Em pouco mais de duas décadas, o Brasil se consolidou como grande player no mercado mundial do algodão e, como resultado, hoje ocupa a liderança das exportações da fibra, na safra 2023/2024. Para entender o significado desse protagonismo, o 14º Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), juntou expoentes da cotonicultura brasileira, na manhã desta terça-feira (03). Os desafios e oportunidades da produção foram debatidos por representantes de importantes grupos agrícolas, como SLC, Amaggi, Scheffer, Horita e GMS, sob a mediação do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
Investimentos em produtividade, rastreabilidade, qualidade e sustentabilidade foram apontados como os lastros do algodão brasileiro, cuja imagem também representa a credibilidade internacional alcançada pelos produtores. E o que fazer para manter esse protagonismo? Essa resposta foi dada pelo mediador da plenária, e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. “Ninguém faz nada sem gente e é fundamental olhar e ouvir esses heróis que fazem o algodão brasileiro. Além das quatro bases já citadas para a consolidação dessa rota de crescimento, eu acrescento a constância. Temos que marcar nossa presença no mercado, em volume, qualidade e quantidade. Para isso, reduzir custos, investir em ciência e tecnologia tornarão o algodão brasileiro imbatível”.
A similaridade das histórias de famílias humildes, superação de desafios e tomada de decisões inspirou o público. Para Blairo Maggi, do Grupo Amaggi, cuja família começou sua história com o algodão no Rio Grande do Sul, passando pelo Paraná até chegar ao Mato Grosso, a cotonicultura foi um sonho construído com obstinação. “A minha mãe, quando saiu de sua terra de origem, disse ao meu pai que jamais andaria para trás porque os sonhos estão sempre a nossa frente. Então, aprendi que devemos deixar nossa mente sonhar para fazer acontecer”. Com vasta experiência em acordos internacionais, o empresário, que também foi governador, senador e ministro, enfatizou que o grande desafio é conhecer o setor.
Filho de pequenos agricultores também do sul do país, Carlos Alberto Moresco, do Grupo GMS, iniciou sua produção com 12 hectares de terra e hoje, com sete mil hectares arrendados, e diz que as oportunidades estão surgindo. “Estou engajado no segmento e faço meu negócio progredir, unindo pesquisa, tecnologia e novos conhecimentos”. Bastante ligado ao associativismo, ele, que é presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) diz que é importante interagir com as instituições. “No futuro, nossa obrigação é melhorar, atuando em conformidade com as associações estaduais que valorizam o nosso trabalho, fortalecem a cadeia produtiva e também conhecem o segmento. Temos que ensinar para as próximas gerações que, juntos, podemos superar qualquer desafio”, pontuou Moresco.
Guilherme Scheffer, do Grupo Scheffer, faz parte da segunda geração de uma família gaúcha que se reergueu e se reinventou, enfrentando as dificuldades da produção de algodão em Sapezal, com 150 hectares. “Buscamos profissionalização, organização e, graças ao algodão, a gente cresceu. Devemos nossas vidas a essa cultura que não é para amadores”. Defensor da agricultura regenerativa, o empresário entende que o conceito ainda não foi muito bem captado pelo consumidor final, mas, os produtores devem investir. “Ter uma visão holística do negócio proporciona um pacote de melhorias, por isso, a agricultura regenerativa entrega muito mais. A prática nos ajuda a produzir mais com menos, regenerando e mantendo o sistema de produção. Então, é preciso conhecer sobre o tema e combater a desinformação”, avaliou Scheffer.
Segundo Aurélio Pavinato, da SLC Agrícola, a história pavimenta o futuro, por isso ele se orgulha de ter enfrentado os desafios impostos pela vida, como abdicar de algumas benesses para realizar o sonho do algodão. “Ter um sonho, estabelecer estratégias e se ver crescer faz diferença em muitas vidas”. Ele enxerga o algodão como um tema complexo, mas desafiador em função das questões ambientais. “As necessidades dos países e faixas econômicas da sociedade possuem interesses diferentes com relação aos sistemas produtivos. Precisamos de um sistema ambiental, econômico e social que seja sustentável, motivar a todos e ainda fazer nosso marketing para ser modelo de tudo isso. Não precisamos mais derrubar árvores para atender à demanda de alimentos ou de biocombustíveis”, disse.
Walter Horita, do Grupo Horita, plantou café, hortaliças e soja antes de incluir o algodão em sua matriz produtiva. “Temos uma eficiência financeira maior com o algodão, com um custo elevado e que requer uma estrutura de capital mais robusta”. Para ele, a qualificação da mão de obra rural tem acompanhado a evolução da agricultura e os jovens estão percebendo as oportunidades de trabalho no campo. Entre os principais desafios, Horita destacou as barreiras agrícolas impostas pelos países ricos. “Atacar nosso sistema de produção, criticando nosso algodão por questões socioambientais exige dos produtores um esforço extra. Ainda assim, seguiremos em frente”, finalizou Horita.
Outro ponto destacado por todos os painelistas foi o cuidado com a imagem do Brasil no mercado internacional. “Nossa propaganda é nossa qualidade. A reputação que temos no mundo todo é reflexo de um intenso trabalho para alcançar um produto de valor, competitivo e sustentável. Trouxemos todos esses líderes aqui porque, em suas trajetórias, eles sonharam, decidiram, erraram, acertaram e venceram.