Na última sexta-feira, 22 de março, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), participou, na sede da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), em São Paulo, da apresentação, para representantes do varejo, do projeto Pegada Hídrica, desenvolvido pela Vicunha com o portal Ecoera. A data escolhida para o encontro, o Dia Mundial da Água, enfatizou o objetivo da iniciativa que visa a calcular o consumo direto e indireto desse insumo na vida útil de uma calça jeans, desde o plantio até o consumidor final. A falta de um número estimado, levando em consideração as condições de plantio da pluma no Brasil, marcada pelo regime de sequeiro, tem permitido que informações equivocadas sejam difundidas sobre um suposto uso excessivo do recurso natural. O país é um dos campeões de produtividade de pluma no mundo, e irriga apenas 8% do total das suas lavouras.
“Medir para gerir” é o argumento difundido pelo Pegada Hídrica, que tem como grande entusiasta a apresentadora de TV e especialista em ecologia e consumo sustentável, Chiara Gadaleta. Na ocasião, ela explicou a metodologia de mensuração aplicada, e falou sobre a interlocução que vem sendo mantida com os atores das diversas etapas do ciclo de vida da peça, com ativações nas fases de plantio, tecelagem, confecção, lavanderia e magazines já realizadas.
“Hoje temos uma sensação de abundância, mas essa não é a realidade. Nosso projeto está alinhado com os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, nos quais cuidar da água é uma prioridade”, explicou. Segundo Gadaleta, o índice aferido pelo Pegada Hídrica vai ajudar o Poder Público a pensar políticas de uso estratégico. Além disso vai ser um diferencial de escolha para um consumidor cada vez mais consciente e com poder de decisão.
Programa amplo
Durante o debate, o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, comentou os principais números da cotonicultura brasileira, como a estimativa de colher 2,6 milhões de toneladas de pluma na safra 2018/2019, e do país se tornar o segundo maior exportador mundial do produto nesta safra, após abastecer a indústria interna, cujo consumo se mantém em 700 mil toneladas nos últimos anos. “Exportamos mais e concorremos com países que se preocupam e desenvolvem seus programas de responsabilidade social há anos, e também temos o nosso, o Algodão Brasileiro Responsável, ABR, que hoje opera em benchmark com a Better Cotton Initiave, BCI, sendo ainda mais complexo que este”, disse. Garbugio explicou como funciona o processo de certificação ABR e de licenciamento BCI, ambos prevendo o cumprimento de critérios, e o ABR, o estreito respeito às legislações trabalhista e ambiental do Brasil.
“Tive acesso à profundidade do ABR e posso dizer que a gente tem essa mania de achar que o que vem de fora é melhor que o nosso. Como mudar essa mentalidade?”, questionou Chiara Gadaleta, que, junto com a Vicunha teve oportunidade de conhecer uma fazenda de algodão, a convite da Abrapa, a Pamplona, do grupo SLC Agrícola, situada em Cristalina (GO).
Caso de sucesso
O diretor superintendente da Vicunha, Marcel Imaizumi, elogiou o ABR, e ressaltou que o setor varejista, assim como o Poder Público, precisa se posicionar quanto ao uso racional da água. A Vicunha convidou o diretor da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Elder dos Santos Cortez, para apresentar a bem-sucedida experiência de gestão da água naquele estado, caracterizado pela escassez de chuvas. “O estado do Ceará representa o que o mundo vai enfrentar em alguns anos, e pode servir de exemplo. Se as pessoas e os governos não se prepararem para fazer gestão hídrica, através da conscientização do indivíduo como cidadão responsável, não vamos viver de maneira harmônica num mundo de restrição de água”, disse.
Para ao presidente da Abit, Fernando Pimentel, o evento faz parte de uma agenda mundial “irreversível, e que hoje está na pauta fashion internacional”.