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Adesão ao Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) cresceu na safra 2023/2024

30 de Janeiro de 2025

O Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), iniciativa voltada à sustentabilidade do algodão do Brasil, promovida pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), chegou a 451 unidades produtivas, com volume de 3,04 milhões de toneladas de algodão certificado, na safra 2023/2024. Isso significa que o programa está presente em 83% da produção nacional. Em relação ao ciclo anterior, quando registrou 374 fazendas e 2,67 milhões de toneladas, foram 20,6% a mais no número de adesões, com incremento de 14% na produção certificada.


Para o presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, esses avanços destacam o compromisso dos produtores com melhores práticas nas dimensões social, ambiental e econômica, reforçando o protagonismo do Brasil no mercado global de algodão responsável.


"Após mais de dez anos de atuação, o ABR se consolida como um pilar fundamental para a promoção de uma produção responsável e sustentável de algodão no Brasil, sendo um catalisador de transformação no setor. O programa incentiva práticas agrícolas que respeitam as leis ambientais e trabalhistas brasileiras, promovendo a melhoria contínua nas propriedades rurais", afirma.


Criado em 2012, o ABR visa a padronizar e promover o aperfeiçoamento constante na gestão de recursos naturais, condições de trabalho e técnicas de cultivo nas fazendas de algodão. Com adesão voluntária, o programa atesta a conformidade com normas trabalhistas e ambientais brasileiras, além de critérios internacionais, em parceria com a Better Cotton (BC), uma das principais licenciadoras de sustentabilidade do mundo.


Fazendas em sete estados brasileiros participaram do programa na última safra, contribuindo de forma significativa para o avanço da sustentabilidade no setor. Mato Grosso, com 284 unidades produtivas, liderou a produção certificada, com 2.125.910 toneladas, seguido pela Bahia (641.555 toneladas) e Maranhão (55.682 toneladas). Além disso, as fazendas ABR geraram mais de 41 mil empregos diretos, incluindo 4.891 vagas para mulheres.


Visibilidade Internacional


De acordo com o último relatório publicado, o Brasil é responsável por 48% da produção mundial licenciada pela Better Cotton, destacando-se como referência em produção responsável. De todo algodão licenciado pela BC no mundo, mais de um terço foi cultivado em fazendas brasileiras.


Nos quatro municípios brasileiros com maior produção de algodão ABR, a população dobrou nos últimos 20 anos, refletindo em uma melhoria significativa na qualidade de vida. De acordo com o índice Firjan, a qualidade de vida desses municípios supera em 16,8% a média brasileira do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nos últimos dez anos, o IDH nessas cidades cresceu 0,5% acima da média nacional. Outro diferencial do programa é o baixo consumo de água: apenas 7% da área plantada no Brasil utilizou irrigação na última safra, um índice bem abaixo da média global de 45%.


Para o presidente da Abrapa, alavancar a produção com práticas sustentáveis, inovação e governança é essencial para manter o Brasil como líder em longo prazo no mercado global de algodão e fortalecer sua presença no cenário internacional. "Programas como o ABR fornecem diretrizes abrangentes e completas para a produção de fibra dentro de parâmetros responsáveis", conclui.


Leia o relatório completo: https://abrapa.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Relatorio-da-safra-2023-2024-ABR.pdf 

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SouABR encerra 2024 com mais de 190 mil peças rastreáveis

Programa de rastreabilidade da Abrapa fortalece a transparência na cadeia têxtil, amplia parcerias com grandes marcas e impulsiona a conexão entre campo e consumidor

29 de Janeiro de 2025

O SouABR, primeiro programa de rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia têxtil, encerrou 2024 com resultados expressivos: mais de 190 mil peças finais rastreáveis, distribuídas por marcas como Almagrino, C&A, Calvin Klein, Döhler e Veste S.A. A iniciativa, promovida pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) por meio do movimento Sou de Algodão, conta com a participação de 79 produtores e 99 fazendas, que disponibilizaram informações sobre mais de 41 mil fardos de algodão rastreados, ao longo do ano.

O trabalho e esforço para entregar a rastreabilidade ao consumidor final foram reconhecidos ao ganhar o primeiro lugar no Prêmio AMCHAM 2024, um dos mais renomados reconhecimentos à inovação sustentável no Brasil. As peças jeans lançadas pela C&A, em fevereiro do mesmo ano, foram um dos destaques da premiação, que é promovida há mais de 40 anos pela AMCHAM – Câmara Americana de Comércio - e destaca práticas empresariais que impulsionam uma economia mais responsável e inovadora. A coleção vencedora contou com o blend de 53.460kg de algodão produzidos em cinco fazendas brasileiras, certificadas pelo programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), 2.207,23 kg de fio e 3.713,40 m de tecidos da Santana Textiles, que, após o trabalho da confecção Emphasis, resultaram em 2.500 calças jeans rastreadas.

“O SouABR atingiu importantes marcos em 2024, como o lançamento das primeiras toalhas rastreáveis do Brasil, em parceria com a Döhler, e a adesão de grandes varejistas, como Calvin Klein e Veste S.A., dona de marcas como Dudalina e Individual. Esses avanços reforçam nosso compromisso com a rastreabilidade e a responsabilidade, conectando o campo ao consumidor final”, destaca Gustavo Piccoli, presidente da Abrapa.

O programa também registrou resultados significativos em outros segmentos da cadeia produtiva, alcançando mais de 1,75 milhão de quilos de fios, 160 mil metros de tecidos, 135 mil quilos de malhas e 205 mil peças confeccionadas.

Alexandre Afrange, CEO da Veste S.A., ressalta a importância da iniciativa para a moda brasileira: “A rastreabilidade completa das peças não apenas conecta o consumidor à história por trás de cada produto, mas também eleva os padrões de sustentabilidade e ética na indústria da moda. Começamos o projeto com 80 mil peças rastreáveis e nosso objetivo é expandir cada vez mais essa iniciativa para os demais produtos que utilizam a fibra de algodão como principal matéria-prima. Não se trata apenas de inovação tecnológica, mas de um movimento maior de transformação do setor.”

Pedro Sávio, sócio-fundador da Almagrino, destaca o SouABR como uma referência global em responsabilidade e moda consciente: “Por meio dessa iniciativa, demonstramos ao mercado consumidor nosso comprometimento com os mais altos padrões socioambientais. Na Almagrino, sentimos muito orgulho em fazer parte desse projeto e contribuir ativamente para o desenvolvimento de novos produtos e melhorias no processo de rastreabilidade.”

"Estamos muito satisfeitos com o resultado, repercussão e adesão do mercado a nossa toalha de algodão rastreável. Um projeto como esse não apenas garante a origem responsável do algodão, mas reforça nossa transparência com o consumidor que vai poder conhecer desde a fazenda em que o algodão foi colhido, passando pela fiação, tecelagem até a confecção final da peça.  A gente busca, sobretudo, um futuro mais sustentável”, destaca Marco Aurélio Braga, head de Comunicação e Marketing da Döhler.

Os resultados expressivos do SouABR em 2024 reforçam a importância da rastreabilidade na indústria têxtil, conectando consumidores à origem dos produtos e promovendo práticas mais sustentáveis e transparentes. “Com a adesão de grandes marcas e o reconhecimento em premiações de inovação, o programa segue impulsionando a transformação do setor, elevando os padrões de responsabilidade socioambiental e consolidando o Brasil como referência global em moda consciente”, finaliza Piccoli.



Para acessar o relatório completo do programa SouBR 2024, clique no link: https://abrapa.com.br/wp-content/uploads/2025/01/Relatorio-SouABR-2024.pdf 

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IPA realiza primeira reunião de 2025 sob nova gestão, com balanço de resultados e expectativas para o futuro

29 de Janeiro de 2025

Em 28 de janeiro, o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) realizou sua primeira reunião de 2025, marcando o início da gestão da nova presidente, Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB, eleita para liderar o instituto no biênio 2025-2027. O encontro híbrido realizado, em Brasília, reuniu representantes de diversas entidades do setor agropecuário, incluindo Marcio Portocarrero, representante da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), e apresentou o relatório anual de 2024, destacando avanços e metas para o próximo ano.


Sob a nova gestão, o IPA reforçou seu compromisso com a defesa do agronegócio brasileiro e apresentou conquistas importantes do ano anterior. Entre os destaques, está a aprovação da Lei dos Bioinsumos (15.070/2024), que regulamenta e incentiva a produção de insumos biológicos no Brasil, promovendo práticas sustentáveis. Também foi enfatizada a atuação no programa de Socorro ao Rio Grande do Sul, que implementou medidas emergenciais para apoiar produtores afetados pela seca, como renegociação de dívidas rurais e suspensão temporária de pagamentos.


Outro marco relevante foi a aprovação da Reforma Tributária (Lei Complementar nº 214/2025), que incluiu demandas estratégicas do setor, como a regulamentação da cesta básica e incentivos fiscais para a cadeia produtiva do agro.


Na esfera institucional, o relatório destacou números expressivos. Das 8.014 votações realizadas na Câmara dos Deputados, 84,9% foram favoráveis à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). No Senado Federal, dos 205 projetos de interesse pautados, 97 foram aprovados. A equipe técnica do IPA intensificou suas atividades em 2024, orientando 548 comissões, um aumento significativo em comparação às 81 orientações de 2023. Além disso, o instituto participou de 122 reuniões de comissões e apresentou 177 emendas, das quais 84 foram voltadas para a regulamentação da reforma tributária.


Portocarrero ressaltou os impactos positivos dessa articulação. "A parceria entre o IPA, a FPA e as entidades representativas, tem sido essencial para garantir conquistas importantes para o setor agropecuário. Em 2025, continuaremos trabalhando para enfrentar os desafios e fortalecer o protagonismo do agro brasileiro”, declarou.


A reunião reafirmou o papel do IPA como líder nos debates e soluções para os desafios do setor agropecuário, apontando para um ano de intensas atividades e novas conquistas.


Sobre o IPA


O Instituto Pensar Agropecuária é uma organização voltada para a articulação de políticas públicas e iniciativas estratégicas que promovam o desenvolvimento sustentável do agronegócio.


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Sai a soja e entra o algodão em Mato Grosso

27 de Janeiro de 2025

O plantio de algodão em Mato Grosso, previsto para ser concluído até o final de janeiro, deverá se estender por boa parte de fevereiro devido ao atraso na safra de soja. Na reportagem do Globo Rural, são destacados os desafios da safra 2024/2025 no estado, que é o maior produtor de algodão do Brasil. O presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, comenta as expectativas dos produtores em garantir qualidade e produtividade, essenciais para atender à demanda global e manter o algodão brasileiro como referência no mercado internacional. Confira a reportagem no link: https://globoplay.globo.com/v/13286936/ 

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A partir da rastreabilidade das peças, Veste quer aumentar a ética na indústria da moda

As marcas Dudalina e Individual contarão com novas coleções com 80 mil peças rastreáveis, mas a expectativa é expandir para demais produtos de algodão

27 de Janeiro de 2025

Veste, dona das marcas Dudalina e Individual, acaba de apresentar suas primeiras coleções com peças rastreáveis. A novidade, divulgada com exclusividade à EXAME, permite que os clientes conheçam toda a jornada do produto a partir da leitura de QR Codes, que ilustram desde o cultivo do algodão até a confecção das peças.


O objetivo é que os consumidores possam conhecer mais do histórico da responsabilidade socioambiental das vestimentas, promovendo maior transparência e consumo consciente sobre as condições na cadeia produtiva.


A estratégia parte da adesão da Veste ao movimento Sou de Algodão. A iniciativa garante que peça com 70% de algodão em sua composição e provem de origens certificadas e responsáveis sejam registradas em blockchain, possibilitando que o compromisso com o meio ambiente e os trabalhadores seja mantido na produção.


O CEO da Veste S/A, Alexandre Afrange, contou que a ação ajuda a aumentar os padrões de sustentabilidade e ética na indústria. “Começamos o projeto com 80 mil peças rastreáveis e nosso objetivo é expandir cada vez mais essa iniciativa para os demais produtos que utilizam a fibra de algodão como a principal matéria-prima”, disse.


"A adesão de mais marcas reforça o compromisso do setor com a transparência e a sustentabilidade, permitindo que mais consumidores conheçam a jornada do algodão brasileiro, desde o campo até a peça final", afirma Gustavo Piccoli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Segundo ele, a iniciativa valoriza o trabalho dos produtores, além de promover uma conexão mais consciente entre quem produz e quem consome.


Sustentabilidade na moda


Além o rastreamento dos produtos, a Veste ainda conta com metas globais de sustentabilidade, como sua adesão ao The Fashion Pact em 2022. "Somos o único membro da América Latina nessa coalizão global, que busca proteger o clima, a biodiversidade e os oceanos", explica o CEO da companhia.


Segundo Afrange, a empresa pretende submeter suas metas de redução de emissões à Science Based Targets Initiative até 2025, além de integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 até 2030. "Essa iniciativa não é apenas inovação tecnológica, mas parte de uma transformação maior no setor", reforça o executivo.

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Brasil vai produzir mais algodão em 2025, diz presidente da Abrapa

Para Gustavo Piccoli, da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, os desafios da produção devem passar pelos preços e logística; confira

14 de Janeiro de 2025

O Brasil se tornou o maior exportador mundial de algodão em 2024, o que significou um ano para a fibra brilhar não somente nas passarelas do São Paulo Fashion Week, promovido pelo movimento Sou de Algodão, como ocorreu em novembro, mas no mundo. Os créditos para o feito são do investimento em tecnologia na cadeia e na sustentabilidade: 82% do algodão possuem certificação socioambiental Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e licenciamento Better Cotton, e 100% da produção é rastreada.


No ano passado, o Brasil faturou US$ 5,2 bilhões (R$ 31,8 bilhões na cotação atual) com as exportações de 2,8 milhões de toneladas de algodão não cardado e não penteado. Os principais mercados importadores da fibra foram China (US$ 1,7 bilhão ou R$ 10,4 bilhões), Vietnã (US$ 1 bilhão ou R$ 6 bilhões), Bangladesh (US$ 604,4 milhões ou R$ 3,7 bilhões), Paquistão (US$ 519,9 milhões ou R$ 3,1 bilhões) e Turquia (US$ 460,9 milhões ou R$ 2,8 bilhões).


Em entrevista à Forbes Agro, Gustavo Piccoli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), comemorou o resultado do ano e contou o que espera para 2025.


Quais as suas perspectivas para a produção de algodão em 2025


A Abrapa prevê um aumento de aproximadamente 5,8% no volume de algodão a ser produzido em 2025, devendo saltar de 3,69 milhões de toneladas, no ciclo anterior, para 3,91 milhões de toneladas, no próximo. A área destinada ao cultivo também deverá crescer, alcançando 2,12 milhões de hectares, o que representa um incremento de 6,6%.


Embora ainda seja cedo para determinar a produtividade exata, as projeções iniciais da Abrapa e suas associações estaduais indicam que esta será discretamente inferior (-0,7%) à registrada na safra 2023/24, quando o país colheu aproximadamente 1.844 kg de algodão por hectare.


Quais devem ser as tendências com relação à sustentabilidade e inovação tecnológica na cadeia?


O Algodão Brasileiro Responsável (ABR) é o programa de sustentabilidade da Abrapa, consolidado no Brasil e cada vez mais conhecido e respeitado no mercado global. Na safra 2023/24, 82% do volume de algodão brasileiro foi produzido em fazendas auditadas e aprovadas pelo programa.


Uma novidade promissora para este ano é parceria da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Bayer, que lançou um projeto pioneiro para desenvolver perfis ambientais e calcular as pegadas de carbono do algodão em caroço, pluma e óleo, abrangendo as principais regiões produtoras do Brasil.


Com duração de 24 meses, o projeto busca estabelecer uma referência nacional, e referências regionais para diferentes modelos de produção para a pegada de carbono do algodão brasileiro, utilizando dados primários de cotonicultores e metodologias reconhecidas internacionalmente, como a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).


Sobre inovação tecnológica, com ênfase na sustentabilidade, pretendemos dar continuidade às ações do projeto SouABR, uma experiência pioneira na indústria têxtil nacional, de rastreabilidade total de uma coleção, desde a semente até o guarda-roupa, através da tecnologia de blockchain.


O projeto piloto do SouABR foi implantado em 2021, em parceria com a varejista de roupas masculinas Reserva. Em 2022, com a maior loja de departamentos nacional, a Renner, foi criada uma coleção feminina. O consumidor lá na loja, com o próprio celular, abre o QR Code e pode saber tudo sobre de onde veio aquela peça, a localização exata da fazenda, a foto do produtor, onde foi beneficiado, onde foi feito o tecido, quem confeccionou. Isso está totalmente em linha com a agenda mundial. Agora muitas outras marcas estão se habilitando a participar.


Quais são os desafios que a cultura deve enfrentar em 2025?


Infelizmente, o baixo preço da fibra, que achata as margens dos produtores. Os preços em NY, que estavam perto dos USDc 85/lb (centavos de dólar por libra) no começo de 2024, atualmente, são negociados abaixo de USDc 70/lb. Uma outra questão é que estamos produzindo mais, e naturalmente, exportando mais, também, já que a indústria têxtil nacional consome cerca de 700 mil toneladas de algodão, e nós produzimos quase quatro milhões de toneladas.


Isso aumenta a pressão sobre o porto de Santos, que concentra quase 100% dos embarques. É preciso rever este modelo e investir em alternativas. Já estamos vendo resultados interessantes com a entrada do Porto de Salvador nas exportações de algodão. É importante lembrar que isso não depende apenas da decisão do produtor ou mesmo do governo. É preciso um movimento de mercado, para garantir rotas marítimas constantes partindo desses portos alternativos, o que tem a ver também com o movimento e disponibilidade de contêineres. É complexo, leva tempo, mas precisa acontecer.


Um desafio global ao algodão é a alta competitividade das fibras sintéticas fósseis, na matriz têxtil, que dificultam o aumento da demanda do algodão em um contexto global. Isso tem sido tema central nas discussões em todo o mundo. Fazer o algodão voltar a ser a fibra preferida dos consumidores passa por uma mudança de mentalidade. O algodão é uma fibra milenar, mas, ao mesmo tempo, absolutamente em dia com as pautas da contemporaneidade. É natural, biodegradável, reciclável, sustentável, mais saudável, e vem perdendo participação de mercado para um produto feito à base de petróleo, poluente, gerador de microplásticos. Precisamos investir em conscientização do consumidor.


Quais são as expectativas para as exportações?


De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), para a safra 2024/25, as projeções indicam exportações na faixa de 2,8 milhões de toneladas, consolidando o país como o maior exportador mundial de algodão.


O foco é aumentar a participação em países que já compram algodão brasileiro. O Egito foi um mercado de destaque recente. Reconhecido por ser um algodão de algodão de qualidade, o país abriu as importações para o algodão brasileiro apenas no início de 2023. No período comercial 2023/24 o Egito foi o nono maior importador do algodão brasileiro e continua aumentando as importações em 2024/25.

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Relatório de Qualidade do Algodão Brasileiro – safra 2023/24 (dezembro)

07 de Janeiro de 2025

Ainda leva um tempinho para concluir a etapa de análise por HVI do algodão brasileiro da safra 2023/2024, que hoje está em 95%. Mas o que já se percebe é que a qualidade tem se mantido estável, com incremento num índice muito importante, que é o relativo às fibras curtas, uma das principais demandas da indústria de fiação global para a fibra nacional. Alguns pontos de melhoria já podem ficar no radar para a safra que vem, como os índices de pegajosidade e de contaminação, que dependem em grande parte da decisão do produtor por variedade e estratégia de manejo. Acompanhe em detalhes a performance do algodão brasileiro na safra 2023/2024, no Relatório de Qualidade da Abrapa de janeiro. Clique no link e confira!

https://abrapa.com.br/wp-content/uploads/2025/01/JOB-012025-Relatorio-de-Estatistica-da-Qualidade-do-Algodao-Brasileiro-.pdf 

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Brasil ultrapassa EUA e já é maior exportador de algodão do mundo

China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão são mercados principais

07 de Janeiro de 2025

Por Marcello Antunes da Silva, repórter da Agência Brasil - O desempenho da safra 2023/2024 de algodão, com a colheita de mais de 3,7 milhões de toneladas, elevou o Brasil ao posto de maior produtor do mundo. O país também se tornou, oficialmente, e pela primeira vez na história, o maior exportador de algodão do mundo, superando os Estados Unidos.


O anúncio foi feito neste fim de semana em Comandatuba, na Bahia, durante a 75ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e seu Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na conferência Anea Cotton Dinner, promovida pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). A meta era prevista para ser alcançada somente em 2030.


A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) comemorou o resultado da safra atual, com 60% da produção totalmente comercializada.


“A liderança no fornecimento mundial da pluma é um marco histórico, mas não é uma meta em si, e não era prevista para tão cedo. Antes disso, trabalhamos continuadamente para aperfeiçoar nossos processos, incrementando cada dia mais a nossa qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade, e, consequentemente, a eficiência”, ressaltou o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel. A meta era prevista para ser alcançada somente em 2030.


Guinada - O presidente da Anea, Miguel Faus, lembrou que há cerca de duas décadas o Brasil era o segundo maior importador mundial.


“Essa guinada se deve a muito trabalho e investimento na reconfiguração total da atividade, com pesquisa, desenvolvimento científico, profissionalismo e união. É um marco que nos enche de orgulho como produtores e como cidadãos”, afirmou.


A Abrapa atribui o bom desempenho dos produtores à interligação entre produtores e a indústria têxtil brasileira. Apesar de sofrer forte concorrência externa, o consumo de fios e de algodão deve subir de 750 mil toneladas para 1 milhão de toneladas por ano.


A própria associação criou uma rede chamada Sou de Algodão, onde produtores de roupas, universidades de moda, pesquisadores e produtores de algodão caminham juntos para desenvolver qualidade aos produtos finais. Cerca de 84% do algodão produzido no Brasil detém certificações socioambientais.


As exportações brasileiras se recuperaram também pela maior demanda de países como Paquistão e Bangladesh, que no ciclo anterior compraram menos devido a dificuldades financeiras para abrir cartas de créditos. Essa retomada colaborou para que as expectativas fossem superadas. "A gente achava que iria exportar inicialmente 2,4 milhões, 2,45 milhões de toneladas."


Entre os principais mercados do algodão brasileiro estão China, Vietnã, Bangladesh, Turquia e Paquistão.


Penas de aves - Na última semana, o governo brasileiro recebeu o anúncio, pela Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong, China, da aprovação sanitária para a exportação de penas de aves do Brasil. O produto tem diversos usos industriais, incluindo a fabricação de almofadas, travesseiros, roupas de cama e estofados, além de ser utilizado como matéria-prima em produtos de isolamento térmico e acústico.


A abertura amplia o mercado para produtos avícolas do Brasil, refletindo a confiança no sistema de controle sanitário brasileiro. A relação comercial com a RAE de Hong Kong foi responsável pela importação de mais de US$ 1,15 bilhão em produtos do agronegócio brasileiro no ano passado. Com este anúncio, o agronegócio brasileiro alcança sua 72ª abertura de mercado neste ano, totalizando 150 aberturas desde o início de 2023.


Novo consulado na China - Na última quinta-feira (27), o Brasil abriu seu terceiro consulado-geral na parte continental da China, em Chengdu, capital da Província de Sichuan, no sudoeste do país. Com seu distrito consular abrangendo Sichuan, Chongqing, Guizhou, Yunnan e Shaanxi, o consulado-geral é estabelecido depois dos em Shanghai e Guangzhou. Cézar Amaral tornou-se o primeiro cônsul-geral do Brasil em Chengdu. Como este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil, a abertura do consulado-geral é uma sinalização do aprofundamento da cooperação entre os dois países, segundo Marcos Galvão, embaixador brasileiro na China.

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Mais eficiente e produtivo, algodão brasileiro pode bater nesta safra a meta de 2030

Para manter o ritmo de crescimento, setor tem o desafio de ampliar mercados, estimular o consumo doméstico e baixar o custo no campo

07 de Janeiro de 2025

Originário de regiões quentes e secas, o algodão é daquelas culturas que se adaptaram muito bem ao clima brasileiro. As 3,6 milhões de toneladas da pluma colhidas na safra 2023/2024 em 1,9 milhão de hectares, comprovam o sucesso da planta, cultivada principalmente no Centro-Oeste do pais.


Alem do clima favorável, os investimentos em tecnologia e a melhora dos tratos culturais são elementos que compõem essa receita de alta produtividade.


"Nos últimos 25 anos, a retomada aconteceu graças ao desenvolvimento de variedades melhor adaptadas ao clima brasileiro. O aumento do uso de insumos biológicos também contribui para esse crescimento", avalia o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero.


O resultado é que o setor deve atingir já na próxima safra a meta estabelecida para 2030 e produzir 4 milhões de toneladas da pluma. A area plantada também deve ser 6% maior na temporada 2024/2025 e alcançar 2,1 milhões de hectares.


A boa rentabilidade da cultura e um dos fatores que devem influenciar nesse aumento de área. "Está melhor que o milho, fazendo com que muitos produtores acabem optando por plantar algodão ao invés do grão", explica o analista de inteligência de mercado do Itaú BBA, Francisco Carlos Queiroz.


Atualmente, o Brasil é o maior exportador do mundo, deixando para trás players tradicionais como os Estados Unidos. A quebra da safra norte-americana por conta das oscilações climáticas acabaram por favorecer o Brasil, que tomou a dianteira também na produção.


"A recuperação da safra americana veio tarde e ficou aquém do esperado. No Texas, principal estado produtor, muitas áreas foram abandonadas", explica Queiroz.


Para os próximos anos, mais do que ampliar a produtividade, o setor tem outros desafios: ampliar a demanda e equilibrar os custos.


"Nos últimos anos sofremos com o aumento da concorrência da fibra sintética e por isso ampliar a demanda pela fibra natural se faz necessário para continuarmos a crescer na produção e nas exportações", avalia Portocarrero.


Um aspecto favorável ao algodão esta na mudança de percepção dos consumidores, especialmente no mercado europeu, cada vez mais preocupados com o impacto do consumo e optado por produtos que priorizem a produção sustentável e a economia circular.


"Nesse quesito estamos prontos, pois atendemos a todos os critérios do mercado, produzindo com sustentabilidade, com respeito às normas e ainda temos um produto natural que pode ser reaproveitado de diversas maneiras, com uma longa vida útil" detalha o executivo.


Oferta e demanda alinhadas


A estratégia para ampliar a demanda pelo algodão brasileiro passa pela abertura de novos mercados. Segundo Portocarrero, a demanda global por algodão está estável há anos entre 24 e 26 milhões de toneladas. Na safra 2023/2024, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas.


Com isso, os preços ao longo do ano oscilaram com tendència de queda, inclusive no mercado doméstico.


"Além da relação entre oferta e demanda, a cotação do petróleo também influencia os preços da fibra natural, uma vez que as fibras sintéticas são o principal concorrente", explica Queiroz.


Portocarrero explica que o setor tem condições de chegar a 5 milhões de toneladas produzidas até 2030, mas que esse estimulo à produção só será feito caso a demanda cresça proporcionalmente.


"Não faz sentido ampliarmos a produção se o mercado consumidor não acompanhar esse ritmo", pondera.


Entre os mercados consumidores do algodão brasileiro estão a China, Vietnä, Egito e Bangladesh. Somente os chineses compram cerca de 49% do produto brasileiro.


Para a safra 2024/2025, a estimativa do Itaú BBA é que o pais compre 2 milhões de toneladas, volume 33% inferior as 3 milhões de toneladas da temporada 2023/2024. "Isso se deve principalmente à retomada da produção chinesa", analisa Queiroz.


A İndia também faz parte da lista, com relevância cada vez maior, já que o volume adquirido do Brasil saltou de 8 mil toneladas para 70 mil toneladas em apenas um ano. "É um indicativo de que eles reconhecem a qualidade do nosso produto", avalia Portocarrero.


Outro aspecto que pode turbinar a demanda pelo algodão brasileiro já no próximo ano é a tendência de que Donald Trump, presidente eleito nos Estados Unidos, faça um governo ainda mais protecionista em seu segundo mandato, impondo tarifas à importação.


"Com isso, pode ser que eles fechem o mercado para os têxteis indianos, que, em retaliação, podem ir buscar plumas de algodão em outros mercados, principalmente no Brasil", pondera Portocarrero.


Mercado doméstico


O executivo explica que há perspectiva de aumento da demanda também no mercado doméstico, já que o consumo brasileiro de algodão tem se mantido estável na casa das 700 mil toneladas.


"Podemos chegar a 1 milhão de toneladas já em 2030", calcula.


Para tanto, ele considera que ações de engajamento e conscientização sobre a cadeia do algodão e os beneficios da fibra para a saúde e para o meio ambiente são fundamentais, "Também precisamos de uma politica de estimulo aos produtos nacionais e de um cenário onde haja aumento do poder aquisitivo e melhora da taxa de juros".


Como exemplo, ele cita o projeto Sou de Algodão, iniciativa da Abrapa junto à indústria têxtil, designers e estilistas, chegando até os consumidores, levando informação sobre o setor.


Atualmente mais de 1,7 mil marcas participam da iniciativa, com o compromisso de utilizar pelo menos 70% de algodão na composição de seus produtos.


"Temos um mercado de 220 milhões de consumidores, nosso desafio é educá-los sobre as vantagens do consumo da fibra natural para a saúde e para o meio ambiente", afirma.


Além do aumento da produção no campo, ele considera fundamental a modernização do parque textil brasileiro, ja bastante defasado.


A perspectiva é de que as indústrias tenham mais crédito disponível para investir em renovação de equipamentos, já que em setembro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assinou o decreto que institui o programa de depreciação acelerada.


O programa define as 23 atividades económicas - incluindo a indústria tèxtil que serão beneficiadas com créditos financeiros para a modernização do parque industrial. A primeira etapa prevê a liberação de R$ 3,4 bilhões para aquisição de máquinas e equipamentos até 2025,


Controle do custo


Os investimentos no uso de defensivos biológicos nos últimos anos estão contribuindo para a melhora da produtividade e competitividade do algodão.


A titulo de comparação, enquanto a produtividade média por hectare nas fazendas brasileiras e de 1.900 quilos, nos Estados Unidos, segundo maior produtor, essa média é de 950 quilos.


"Nosso desafio é seguir produzindo algodão de alta qualidade e manter a produtividade alta, reduzindo os custos, para que a conta feche", pondera Portocarrero.


Na opinião do executivo, para que isso aconteça, será fundamental um programa de atração de investimentos para a produção de defensivos e moléculas no mercado brasileiro, além da desburocratização do processo de aprovação de moléculas mais modernas e eficazes para o uso no país. "Estamos em média oito anos atrás de outros países na oferta de moléculas".


Ele considera a lei de defensivos, aprovada em 2023, fundamental para destravar a fila e contribuir para que o Brasil de o próximo passo rumo ao aumento da eficiência agricola. "Ter a produção local também contribuiria para a diminuição dos custos".


A aprovação da Reforma Tributária pela Câmara, no último dia 17 de dezembro, é outro elemento que deve contribuir para melhorar a competitividade do setor, na visão do executivo.


"É o ponto de reconhecimento do congresso sobre a importância do agrawegócio para o Brasil e demonstra a preocupação em contribuir para que sejamos cada vez mais eficientes e competitivos".

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Especialistas veem 2025 como 'ano da diplomacia agrícola'

Por que a política internacional e a agenda de meio ambiente devem ganhar ainda mais peso na pauta comercial do agronegócio brasileiro

07 de Janeiro de 2025

Renata Ferguson, grande produtora de soja e milho em Rio Verde (GO), acompanha de perto as novidades sobre as negociações do comércio exterior brasileiro.Para ela, os acordos internacionais definem o futuro de seu negócio, já que grande parte do que ela colhe segue para exportação. Em contraste, o jovem Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP) e abastece a Ceasa da capital paulista, afirma não dar muita atenção às discussões sobre o comércio global. “Eu não exporto, então isso não me afeta”, diz, para em seguida questionar: “Será que eu deveria?”


Essa diferença de abordagens expõe de maneira didática o crescente debate sobre a influência da diplomacia agrícola e das regras do comércio internacional sobre as atividades de produtores rurais brasileiros de diferentes escalas. Para especialistas ouvidos pela Globo Rural, essas discussões serão uma das grandes tendências de 2025, quando devem sair da porteira e se alastrar por outras esferas da sociedade.


Renata oferece treinamento a seus funcionários para que eles intensifiquem a adoção de práticas sustentáveis e, em outra frente, negocia com muitas empresas internacionais, das quais colhe ideias que mais tarde vão enriquecer a gestão da lavoura. A quase quilômetros dali, Natã não adota as mesmas práticas, mas precisa cumprir uma série de exigências para selecionar e armazenar o chuchu que colhe, além de manter o QR code de rastreabilidade para entregar a produção às centrais de abastecimento.


Embora as características do trabalho dos dois agricultores sejam muito distintas entre si, ambos seguem rígidas regras de comercialização e, assim, cumprem tarefas que integram o conceito de diplomacia agrícola. Segundo Carol Pavese, professora de relações internacionais da Faculdade Belas Artes, o termo abrange tanto regras do comércio internacional e de abertura de mercados quanto diretrizes de segurança alimentar e manejo sustentável, independentemente do tamanho da área de cultivo.


“A diplomacia agrícola é uma estratégia de relações internacionais para promover o agronegócio de um país no cenário global, consolidando mercados, negociando barreiras comerciais e fortalecendo a presença de seus produtos em regiões estratégicas. Ela envolve ações coordenadas entre governos, setor privado e organizações internacionais para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do setor”, detalha a professora.


Novo espírito do tempo
Especialistas concordam que as regras do comércio internacional vão pautar ainda mais as reuniões de cooperativas, associações e entidades públicas do setor. Como parte desse novo espírito do tempo, desde 2023 o governo federal tem ampliado o número de adidos agrícolas, que atuam como representantes do Brasil em países parceiros; hoje, há 40 em ação. E, no campo, os produtores correm para ajustar suas práticas para, com isso, não perderem espaço (nem dinheiro). Há consenso de que o Brasil terá um papel diplomático de destaque, sendo o líder do Mercosul na defesa da agropecuária.


Ao mesmo tempo, grandes exportadores e empresas de comercialização de commodities investem em tecnologias de rastreabilidade, automação e certificações. Já nas propriedades, a maioria dos pequenos e médios produtores dá prioridade a questões como crédito e recuperação financeira após um ano de muitos problemas climáticos.


"Não temos tempo para pensar nisso. Precisamos plantar, colher e vender"
— Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP)


Quem exporta precisa lidar com um cenário de crescente protecionismo. Desde 1962, com a criação da Política Agrícola Comum da França, os países têm adotado medidas restritivas para proteger seus mercados. O professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, observa que o Brasil tem respondido a essas barreiras com a criação de um arcabouço legal para retaliações formais, buscando defender interesses nacionais e manter sua posição estratégica no mercado global. Jank destaca que a resposta brasileira vai além da defesa comercial.


"Estamos consolidando padrões que promovem a competitividade, enquanto enfrentamos desafios de barreiras não tarifárias"
— Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global


Segundo Carol Pavese, a padronização de normas internacionais de comércio também gera pressão sobre pequenos e médios produtores. “Essas exigências podem excluir quem não tem estrutura para se adequar, favorecendo grandes integrantes do agronegócio”, afirma ela. O contraste entre a família Ferguson e o jovem Natã ilustra bem essa realidade.


Esforços de grandes e pequenos
Enquanto grandes exportadores personalizam sua produção para atender a novos mercados, pequenos agricultores tentam atender às demandas locais de sustentabilidade. Cadeias como as de café e algodão lideram a corrida pela internacionalização. No primeiro semestre de 2024, o Brasil superou os Estados Unidos e tornou-se o maior exportador de algodão do mundo, em um dos resultados mais evidentes de programas como o CottonBrazil, liderado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e que tem apoio do Ministério da Agricultura.


No caso do café, pequenos produtores têm se destacado com práticas sustentáveis. Na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, por exemplo, Isabela Azevedo e Douglas Fagundes cuidam de uma agrofloresta em que produzem variedades de café arábica a 1,2 mil metros de altitude. Eles já exportam lotes exclusivos, mas sua produção ainda não alcançou escala que permita voos mais altos no mercado externo – a colheita na propriedade é manual e o trato diário requer muita atenção a detalhes. Só que o casal já cumpre diretrizes internacionais, tem recebido prêmios por seus esforços em sustentabilidade, usa apenas insumos biológicos e, além disso, busca financiamento para mecanizar parte da colheita.


O casal já recebeu na propriedade comitivas internacionais interessadas nos microlotes exclusivos e, recentemente, criou a marca de cafés especiais Boa Vista, logo depois da conquista do selo de Melhor Café do Brasil, em 2018, concedido pela Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).
Eles estão de olho nas novidades da pesquisa global e mantêm “talhões-laboratório” para testes de manejo. Na Fazenda Boa Terra, que Isabela herdou de seu pai, Paulo Azevedo, eles trabalham para aplicar as boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) enquanto miram outros mercados.


O conceito de diplomacia agrícola comporta ainda outras iniciativas do casal. A premiação, por exemplo, até hoje contribui para agregar valor ao grão no mercado doméstico e para projetar a marca do casal em outros países. Isso tem atraído mais visitantes, o que levou Isabela e Douglas a decidir fazer um dinheiro extra com o turismo rural. Aos visitantes, que recebem com hora marcada, eles apresentam informações históricas de tradição e cultura do vilarejo rural de Ibicoara (BA), onde fica a propriedade. Em novembro, o casal recebeu um grupo de australianos que começará a negociar a compra do produto por meio da cooperativa local, um modelo de negócio que ajuda a incluir pequenos produtores na rota da exportação.


Efeitos sobre o Brasil
Fim das negociações para o acordo UE-Mercosul lei antidesmatamento europeia, “efeito Trump” e guerras no Oriente Médio foram alguns dos acontecimentos que marcaram 2024 e que tiveram (e ainda terão) influência direta sobre o agro brasileiro. O debate sobre a correlação entre geopolítica e comércio agrícola está em alta, o que pode beneficiar o Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo.


Só o livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, pode gerar US$ 11 bilhões para a economia brasileira até 2040, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É verdade que os efeitos dessa novidade ainda vão levar um tempo para aparecer. No dia 6 de dezembro, os dois blocos anunciaram, em Montevidéu, no Uruguai, a conclusão das tratativas para a assinatura do acordo. O anúncio, histórico, levou 25 anos para ocorrer. No entanto, para entrar em vigor efetivamente, o tratado ainda depende de aprovações dos parlamentos locais.


Em paralelo, o Brasil tem ampliado sua presença em mercados asiáticos para além de seu maior parceiro comercial na atualidade, a China. O avanço ocorre também no Oriente Médio, que, apesar das tensões decorrentes do conflitos na região, tem grande potencial e longo histórico de relações com o agro brasileiro.

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