O agronegócio brasileiro é um caso de sucesso na conquista de mercados internacionais, graças aos fortes investimentos em produção e qualidade nas cadeias agropecuárias nas últimas décadas. No entanto, para ganhar ainda mais espaço, o setor precisa estar preparado para novos desafios geopolíticos e novas demandas ambientais e tecnológicas. Foi uma das conclusões do debate sobre comércio exterior promovido durante o Agro Horizonte, evento sobre inovação no agronegócio, promovido pela Globo Rural em Brasília nesta quarta-feira (11/12).
Especialistas analisaram a capacidade do Brasil de destravar mercados para seus produtos agropecuários, especialmente com o incremento da inovação no setor. Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global, apresentou um estudo mostrando que a produtividade do agronegócio brasileiro cresceu nos últimos 40 anos, a uma taxa de 2,5% ao ano, índice superior à média global de 1,5% e à dos Estados Unidos, de 1%.
“Isso ocorreu durante um cenário de redução da mão de obra no campo. O principal fator para esse crescimento foi a adoção de tecnologias, insumos e genética”, afirmou.
Segundo Jank, o crescimento do agro brasileiro desde a década de 1970 ocorreu graças a três ondas de adoção de novas tecnologias e formas de gestão e manejo. No entanto, agora, a quarta onda deverá vir de fora do agro. “São inovações que vão alterar tudo o que estamos fazendo, como inteligência artificial, blockchain, robótica e drones, e temos que estar preparados para adotar essas mudanças”, destacou.
A rapidez com que o produtor brasileiro consegue adotar inovações tem sido um fator que ajuda na conquista e manutenção de mercados para. Jank lembrou o caso do “boi China”. “A decisão da China de apenas importar carne de bovinos abatidos até 30 meses revolucionou a pecuária brasileira, a fim de atender a essa demanda”, disse.
No entanto, o coordenador do Insper Agro Global destacou a necessidade de o país diversificar os destinos de seus produtos. “A China, que se transformou em um parceiro essencial do agro brasileiro, não cresce mais tanto. Por isso, temos que abrir novos mercados, especialmente no resto da Ásia e na África, onde estão ocorrendo os maiores crescimentos de consumo”, afirmou.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), desde o início de 2023, o Brasil já abriu 285 mercados em 66 países. “Temos feito expansão de mercado levando qualidade sanitária aos demais países”, destacou Júlio Ramos, secretário-adjunto de Relações Internacionais. “Agora, o que fizemos com a China, em termos de conquista de mercado, é o que vislumbramos fazer com os países da África”, afirmou.
Ramos destacou que o país está preparado a enfrentar desafios e expandir sua presença agropecuária global, com a promoção da qualidade dos produtos nacionais. “No algodão, por exemplo, o Brasil se tornou o maior exportador do mundo sem que o consumo global aumentasse”, disse.
Alexandre Schenkel, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), lembrou que a produtividade do algodão brasileiro hoje é o dobro das lavouras americanas. No entanto, essa eficiência traz problemas: como colocar tanto algodão no mundo?
“A velocidade de melhoria da qualidade da nossa fibra também era maior do que a capacidade de conquistar mercado. O que mudou essa situação foi juntar os elos da cadeia e, junto com as tradings, promover nosso produto lá fora, mostrando que temos rastreabilidade e informação sobre a pluma desde a origem”, afirmou Schenkel.
Um passo recente que deve ajudar os produtos agrícolas brasileiros a conquistar ainda mais mercados é o acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul, anunciado na última semana. Segundo Tatiana Prazeres, secretária de comércio exterior no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o acordo vai possibilitar que o Brasil ganhe acesso a novos países e novas tecnologias, ajudando a inserir melhor os produtos brasileiros em cadeia globais.
Apesar do temor de que o acordo sofra oposição de parlamentares europeus e de segmentos do agronegócio da UE, Tatiana acredita que o documento deverá ser assinado até o segundo semestre de 2025. “Ele não precisa ter aprovação unânime. Basta ser aceito por 65% dos países, com 55% da população, e uma maioria no Parlamento Europeu”, explicou.
Segundo ela, o texto do documento dá garantias que a questão do meio ambiente e da sustentabilidade não será usada como desculpa para medidas protecionistas de países europeus. “Uma vitória que conseguimos foi a aceitação do uso de dados nacionais para cumprir as legislações sanitárias e comerciais”, destacou.