçado a mudar os planos, em função da pandemia.


O movimento foi criado em 2016, conclamando toda a cadeia produtiva da matéria-prima para juntos chamar atenção dos consumidores brasileiros para as vantagens do algodão sobre seus concorrentes têxteis, e, assim, aquecer o mercado interno. Ao longo de três anos e meio, contudo, o movimento tem ido além. Ganhou corpo, engajou parceiros dos mais variados segmentos e virou causa. No início, contrapondo natural e sintético. Depois, ressaltando a fibra democrática, inclusiva e sustentável da moda brasileira. Agora, sendo o movimento que cultiva a moda responsável do Brasil. 


Atualmente, mais de 180 marcas integram a iniciativa. Chegar a esse número exigiu um trabalho corpo a corpo, para o esclarecimento, mudança de percepção e adesão, primeiro, dos que pensam e fazem a moda, rumo à preferência do consumidor final. Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor e o segundo maior exportador mundial do produto, e o país é reconhecido tanto pela qualidade da matéria-prima, quanto pela forma sustentável com que a produz, uma vez que os processos produtivos seguem rigorosamente as legislações trabalhista e ambiental brasileiras, consideradas das mais rigorosas do mundo. Além disso, a Abrapa criou o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que, desde 2013, atua em benchmark com a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI), respectivamente, na certificação e licenciamento da pluma produzida em parâmetros sustentáveis, do ponto de vista ambiental, social e econômico.


“Cada roupa feita com algodão conta uma história. Mas essa matéria-prima também faz parte da história das pessoas que trabalham com ela, como a minha família, que dedica a maior parte do tempo ao seu cultivo, na região centro-oeste do Brasil. A pluma está no nosso sangue. Antes de produzirmos, ela já era a nossa preferência para vestir os nossos filhos e para os cuidados de higiene, desde o berço. Hoje vemos eles fazerem o mesmo com os nossos netos”, conta o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, que, junto com a família, literalmente, veste a camisa do movimento num dos 20 vídeos testemunhais do manifesto.


Assim como os Garbugio, diversas pessoas reais, dos vários elos da cadeia produtiva, contam como suas histórias pessoais se “entrelaçam” com a fibra. A engenheira agrônoma e de segurança do trabalho, Bárbara Bonfim, é uma das personagens. Ela trabalha na Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) há cinco anos, na coordenação do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) na Bahia. “Cresci no algodão como pessoa e como profissional. A Abapa foi o meu segundo emprego. Posso dizer que o algodão movimenta a minha vida. O Sou de Algodão é importante para mostrar que a nossa fibra é produzida de forma sustentável, socialmente correta e com qualidade”, afirma.


O manifesto


O que põe você em movimento?

É plantar o que vem da terra? Ou é saber que grandes mudanças só são possíveis quando cultiva a sua origem?

É transformar uma matéria-prima em produto? Ou é acreditar que mãos, mentes e máquinas, juntas, são o motor de novos e bons negócios?

É medir, moldar, cortar, desfilar, escrever e fotografar? Ou é lutar por parcerias e encontros que mostram que moda não é só roupa, é cultura?

É desfilar looks com elegância e sofisticação? Ou é vestir jeans, alfaiataria, vestido de gala e até pijama e sentir-se confortável na sua própria pele?

É experimentar a brisa do amanhecer, testemunhar a tecnologia acontecer numa linha de produção, ouvir o toque toque de um salto na passarela, ou sentir a maciez do cobertor que cobre seus filhos?

A gente ainda não sabe o que te move, nem quer que você escolha apenas uma opção. Mas queremos muito que você siga em ação, afinal, quanto mais você se movimenta, mais o nosso movimento cresce e floresce, sem jamais deixar de fazer o bem.

Sou de Algodão

O movimento que cultiva a moda responsável do Brasil

 

Créditos da produção do manifesto:

 

Direção Criativa e produção executiva: ÀMdC Agência

Fotógrafo: Thiago Bruno

Vídeo: Samuel Alexandre

Beleza: Helder Rodrigues

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22 de março – Dia Mundial da Água

20 de Março de 2020

A marca que um pé deixa sobre a terra fofa ou na areia da praia nos fala de uma presença que talvez nem esteja mais lá, mas imprimiu um rastro, uma pegada. Uma evidência que, mesmo sem palavras, ajuda a reconstituir uma história: a velocidade do passo, o peso do corpo, o instante provável da passagem daquele pé por ali. Não por acaso, o termo "pegada" tem sido usado com frequência nas situações em que se avaliam os impactos, geralmente ambientais, decorrentes da produção de bens de consumo, ao longo de todo o ciclo de vida (ou a história) de um produto. Às vésperas do Dia Mundial da Água, nada mais natural que falar sobre pegada hídrica.



Há exatamente um ano, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) se engajou a uma iniciativa que tinha por meta estimar o quanto de água representa a vida útil de uma calça jeans, desde a lavoura até o nosso guarda-roupas. O desafio foi proposto pelo movimento Ecoera, e encampado pela indústria têxtil Vicunha, junto com a consultoria em sustentabilidade H2O Company e a Iniciativa Verde. A Abrapa e suas estaduais contribuíram com informações sobre o modo de produção nacional da fibra, reconhecido como um dos mais sustentáveis do mundo quanto ao uso da água, já que praticamente toda a produção da matéria-prima utiliza apenas a água da chuva, num modelo conhecido como "sequeiro".



Em outras palavras, na lavoura, na safra considerada no estudo – plantada em 2018 e colhida em 2019 – somente 8% da água, que fez com que as plantas se desenvolvessem e fornecessem a pluma que será transformada na indústria têxtil, vieram de cursos d'água como rios e lençóis freáticos através de sistemas de irrigação. Os demais 92% caíram do céu, pelas graças da natureza do cerrado, bioma que se ajusta certinho às demandas do algodoeiro: chuva no plantio e desenvolvimento, e seca na colheita.



"A água, assim como a terra, são os grandes ativos de um agricultor.  Por isso, a gente tem de cuidar desse patrimônio natural, para garantir que continuaremos na atividade por muito tempo, e os nossos filhos e netos – se quiserem – podem também dar seguimento ao negócio", pondera o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.



Mas, para a surpresa de muitos, do número alcançado ao final do estudo, 5.196 litros por calça jeans, uma significativa parcela do recurso hídrico utilizado – 4.247 litros/calça jeans – cabe aos produtores rurais, mesmo que eles não abram a torneira. Depois de conversar com Claudio Mendonça, sócio-diretor da H2O Company, empresa responsável pela metodologia utilizada na mensuração, essa conta fica fácil de entender.



Verde, azul e cinza


O número final de litros por calça jeans produzida, em si, diz pouco. É preciso analisá-lo por um prisma de três cores: azul, verde e cinza.  São indicadores utilizados na conta, que considera não apenas a quantidade do uso em litros para fazer uma calça jeans, mas a "natureza" desse uso. A água que vem da chuva, a que é captada dos rios, a que volta para os rios pelos esgotos industriais, a evaporada após a chuva na lavoura, aquela que gastamos todas as vezes em que lavamos a peça em nossas casas, dentre outras.


De acordo com o estudo, a pegada da cotonicultura é predominantemente verde. A água da chuva representa 50% na ponderação dos três indicadores. De todas as etapas da produção analisadas – plantio, tecelagem, confecção, lavanderias, consumidor e pós-consumo – esta cor aparece apenas na produção agrícola. "O cultivo com água de chuva, representado pela pegada verde, é um diferencial muito positivo do algodão brasileiro", ressalta Claudio Mendonça.



Não adianta nada tentar comparar o número final (5.196 litros/calça jeans) aos resultados obtidos em outros países. "Cada lugar de produção tem características específicas. O importante é conhecer a necessidade de água na sua própria região, avaliar a disponibilidade do recurso e garantir o uso mais eficiente", adverte Mendonça.



A pegada hídrica verde representa a água de chuva absorvida pelas plantas. A cinza é a água que a natureza precisa dispor para diluir os poluentes do processo produtivo quando ela volta para a natureza. Já a azul é a captada nos cursos d'água, descontando a que é devolvida no mesmo local, ou seja, considera-se a água evaporada ou devolvida em um lugar diferente de onde foi captada. Por exemplo, a chuva ou a irrigação molham a terra. Uma parte do líquido é absorvida e evapotranspirada pelas plantas, voltando para as nuvens em forma de vapor. É aí que contabilizamos a água verde (chuva) e azul (irrigação) do processo agrícola. Já a outra porção da água não absorvida pelas plantas, segue para os rios, através do escoamento superficial ou infiltração pela terra até o lençol freático, que é subterrâneo. Caso a água escoada contenha micropartículas de produtos químicos, como fertilizantes ou defensivos usados na lavoura, mais cedo ou mais tarde, essa água vai chegar aos rios, demandando água cinza para a diluição de eventuais poluentes que chegam até lá.



A questão, segundo Cláudio Mendonça, é que, seja pelo escoamento, conhecido como lixiviação, ou através dos esgotos industriais ou domésticos, esses poluentes vão demandar uma certa quantidade de água para ser diluídos na natureza, o que chamamos de água cinza. E quanto maior for a quantidade de resíduos, mais água será necessária para os rios conseguirem assimilá-los. Numa comparação bem banal, é como o açúcar que se acumula no fundo de uma xicara de café quando a gente exagera um pouco na quantidade. Ele não desaparece, ainda que se mexa muito com a colherinha. O princípio é exatamente o mesmo. Existe um ponto de saturação para diluir elementos na água e, quando é atingido, não há nada que resolva além de mais... água.



Medir para gerir



Conhecer a pegada hídrica, então, tem mais a ver com descobrir o quanto desse recurso natural será necessário para fazer com que uma atividade produtiva permaneça por muitos e muitos anos e, assim, agir de modo a garantir a manutenção desse insumo, que é natural, e cujo uso tem repercussão social e econômica também. Basicamente, é mensurar para melhor administrar.



"O Brasil tem uma condição muito especial em sua localização geográfica que determina um regime de chuvas muito favorável ao algodão, nas áreas onde atualmente ele é plantado, no centro-oeste do país.  Estamos na mesma faixa latitudinal de continentes e países com desertos, como África, Austrália e Chile, e, no entanto, somos ricos em água doce. Isso se deve à influência da Floresta Amazônica e da cordilheira dos Andes, através dos chamados "rios voadores", que direcionam as nuvens da Amazônia para o Centro-Oeste brasileiro. Conhecer a pegada hídrica de uma calça jeans nos ajuda a tomar decisões e a entender a importância da preservação desse sistema", afirma. Mendonça explica que a manutenção da floresta é decisiva para a permanência do regime de chuvas no cerrado, e, consequentemente, para a sustentabilidade da cotonicultura.



Ferramenta



Na pegada hídrica de uma calça jeans, todo mundo faz parte do "pé" que deixa a sua marca. Logo, tem responsabilidade nesse número. Para a fundadora do Movimento Ecoera e consultora de sustentabilidade, Chiara Gadaleta, de nada adianta conhecer a pegada e guardar o número na gaveta. "Essa ferramenta não foi feita para ficar parada. Por isso, criamos a plataforma A Moda Pela Água, na qual a Abrapa e o movimento Sou de Algodão têm destaque, e onde participam diversas empresas que chamamos de Guardiãs da Água. Ela serve para que a gente converse sobre o quanto e o como usamos o recurso, e para que juntos encontremos soluções de forma setorial", explica.



E por que a calça jeans?


 


Segundo Chiara Gadaleta, o clássico e democrático azul venceu a disputa contra a elegância casual da camiseta branca, como a peça querida dos brasileiros. "Fizemos pesquisas e entendemos que ele poderia ser protagonista dessa narrativa, para que pudéssemos começar a falar em pegada hídrica. A gente inaugurou um capítulo sobre o consumo de água na indústria da moda no Brasil, graças ao investimento que a Vicunha fez na metodologia e numa equipe de quatro empresas, que, em dez meses, foi a campo colocar em prática a metodologia da Water Footprint", relata.  "Não dá pra falar de jeans sem tratar de algodão. E o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), programa da Abrapa, implantado por suas associadas, tem atributos muito interessantes e significativos", complementa. Chiara lembra que essa é a primeira vez que se fala de um número nacional de pegada hídrica na calça jeans. "Vivíamos repetindo números de outros países, totalmente descolados da nossa realidade", conclui.



Uma das mais tradicionais indústrias de denim no Brasil, a Vicunha abraçou o projeto, já que conhece de perto os temores de um déficit hídrico. "Com unidades instaladas no Nordeste, a preocupação com o uso responsável da água sempre fez parte da nossa estratégia, que engloba uma ampla plataforma de negócios sustentáveis, pautada pelo compromisso com a gestão de recursos escassos. Ao investirmos


em projetos como a Pegada Hídrica Vicunha, queremos colaborar para a troca de informações e união do setor, com transparência, ética e responsabilidade", afirma Marcel Imaizumi, diretor executivo Operações, Supply Chain e Novos Negócios da Vicunha.

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Mulheres ressignificam o consumo de algodão

06 de Março de 2020

Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) à Markestrat, em 2014, levantou que, do público consumidor de roupas de algodão no Brasil, as mulheres eram, de longe, a menor fatia. O algodão entrava em apenas 21% da composição de suas peças, contra 64% no caso dos homens e 83% na faixa infanto-juvenil. Os números sugerem diversas leituras, desde a opção pela praticidade de vestir roupas que "não amassem", sequem rapidamente ou permitam acompanhar as tendências da moda sem grandes investimentos financeiros, até mesmo a renúncia de algo que poderia ser melhor para si, em favor dos filhos. Uma escolha que vai contra a recomendação dos médicos, que, há muito tempo, afirmam que roupas, sobretudo as íntimas, feitas de algodão são a opção mais saudável para o corpo feminino.



"A região genital feminina, por ser naturalmente úmida, pede cuidados específicos, como o uso de roupas íntimas à base de algodão. Esse material permite a evaporação do suor mais facilmente que os sintéticos, o que dificulta a instalação de algumas infeções como a candidíase, que é muito desconfortável. Sendo natural, o algodão também diminui o risco de alergias. Lembrando que não basta ser de algodão, as peças têm de ser confortáveis também na modelagem", diz a ginecologista Andrea Calmon.



A preocupação com a matéria-prima das roupas e a saúde fala mais alto para as mulheres, quando se trata de produtos para os filhos. Isso explica por que o algodão está presente em mais de 80% das peças de roupas compradas para bebês, crianças e adolescentes.



Um tecido natural, confortável, que permita à pele respirar e seja também amigável ao meio ambiente era o que Raquel S. procurava ao fazer o enxoval do segundo filho.  Pelas suas contas, gastaria em torno de mil reais com fraldas de tecido e ecológicas para o caçula José, com base na experiência pessoal com o mais velho, João. As chamadas de ecológicas são laváveis, feitas de tecido tecnológico por fora com forro de algodão nas partes que entram em contato com a pele do bebê.



"Nos primeiros meses, um bebê gasta de cinco a oito fradas por dia. Considerando uma das não tão caras, que saem por volta de setenta centavos, seriam R$ 3,2 mil em dois anos e meio, tempo médio de desfralde", considera. Contudo, mesmo para a diretora de crescimento de uma startup, as cifras não foram nem de longe a razão da escolha. "Eu ficava aflita, imaginando o tanto de fralda que a gente descarta por dia com uma única criança. Cada uma delas vai demorar uns 400 anos para se degradar na natureza. Ponderei muito sobre praticidade, mas hoje vejo que é muito tranquilo. Além disso é mais saudável para o bebê", avalia.



Para muitas mulheres, entretanto, o algodão tem sido não apenas uma opção de consumo saudável e ecológico, mas uma ferramenta para a realização de sonhos. E a crescente conscientização do mercado para a sustentabilidade – social, ambiental e econômica – tem ajudado, incrementando a demanda no ponto de venda, o que reverbera em toda a cadeia produtiva. Mas nem precisa ser mulher para perceber o quão difícil é encontrar, no dia a dia, roupas em algodão que possam ir além do básico, seja para arrasar no baile ou seduzir.


Heloísa Barbante de Melo (56) e a sócia Lígia Dalla Stella (57) entenderam os sinais dessa tendência e a transformaram em negócio. Elas são donas da marca Alices, especializada em roupa íntima 100% algodão. O nome da empresa não é casual. "Era assim que nossos antigos maridos se referiam a nós por causa do nosso sonho de empreender: as 'Alices'. Para eles, vivíamos no 'país das maravilhas'", relembra. Por um tempo, elas optaram por estar fora do mercado de trabalho para se dedicar à educação dos filhos. "Nunca nos arrependemos. Hoje eles estão muito bem encaminhados, e, em 2017, quando tomamos coragem para empreender, eles nos apoiaram muito.", diz.



Heloísa e Lígia acreditaram no projeto e levaram pelo menos um ano para desenvolver os protótipos. Queriam criar peças bonitas e duráveis, para mulheres confiantes e seguras do próprio corpo. "Acreditamos que faltavam opções de roupas íntimas que unissem o conforto do algodão 100% a modelos bonitos e elegantes. A mulher confiante não busca seduzir. Ela procura conforto e bem-estar. Por isso, optamos por aliar o tecido 100% algodão a rendas e tules de excelente qualidade, somente em áreas como as laterais, que não estão diretamente em contato com as partes mais sensíveis do corpo feminino", explica. A marca é uma das 170 parceiras do movimento Sou de Algodão, da Abrapa, e a comercialização das peças é basicamente virtual, pelo Instagram @alicesroupaintima.


Foram dez anos de dilema até assumir que trocaria os quatro anos de faculdade e outros tantos no mercado, como jornalista, pela sua grande paixão, o crochê. A arte que aprendeu ainda menina com uma tia-avó era sempre a terapia para os momentos de stress da trabalhadora compulsiva. Desde os sete anos de idade, Simone Seara (42) esquecia da vida ou dava vazão às ansiedades entre linhas coloridas de algodão. Ela sempre gostou de inventar pontos novos, criando um estilo todo próprio para as bolsas, carteiras, paninhos e o que mais lhe ocorresse, no momento em que a linha começava a ganhar forma na ponta da agulha. Mas daí até chegar à "Mimo", sua primeira experiência como microempresária, foram muitos pontos e nós.



Quando o primeiro filho, Mathias (6) chegou, após algumas tentativas e muito investimento financeiro e emocional, decidiu parar o trabalho para cuidar dele. Estava quase voltando ao mercado de trabalho, mas descobriu que Cecília (3) estava a caminho, totalmente de surpresa. Dessa vez, sem nenhuma ajuda da ciência. Foi justamente com a pequena, apaixonada por adereços de cabeça como "tiaras", que veio o insight. "Um dia, peguei uma tiara velhinha e resolvi desmanchar para obter apenas o arco e encapá-lo com crochê. Ela adorou", afirma. E criou flores, ursos e mais um sem fim de bichinhos feitos à mão, com a técnica, em 100% algodão. O sonho virou projeto. "Primeiro, precisava testar a aceitação e tinha para isso o 'laboratório' ideal:  o grupo de mães da escola e o das que frequentam as atividades extracurriculares das crianças, como o futebol", conta.



Na propaganda boca a boca, os pedidos foram crescendo e Simone precisou acelerar a produção. Hoje já se prepara para dividir o trabalho. Seu turno começa sempre depois das 20h, após o dia de correrias e obrigações de uma mãe que não conta com o suporte de babás e diaristas. "Durante o dia, aproveito o tempo entre uma atividade e outra deles, e faço as tiaras de crochê até enquanto espero o portão da escola abrir", revela. O trabalho é artesanal e minucioso.  Em média, ela consegue fazer apenas cinco peças ao dia. "É muito menos do que me demandam", calcula.



O dinheiro que ganha ainda não cobre as despesas da casa, mas garante custos como os dos taxis que ela precisa tomar levar as crianças para a escola, as eventuais consultas e muitas atividades.


"Dentro da minha própria família, percebi o preconceito por querer cuidar dos filhos e trocar uma carreira por uma atividade artesanal.  No início me incomodava e respondia aos questionamentos como se devesse satisfação a essas pessoas. Depois que eu comecei a ver a importância que eu tinha na formação dos meus filhos, passei a enxergar meu papel com outros olhos: na verdade sou privilegiada de poder dispor desse tempo. Quanto ao crochê, nunca me senti tão feliz com um trabalho como finalmente me sinto agora", ela diz. Por enquanto, vendas só pessoalmente e pelo instagram @mimosimoneseara.


Empreender, para Amanda Santos (29), não foi uma opção: era a única via para dedicar tempo e garantir renda para a família, quando a maternidade chegou sem ser esperada e com alguns requisitos extras. Era 2013, quando as gêmeas nasceram. Uma delas, com uma condição de saúde que a obrigava a constantes internações, a hidrocefalia. "Via as histórias de empreendedorismo e pensei: dá certo para todo mundo e vai ser assim também comigo". Amanda criou a "Menina Galhofeira", marca de roupas infantis feitas em algodão, que ela vendia em feiras voltadas para as classes A e B. Só que, bem mais que as roupas, quem acabou fazendo sucesso foram as sacolas especiais de algodão cru que ela costurava e personalizava para acondicionar os produtos.



"As clientes falavam em sustentabilidade, em consciência ecológica, e eu não havia mirado naquilo. Onde eu moro, a Zona Leste de São Paulo, isso não era nem uma demanda. Fui pesquisar e me apaixonei pelo tema", diz. Hoje a sustentabilidade, junto com empreendedorismo, maternidade e a possibilidade de inserir a consciência ecológica nas pequenas empresas viraram o manifesto da Ideia Crua, a quinta e exitosa experiência de Amanda no mundo dos negócios. Dessa vez, as estrelas são as "ecobags" personalizadas de algodão cru.



"Ninguém conta para a gente que empreender não é só glamour", desabafa. E quando se trata de empreendedorismo feminino, isso pode ser ainda mais complicado.  "No ramo de estamparia e confecção, as posições de decisão são sempre de homens, e, para eles, eu não sabia o que estava fazendo", lembra. Durante um ano, assumia sozinha todas as etapas da produção. Hoje emprega sete pessoas em um galpão próprio, de 350 metros quadrados. "Fica em frente à escola das minhas filhas, o que facilitou bastante. Consumir produtos e serviços localmente, nos nossos próprios bairros, faz toda a diferença. Estamos sempre juntas", comemora.



Para dar oportunidade a outras pessoas da comunidade, Amanda está lançando o projeto Guilda, que vai ensiná-las a trabalhar com máquinas industriais de confecção. A ideia por trás do projeto ainda nem era um conceito nas associações de artesãos da Idade Média que inspiraram o nome da iniciativa social. Mas, como aquelas, seu objetivo é "empoderar" pessoas com interesses comuns, dando a elas mais chances e oportunidades contra o desemprego e outras vulnerabilidades. "Assim, podem ter uma renda extra e ainda estar prontos para quando eventualmente precisarmos expandir a empresa", explica. Se ela dá preferência às mulheres nesses treinamentos e nas contrações? "Não é preciso. Basicamente, as mulheres são a realidade. É com elas que trabalho", finaliza.


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