Aos 23 anos, Júlia Theóphilo está perto de concluir a graduação em design de moda, mas já conquistou espaços disputados. A brasiliense é uma das finalistas do 3º Desafio Sou de Algodão. Ela desfilará a criação apresentada, ainda neste ano, na Casa de Criadores, importante evento da moda brasileira.
Ao se preparar para o trabalho de conclusão de curso (TCC) pelo Instituto Federal de Brasília (IFB), Júlia Theóphilo se deparou com a oportunidade de dar vida às próprias criações em um projeto de moda sustentável e que busca talentos emergentes por todo o Brasil. O Sou de Algodão, movimento nascido em 2016, estimula uma cadeia produtiva com o algodão como protagonista, e está na terceira edição do desafio para estudantes do país.
Ao se inscrever no concurso, Júlia apresentou um design inspirado na vivência pessoal. O trabalho Redefinindo Curvas aborda a experiência que ela tem com a escoliose, condição em que a coluna vertebral se desalinha em uma curvatura lateral.
“A coleção é uma breve história dessa jornada, que começou aos 13 anos com o descobrimento, o tratamento com colete ortopédico até a cirurgia, uma trajetória que influenciou diretamente minha percepção da beleza e do corpo”, afirmou a estudante em documento enviado ao desafio.
“Quando eu era pequena, sempre quis ter a cintura perfeita”, relembra Júlia, que desde cedo trabalha como modelo e teve um desnível no quadril causado pela escoliose. “Quando falamos de moda, vemos muito o padrão da simetria”, completa, em citação a tendências visuais como a harmonização facial, agora questionadas pela brasiliense em visuais “assimétricos e desarmônicos”, como ela define.
A jovem tem — devido à cirurgia de escoliose — uma grande cicatriz nas costas, que por muito tempo foi motivo de descontentamento como modelo, quando estilistas e diretores tentavam disfarçar a marca. No look construído para a fase semifinal do concurso Sou de Algodão, a brasiliense decidiu não mais esconder o sinal, mas sim, o valorizar e o representar por meio de um corset com detalhes que remetem à sutura na pele.
Elementos como o colete ortopédico também foram reinterpretados nos traços da estilista. “O colete chamava muita atenção e não era fácil de se esconder, eu tinha bastante vergonha de usá-lo na escola, além da dor que sentia. A coleção foi criada com o intuito de trazer um pouco de conforto e conexão, por meio do relato que, apesar de ser meu, não é uma experiência exclusiva minha”.
Graças a uma parceria entre o IFB, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Sindicato das Indústrias de Vestuário no Distrito Federal (Sindiveste), Júlia teve o suprimento necessário para produzir o visual. O projeto foi enviado para a equipe do Desafio Sou de Algodão e, em seguida, votado por um grupo de jurados do Centro-Oeste.
Na primeira semana de julho deste ano, a brasiliense recebeu a notícia de que é uma das 10 finalistas do concurso. Agora, os representantes das cinco regiões do país darão vida às coleções completas, que serão desfiladas na 55ª edição do evento Casa de Criadores, no qual serão revelados os vencedores.
O primeiro lugar entrará para o lineup oficial da Casa de Criadores, além de receber R$ 30 mil para o desenvolvimento do compilado. O segundo colocado ganhará 100 metros de tecido, e o terceiro, 50 metros. Além disso, o professor orientador do aluno vencedor também receberá uma bonificação.
Mesmo antes da final, Júlia Theóphilo já vê os frutos da participação no desafio. “O projeto me inspirou a ser mais criativa. Eu nunca tinha feito uma coleção tão conceitual assim, estudei muito até me encontrar no processo”, compartilha. A finalista também desenvolveu técnicas próprias para adaptar o algodão às peças, já que cada look deveria utilizar o material em pelo menos 70% da composição. “Isso fez a coleção ficar ainda mais única”, finaliza.
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