O algodão é uma cultura que tem raízes no seio da civilização humana. Em todos os níveis da cadeia de valor, o setor representa uma forma de abordar questões de desenvolvimento mais amplas para aumentar o emprego, garantindo trabalho e renda decentes para todos. Tecnologias e recursos inovadores são vitais para que o setor se mantenha viável e sustentável e a mobilização e o empenho para isso não nos faltam. Em agosto de 2021, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu esses benefícios únicos da pluma ao proclamar o dia 7 de outubro de cada ano como o Dia Mundial do Algodão. Sim, o objetivo desta celebração global é aumentar a visibilidade do setor algodoeiro e a conscientização sobre o papel que desempenha no desenvolvimento econômico, comércio internacional e redução da pobreza. A fibra é produzida em mais de 70 países, em todos os continentes, onde são plantados, anualmente, 32 milhões de hectares, movimentando 10 trilhões de dólares por ano. Nesse cenário, o Brasil tem peso expressivo, é o quarto maior produtor do mundo, segundo maior exportador e o sétimo maior consumidor. O Valor Bruto da Produção (VBP) de algodão no Brasil, em 2022, é de R$ 41 bilhões, sendo a quarta cultura mais importante da agricultura nacional, depois da soja, cana-de-açúcar e milho.
O nosso diferencial e que nos dá credibilidade para a expansão no mercado global é o trabalho permanente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) que mobiliza cotonicultores, trabalhadores, pessoas ligadas à moda e o setor produtivo na execução de programas e ações que contribuem para a melhoria da cultura. Podemos dizer que o fio da meada do algodão brasileiro passa por: rastreabilidade, sustentabilidade, qualidade e promoção da pluma, pilares que foram ao longo de quase duas décadas internalizados pelo setor. Hoje, em todos os níveis da cadeia, a cotonicultura trabalha em um processo de produção de algodão responsável e certificado, direcionado a pequenos, médios e grandes produtores.
Para fazer frente às exigências dos novos compradores quanto à garantia de origem do algodão brasileiro, desde 2004, o setor segue o fio da rastreabilidade. A iniciativa resultou no Sistema Abrapa de Identificação (SAI) e, a partir de então, o SAI apresenta uma evolução constante. Hoje, por meio do SouABR, é possível verificar o caminho da fibra graças ao QR Code e a uma tecnologia chamada blockchain. Tudo começa na fazenda onde a produção certifica atende a 183 critérios de respeito ao meio ambiente, leis trabalhistas e transparência econômica. Com a origem comprovada, o algodão ABR vai para a usina de beneficiamento para ter a pluma separada do caroço e das impurezas, seguindo depois para a indústria têxtil e de confecção. Assim, podemos afirmar que o nosso algodão é rastreável da semente ao guarda-roupa.
Mas a tecnologia e a inovação aplicadas no melhoramento da cultura não se limitam à rastreabilidade. Outro fator bastante importante é como essa fibra é produzida nas lavouras visando cumprir as metas de sustentabilidade demandadas pelos seus clientes. O mercado busca fechar contratos antecipados com os produtores desse algodão e não à toa seguimos, sim, o fio da produção responsável desde 2012, quando implantamos o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e entregamos aos produtores de algodão, um protocolo contendo toda a legislação trabalhista brasileira, as exigências dos atos Normativos do Ministério do Trabalho e o cumprimento de todas as determinações da Organização Internacional do Trabalho, para que os produtores se adequassem à Legislação e se preparassem para receber as empresas de auditoria de terceira parte, visando comprovar a regularidade das relações de trabalho.
Neste mesmo ano, convidamos o Better Cotton Iniciative (BCI) para atuar no Brasil junto com a Abrapa e promovemos um processo de benchmarking unindo os protocolos BCI e ABR. Hoje, o País é o maior produtor de algodão Better Cotton do mundo, com 42% da oferta mundial de pluma licenciada pela entidade. Na safra 2021/2022, 84% de toda a pluma brasileira foram certificadas/licenciadas pelo ABR/BCI, correspondendo a 2.000.000 de toneladas com a chancela de algodão responsável. Nos dedicamos, ao longo de quase duas décadas, a implantar um processo de produção de algodão responsável e certificado, direcionado a pequenos, médios e grandes produtores, mas sem esquecer também da qualidade da fibra e da sua promoção para alcançarmos novos mercados mundo a fora. E como o próprio conceito da nossa campanha propõe, seguimos o fio da qualidade e da promoção da pluma, visando estabelecer o fortalecimento da cadeia produtiva e ampliar a competitividade do setor algodoeiro em todo o continente.
Em 2016, desenvolvemos o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), estruturado em três pilares: Centro de Referência de Análise de Algodão (CBRA), Banco de Dados da Qualidade do Algodão Brasileiro e Orientação aos laboratórios participantes. O CBRA é o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão, que desenvolve o programa de checagem das amostras analisadas pelos laboratórios participantes do programa, garantindo a padronização dos processos de classificação. Desse modo, os dados da qualidade da fibra também constam nas etiquetas quando rastreadas, garantindo o resultado de origem, dando credibilidade e transparência para os resultados de análise de HVI realizados pelos laboratórios de classificação instrumental que operam no Brasil.
Mesmo com todas essas ações, o algodão enfrenta uma série de incertezas, sobretudo nas demandas que precisam ser abordadas adequadamente para que o setor direcione seu potencial no apoio ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável. O movimento Sou de Algodão nasce em 2016 para estimular a moda responsável. Para isso, unimos em uma só voz todos os agentes da cadeia produtiva e da indústria têxtil dessa fibra, desde o homem do campo até o consumidor final, passando por tecelões, artesãos, fiadores, designers de moda brasileiros, estilistas e estudantes, para disseminar os benefícios da fibra natural. Hoje, nos orgulhamos em afirmar que o Brasil é o maior fornecedor de algodão responsável do mundo. E comunicamos isso para o mercado externo, que busca qualidade, relações transparentes e sustentabilidade, por meio do programa Cotton Brazil. Iniciativa que projeta a nossa pluma para parceiros das fiações, tecelagens e confecções ao redor do mundo.
Após quase 20 anos de constante inovação, pesquisa e investimentos em aprimoramentos, capitaneados pela Abrapa, suas associadas e parceiros, é hora de oferecer uma matéria-prima que busca incessantemente pela evolução da produção responsável, com qualidade e rastreabilidade. Passo a passo estamos produzindo e, ao mesmo tempo, cuidando do Planeta.
Júlio Cézar Busato
Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)