Na tarde desta segunda-feira, 30 de junho, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados se reuniu em São Paulo para avaliar os resultados do setor cotonicultor e planejar os próximos passos. Na ocasião, a Abrapa apresentou o Relatório de Safra do segundo semestre, com a atualização das previsões e dados sobre o início da colheita em todo o Brasil.
Além da apresentação da Abrapa, o evento contou com exposições voltadas à produção interna, às exportações e ao consumo de algodão no Brasil e no mundo. Para o Presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, “a Câmara Setorial do Algodão é um instrumento muito importante para que o setor algodoeiro possa se unir e propor ao governo federal soluções de mercado justas e viáveis, que garantam o crescimento da cotonicultura no país”.
A reunião faz parte da programação do XXII ANEA Cotton Dinner Golf & Tournament, tradicional evento anual que agrega os principais representantes do mercado de algodão brasileiro.
Volume colhido aumenta, enquanto produtividade por hectare recua
Gustavo Piccoli apresentou o relatório que confirma o crescimento anual da produção, impulsionado pela expansão de 10,2% na área plantada em relação ao ciclo 2023/24, alcançando 2,143 milhões de hectares. Até 26 de junho de 2025, 3,7% da área cultivada no país já havia sido colhida. As lavouras apresentam produtividade inferior à registrada em 2024, com média estimada de 299,4 arrobas de algodão em caroço por hectare — uma queda de 2,0% em relação ao ano anterior, cuja produtividade foi de 305,6 arrobas por hectare.
Em Mato Grosso, responsável por 70% da produção nacional de pluma, 80% das lavouras encontram-se em fase de maturação. O presidente da Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (AMPA), Orcival Guimarães, relatou que, num primeiro momento, o clima favoreceu a produção no estado. Porém, afirmou que ainda é cedo para avaliar os impactos da chuva da última semana sobre a qualidade da produção e eventuais atrasos na colheita.
Na Bahia, segundo maior estado produtor do país, cerca de 10% da safra já foi colhida. No entanto, a presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Alessandra Zanotto, afirmou que a seca prolongada impactou negativamente o volume produzido no estado.
Cenário internacional e o algodão brasileiro
Durante o evento, o CEO da ECOM Trading, Antônio Esteve, foi convidado para fazer um panorama sobre a sustentabilidade econômica do algodão, destacando que a maior preocupação dos cotonicultores em todo o mundo é a perda de espaço da pluma para o poliéster e outras fibras sintéticas. “Houve uma queda de aproximadamente 6% no consumo per capita de algodão entre 2001 e 2024, o que representa uma perda crescente de mercado para a fibra descontínua de poliéster, conhecida como PSF”, comentou. Para ele, o Brasil, como líder em exportações e grande produtor da fibra natural, deve assumir o protagonismo no combate ao uso de fibras sintéticas. Outro ponto levantado por Esteve foi a qualidade do algodão nacional, principalmente no que tange o problema relacionado aos contaminantes. De acordo com o Diretor Executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, “A questão levantada por Esteve é válida e a resposta que a Abrapa está dando é a realização de workshops e cursos para junto ao produtor, podermos melhorar a qualidade da fibra brasileira”.
O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, apresentou as perspectivas do algodão brasileiro no comércio internacional. Segundo ele, em 2024, a China comprou uma quantidade considerável de algodão com o intuito de reforçar seus estoques, mas essa tendência não deve se repetir em 2025. Apesar da China continuar sendo o maior comprador da pluma brasileira, o volume importado passou de 1,2 milhões de toneladas nos 11 primeiros meses da safra 2023/24 para 484 mil toneladas no mesmo período de 2024/25. Para Faus, o trabalho realizado pelo programa Cotton Brazil na diversificação do mercado internacional é essencial para que o Brasil se mantenha como o maior exportador mundial.
Faus também comentou os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). De acordo com o órgão, o Brasil continuará liderando as exportações globais de algodão no atual ano comercial, mantendo-se como o terceiro maior produtor mundial, atrás apenas da China e da Índia.
O diretor executivo do International Cotton Advisory Committee (ICAC), Eric Trachtenberg, também participou do evento e anunciou que, em 2026, o ICAC realizará a Cúpula Global de Têxteis, com o objetivo de atrair investimentos para os países membros. Segundo ele, “o trabalho conjunto dos produtores de fibra natural tem sido notado pela indústria e pelos legisladores. Mas podemos fazer ainda mais, lembrando ao consumidor que o algodão é um bem público”.
Mercado doméstico
A indústria têxtil brasileira segue avançando em ritmo lento, com previsão de expansão da produção de apenas 2,6% em 2025.
De acordo com o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, a competitividade com a indústria internacional tem dificultado o crescimento do setor no Brasil. Mesmo com o aumento na produção nacional de algodão, o consumo interno ainda não demonstra força suficiente para alavancar a indústria.
Pimentel também relembrou a meta compartilhada pela Abit e o setor cotonicultor de aumentar o consumo da fibra pela indústria brasileira em 1 milhão de toneladas por ano. Para isso, ressaltou a necessidade de expandir a indústria nacional,garantir o crescimento econômico de cerca de 3% ao ano, recuperar a participação no mercado interno, ter a preferência do consumidor por algodão nacional e ampliar as exportações de produtos têxteis manufaturados.
Homenagem
Na ocasião, o presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, prestou homenagem a Alexandre Schenkel, presidente do Instituto Brasileiro do Algodão, pelo trabalho realizado durante sua gestão à frente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados no biênio 2023/2024.
“Essa é uma homenagem de todos os produtores brasileiros pelo trabalho que você desenvolveu à frente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão. É admirável o seu empenho em prol do setor algodoeiro do Brasil, especialmente no que diz respeito às ações governamentais e às políticas públicas voltadas ao algodão.”