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Especialistas veem 2025 como 'ano da diplomacia agrícola'
07 de Janeiro de 2025Renata Ferguson, grande produtora de soja e milho em Rio Verde (GO), acompanha de perto as novidades sobre as negociações do comércio exterior brasileiro.Para ela, os acordos internacionais definem o futuro de seu negócio, já que grande parte do que ela colhe segue para exportação. Em contraste, o jovem Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP) e abastece a Ceasa da capital paulista, afirma não dar muita atenção às discussões sobre o comércio global. “Eu não exporto, então isso não me afeta”, diz, para em seguida questionar: “Será que eu deveria?” Essa diferença de abordagens expõe de maneira didática o crescente debate sobre a influência da diplomacia agrícola e das regras do comércio internacional sobre as atividades de produtores rurais brasileiros de diferentes escalas. Para especialistas ouvidos pela Globo Rural, essas discussões serão uma das grandes tendências de 2025, quando devem sair da porteira e se alastrar por outras esferas da sociedade. Renata oferece treinamento a seus funcionários para que eles intensifiquem a adoção de práticas sustentáveis e, em outra frente, negocia com muitas empresas internacionais, das quais colhe ideias que mais tarde vão enriquecer a gestão da lavoura. A quase quilômetros dali, Natã não adota as mesmas práticas, mas precisa cumprir uma série de exigências para selecionar e armazenar o chuchu que colhe, além de manter o QR code de rastreabilidade para entregar a produção às centrais de abastecimento. Embora as características do trabalho dos dois agricultores sejam muito distintas entre si, ambos seguem rígidas regras de comercialização e, assim, cumprem tarefas que integram o conceito de diplomacia agrícola. Segundo Carol Pavese, professora de relações internacionais da Faculdade Belas Artes, o termo abrange tanto regras do comércio internacional e de abertura de mercados quanto diretrizes de segurança alimentar e manejo sustentável, independentemente do tamanho da área de cultivo. “A diplomacia agrícola é uma estratégia de relações internacionais para promover o agronegócio de um país no cenário global, consolidando mercados, negociando barreiras comerciais e fortalecendo a presença de seus produtos em regiões estratégicas. Ela envolve ações coordenadas entre governos, setor privado e organizações internacionais para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do setor”, detalha a professora. Novo espírito do tempo Especialistas concordam que as regras do comércio internacional vão pautar ainda mais as reuniões de cooperativas, associações e entidades públicas do setor. Como parte desse novo espírito do tempo, desde 2023 o governo federal tem ampliado o número de adidos agrícolas, que atuam como representantes do Brasil em países parceiros; hoje, há 40 em ação. E, no campo, os produtores correm para ajustar suas práticas para, com isso, não perderem espaço (nem dinheiro). Há consenso de que o Brasil terá um papel diplomático de destaque, sendo o líder do Mercosul na defesa da agropecuária. Ao mesmo tempo, grandes exportadores e empresas de comercialização de commodities investem em tecnologias de rastreabilidade, automação e certificações. Já nas propriedades, a maioria dos pequenos e médios produtores dá prioridade a questões como crédito e recuperação financeira após um ano de muitos problemas climáticos. "Não temos tempo para pensar nisso. Precisamos plantar, colher e vender" — Natã Caetano, que cultiva hortaliças em São Miguel Arcanjo (SP) Quem exporta precisa lidar com um cenário de crescente protecionismo. Desde 1962, com a criação da Política Agrícola Comum da França, os países têm adotado medidas restritivas para proteger seus mercados. O professor Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, observa que o Brasil tem respondido a essas barreiras com a criação de um arcabouço legal para retaliações formais, buscando defender interesses nacionais e manter sua posição estratégica no mercado global. Jank destaca que a resposta brasileira vai além da defesa comercial. "Estamos consolidando padrões que promovem a competitividade, enquanto enfrentamos desafios de barreiras não tarifárias" — Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global Segundo Carol Pavese, a padronização de normas internacionais de comércio também gera pressão sobre pequenos e médios produtores. “Essas exigências podem excluir quem não tem estrutura para se adequar, favorecendo grandes integrantes do agronegócio”, afirma ela. O contraste entre a família Ferguson e o jovem Natã ilustra bem essa realidade. Esforços de grandes e pequenos Enquanto grandes exportadores personalizam sua produção para atender a novos mercados, pequenos agricultores tentam atender às demandas locais de sustentabilidade. Cadeias como as de café e algodão lideram a corrida pela internacionalização. No primeiro semestre de 2024, o Brasil superou os Estados Unidos e tornou-se o maior exportador de algodão do mundo, em um dos resultados mais evidentes de programas como o CottonBrazil, liderado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e que tem apoio do Ministério da Agricultura. No caso do café, pequenos produtores têm se destacado com práticas sustentáveis. Na Chapada Diamantina, no interior da Bahia, por exemplo, Isabela Azevedo e Douglas Fagundes cuidam de uma agrofloresta em que produzem variedades de café arábica a 1,2 mil metros de altitude. Eles já exportam lotes exclusivos, mas sua produção ainda não alcançou escala que permita voos mais altos no mercado externo – a colheita na propriedade é manual e o trato diário requer muita atenção a detalhes. Só que o casal já cumpre diretrizes internacionais, tem recebido prêmios por seus esforços em sustentabilidade, usa apenas insumos biológicos e, além disso, busca financiamento para mecanizar parte da colheita. O casal já recebeu na propriedade comitivas internacionais interessadas nos microlotes exclusivos e, recentemente, criou a marca de cafés especiais Boa Vista, logo depois da conquista do selo de Melhor Café do Brasil, em 2018, concedido pela Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic). Eles estão de olho nas novidades da pesquisa global e mantêm “talhões-laboratório” para testes de manejo. Na Fazenda Boa Terra, que Isabela herdou de seu pai, Paulo Azevedo, eles trabalham para aplicar as boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) enquanto miram outros mercados. O conceito de diplomacia agrícola comporta ainda outras iniciativas do casal. A premiação, por exemplo, até hoje contribui para agregar valor ao grão no mercado doméstico e para projetar a marca do casal em outros países. Isso tem atraído mais visitantes, o que levou Isabela e Douglas a decidir fazer um dinheiro extra com o turismo rural. Aos visitantes, que recebem com hora marcada, eles apresentam informações históricas de tradição e cultura do vilarejo rural de Ibicoara (BA), onde fica a propriedade. Em novembro, o casal recebeu um grupo de australianos que começará a negociar a compra do produto por meio da cooperativa local, um modelo de negócio que ajuda a incluir pequenos produtores na rota da exportação. Efeitos sobre o Brasil Fim das negociações para o acordo UE-Mercosul lei antidesmatamento europeia, “efeito Trump” e guerras no Oriente Médio foram alguns dos acontecimentos que marcaram 2024 e que tiveram (e ainda terão) influência direta sobre o agro brasileiro. O debate sobre a correlação entre geopolítica e comércio agrícola está em alta, o que pode beneficiar o Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Só o livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, pode gerar US$ 11 bilhões para a economia brasileira até 2040, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É verdade que os efeitos dessa novidade ainda vão levar um tempo para aparecer. No dia 6 de dezembro, os dois blocos anunciaram, em Montevidéu, no Uruguai, a conclusão das tratativas para a assinatura do acordo. O anúncio, histórico, levou 25 anos para ocorrer. No entanto, para entrar em vigor efetivamente, o tratado ainda depende de aprovações dos parlamentos locais. Em paralelo, o Brasil tem ampliado sua presença em mercados asiáticos para além de seu maior parceiro comercial na atualidade, a China. O avanço ocorre também no Oriente Médio, que, apesar das tensões decorrentes do conflitos na região, tem grande potencial e longo histórico de relações com o agro brasileiro.
Ministério da Agricultura reconhece 11 programas de certificação de boas práticas para concessão de crédito
07 de Janeiro de 2025O Ministério da Agricultura reconheceu cinco programas de certificação de boas práticas agrícolas ao longo de 2024, depois que foi criada a regra para a concessão de desconto no custeio rural de médios e grandes produtores. Antes, já havia reconhecido seis iniciativas em 2022 e 2023. Um dos programas aptos é o Soja Legal, desenvolvido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT). A iniciativa estimula e capacita os proprietários rurais a adotarem ações de conformidade em eixos, como a qualidade de vida no campo e no trabalho, a gestão consciente da água, o gerenciamento de resíduos, as melhores práticas agrícolas, adequação ao Código Florestal, a viabilidade econômica da produção e a qualidade do produto. Atualmente, 1.250 produtores fazem parte do Soja Legal, dos quais 700 já têm o selo de conformidade. Segundo Luiz Bier, vice-presidente da Aprosoja-MT, 85 agricultores já foram cadastrados e poderão obter os descontos nos financiamentos assim que o sistema estiver operando. Os demais participantes deverão ser inseridos em breve. Bier acredita que poucos contratos serão firmados agora, mas diz que a medida é importante por reconhecer as adicionalidades ambientais e sociais dos produtores. “A nossa expectativa é que o produtor que realmente faz o dever de casa e que cumpre toda legislação ambiental seja reconhecido. Esperamos que não haja muita contratação nos primeiros meses, porque a safra já está rodando. O produtor vai começar a tomar crédito novamente a partir de a P&A Ltda, o Certifica Minas Café, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, o Selo Mip Experience, da PROMIP Manejo Integrado de Pragas Ltda, e o Boas Práticas Agrícolas IBS, do Instituto BioSistêmico (IBS), já haviam sido reconhecidos pelo Ministério da Agricultura. Os programas avalizados no segundo semestre de 2024 agregaram mais de 900 produtores rurais ao rol de futuros beneficiários dos descontos. São eles: Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Programa Algodão Brasileiro Responsável para Unidades de Beneficiamento (ABR-UBA), ambos da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa); o Certifica Minas, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais; o Programa Selo Ambiental do Arroz Rastreado RS, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga); e o Protocolo de Sustentabilidade Cooxupé Gerações, da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda. Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu.
Boletim de Inteligência de Mercado Abrapa
20 de Dezembro de 2024Destaque da Semana - Cotações caíram durante a semana, mesmo com bom relatório de exportação dos EUA. Fatores baixistas listados abaixo pesaram mais. Algodão em NY - O contrato Mar/25 fechou nesta quinta (19/dez) cotado a 67,91,09 U$c/lp (-3,1% vs. 12/dez). O contrato Dez/25 fechou em 69,12 U$c/lp (-3,0% vs. 12/dez). Basis Ásia - O Basis médio do algodão brasileiro posto Leste da Ásia é 800 pts para embarque Jan/Fev-25 (Middling 1-1/8" (31-3-36), fonte Cotlook 19/dez/24). Baixistas 1 - A expectativa de acirramento da guerra comercial entre EUA e China após a posse de Trump preocupa, pois pode prejudicar o crescimento global. Baixistas 2 - A grande depreciação do real frente ao dólar também é um fator baixista. Baixistas 3 - Cotações de soja em Chicago estão se aproximando da mínima de quatro anos e esse viés baixista tem contaminado o algodão. Altistas 1 - No último relatório do USDA, destaque para o aumento mensal tanto na demanda mundial quanto nas exportações. Altistas 2 - Nestes níveis de preço, é natural que produtores americanos busquem alternativas. Para remunerar o produtor, o algodão precisa estar acima de 80cents. China 1 - A China importou cerca de 110 mil tons de algodão em nov/24. Volume similar a out/24, mas 64% inferior a nov/23. China 2 - Nos quatro primeiros meses do ano comercial 2024/25, o total é de 483 mil tons - menos da metade do total importado no mesmo período de 2023/24. China 3 - Com a produtividade maior na safra 2024/25 de algodão, o Ministério da Agricultura chinês ampliou para 5,9 milhões tons a estimativa de produção. China 4 - Desde 17/dez, turistas de 54 países (incluindo o Brasil) podem ficar até 10 dias (240h) na China sem necessidade de visto. A nova política chinesa vale para 21 aeroportos internacionais distribuídos em 24 províncias. EUA 1 - A colheita da safra 2024/25 nos EUA praticamente encerrada, os produtores acompanham as precipitações de inverno para viabilizar a próxima safra. EUA 2 - O USDA já classificou 85% da safra americana. Restam 276 algodoeiras ativas das 466 do país. Paquistão - A Abrapa e a Anea planejam uma missão ao Paquistão em fev/25. O país tem estado ativo nas compras, já que os estoques disponíveis da safra local não ultrapassam 1 milhão de fardos. Vietnã 1 - Em nov/24, o Vietnã importou 10% a mais de algodão que em nov/23, atingindo 132 mil tons. É o maior volume mensal desde mai/24. O Brasil respondeu por 44%. Vietnã 2 - No ano comercial 2024/25, as importações somaram 512.532 tons, das quais 28% foram do Brasil. Bangladesh - Com alta de 4% em relação a out/24, a importação de algodão em nov/24 em Bangladesh foi de 116 mil tons. No ano civil (jan/nov), o volume acumulado é de pouco mais de 1,5 milhão tons – dos quais 18% saíram do Brasil. Índia - Na Índia, a importação de algodão em out/24 foi de 62 mil tons, pouco maior que em set/24, mas 5 vezes (5x) superior a out/23. O Brasil forneceu 10.026 tons – volume 111,5% acima do registrado em out/23. Indonésia – A importação de algodão na Indonésia em out/24 somou 36 mil tons. A Austrália forneceu 40% desse total e o Brasil, 39%. De agosto a outubro, os indonésios importaram *118 mil tons *. Austrália - Com o fim do beneficiamento e da classificação do algodão australiano da safra 2024, o foco fica nas exportações, que seguem até abr/25. Exportações - As exportações brasileiras de algodão somaram 157,7 mil tons até a 2ª semana de dezembro. A média diária de embarque é 10,1% menor que a registrada no mesmo mês de 2023. Beneficiamento 2023/24 - Até ontem (19/12), foram beneficiados nos estados da BA (98%), GO (99,25%), MA (93%), MG (98%), MS (100%), MT (88,78%), PI (97,33%), PR (100%) e SP (100%). Total Brasil: 91,19% Plantio 2024/25 - Até ontem (19/12), foram semeados nos estados da BA (51,3%), GO (70,4%), MA (14%), MG (60%), MS (79%), PI (49,27%), PR (90%) e SP (65%). Total Brasil: 14,29% Preços - Consulte tabela abaixo ⬇ Quadro de cotações para 19_12 Este boletim é produzido pelo Cotton Brazil, iniciativa que representa a cadeia produtiva do algodão brasileiro em escala global. Contato: cottonbrazil@cottonbrazil.com
Brasil conquista em 2024 o posto de maior exportador mundial de algodão
20 de Dezembro de 2024Com a missão de posicionar o algodão brasileiro no mercado internacional, o programa Cotton Brazil, da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), conclui o ano de 2024 de forma histórica. Ao fim do ano comercial 2023/24, o País se tornou o maior exportador mundial de pluma – antecipando uma meta que estava prevista para 2030. A união de forças e a atuação estratégia ajudam a explicar o resultado. “O caminho da sustentabilidade na moda e no consumo passa pelo algodão, uma fibra natural, reciclável e com menor pegada de carbono. Disseminar essa ideia e mostrar como o Brasil pode contribuir para esse cenário mundial tem nos ajudado a ter grandes conquistas”, analisa o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel. A estratégia tem dado bons frutos. No ano comercial 2023/24, que foi de agosto de 2023 a julho de 2024, o Brasil embarcou 2,7 milhões de toneladas de algodão – 85% a mais que no ano comercial anterior (2022/23). Com isso, o País forneceu 28% de toda a pluma comercializada no período, ampliando em dez pontos percentuais (10 pp) a nossa presença no mercado mundial. Na análise do ano civil de 2024, os resultados também são positivos. “Se a média dos últimos três meses se mantiver em dezembro, o Brasil pode fechar o ano de 2024 batendo a marca dos US$ 5 bilhões exportados. De qualquer forma, já superamos o recorde anterior, de 2022, quando o País registrou US$ 3,7 bilhões de receita com o comércio exterior”, observa o diretor de Relações Internacionais, Marcelo Duarte. Duarte coordena de Singapura o programa Cotton Brazil, que ao longo de 2024 realizou 9 missões internacionais em diferentes países importadores. Ao todo, o Cotton Brazil impactou cerca de 4.500 stakeholders neste ano, com a realização e participação em 34 eventos e relacionamento junto a 20 países. A união do setor produtivo do algodão é outro ponto que contribui para os bons resultados do programa. “O Cotton Brazil, propriamente dito, é a união da Abrapa com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Nacional de Exportadores de Algodão (Anea). Mas muitos outros players do mercado estão conosco nas nossas iniciativas”, afirma Duarte. Seja em eventos setoriais estratégicos internacionais, como o congresso anual da International Cotton Association (ICA), ou em ações nacionais como a Cotton School, a Abrapa mobilizou marcas como a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e as associações estaduais de cotonicultores. “Outro apoio fundamental veio do Governo Brasileiro, via Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Ministério das Relações Exteriores (MRE)”, destacou Schenkel. Do Mapa, o Cotton Brazil conta com a rede de adidos agrícolas, e do MRE, com diplomatas e embaixadores – principalmente nos países prioritários do programa (Bangladesh, Coreia do Sul, China, Egito, Índia, Indonésia, Paquistão, Turquia e Vietnã).
Rastreabilidade identifica origem e qualidade do algodão brasileiro
20 de Dezembro de 2024No dicionário, a definição de rastreabilidade é “programa de acompanhamento sistematizado de um produto, desde sua origem, passando pelo processo de fabricação e manuseio, até o seu destino final”. Para a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a rastreabilidade é um compromisso, e se materializa em dois programas, o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), o mais antigo instituído pela Abrapa, ainda em 2004, e o inovador Sou Algodão Brasileiro Responsável (SouABR), que une à rastreabilidade, um outro importante pilar da associação, a sustentabilidade. O SouABR, primeira iniciativa de rastreabilidade em larga escala na indústria têxtil do Brasil, garante o rastreio de cada produto produzido com o algodão brasileiro certificado. Através da tecnologia blockchain, presente no QR Code que vem nas etiquetas, o consumidor pode conferir todo o trajeto da peça, da lavoura até o guarda-roupa, além de obter informações sobre a certificação socioambiental da origem da fibra. Em 2024, foram rastreadas 187.043 peças de cinco varejistas, entre eles, a C&A que já utiliza a tecnologia nas coleções de calças jeans. Seu ineditismo e eficiência garantiram ao programa SouABR o reconhecido do Prêmio ECO AMCHAM 2024, promovido há mais de 40 anos pela Câmara Americana de Comércio. A iniciativa foi laureada na categoria produtos e serviços, no escopo do projeto “Jeans Rastreável” com o uso de blockchain, desenvolvido pela C&A Brasil, em parceria com o movimento Sou de Algodão, iniciativa da Abrapa. Outras marcas têm aderido. Em agosto passado, a Döhler se juntou ao SouABR e lançou as primeiras toalhas rastreáveis do Brasil. Fardos rastreados Além do rastreio de produtos feitos a partir do algodão, também é possível rastrear cada fardo da fibra produzida no país. O Sistema Abrapa de Identificação, SAI, funciona por meio de uma etiqueta que é fixada ao fardo assim que a algodoeira processa o beneficiamento. Com ela, é possível ver com precisão a fazenda onde a fibra foi produzida, a usina na qual foi beneficiada e até o laboratório que fez sua análise de qualidade. E não para por aí. As etiquetas trazem muitas outras informações, como os índices de análise instrumental por alto volume (HVI), as certificações pelos programas Algodão Brasileiro Responsável (ABR), ABR-UBA e Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro (PQAB) e o licenciamento pela Better Cotton (BC). Os números impressionam. Atualmente, existem 249 unidades de beneficiamento de algodão ativas em dez estados do Brasil. O SAI recebeu 380 pedidos de etiquetas e lacres de mala, gerando um total de 18.268.507 etiquetas SAI e 247.308 lacres emitidos. Sobre as etiquetas, 42% delas foram produzidas em vinil e 58%, em bopp. Já os lacres, foram 45% impressos em vinil e 55%, em bopp. Os meses de março, abril e maio responderam, respectivamente, por 14%, 55% e 22% do volume anual de pedidos de etiquetas e lacres, impressos e entregues por três gráficas parceiras homologadas, IGB, Grif e Prakolar. A próxima operação do SAI será iniciada em 1° de março de 2025. Com a estimativa de 5,8% de aumento na produção de algodão, a previsão é de que sejam emitidas, considerando a área, mais de 19 milhões de etiquetas. É a rastreabilidade conferindo transparência, para que o comprador – seja ele a fiação ou o cliente da loja – conheça a fundo o que está levando e possa fazer boas escolhas.
Qualidade que conquista o mundo, do Brasil ao Egito
19 de Dezembro de 2024O Brasil vem escrevendo uma nova história em sua cotonicultura desde os anos 1990, com o algodão nacional se destacando por sua excelência e inovação. Em 2024, a pluma brasileira alcançou o topo do ranking como maior exportador mundial e, no ano anterior, conquistou um novo mercado: o Egito, símbolo de algodão de qualidade. Essa trajetória de sucesso é fruto de dedicação, investimentos em tecnologia e aprimoramento contínuo de processos. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) tem liderado esse movimento com iniciativas estratégicas, como o Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro (PQAB), que, neste ano, certificou 4,3 milhões de fardos, com bons índices de conformidade. Além disso, o setor registrou avanços significativos com a aquisição de modernas máquinas de análise instrumental, acreditação de laboratórios e aprimoramento de sistemas de gestão. Esses investimentos asseguram precisão e confiabilidade das análises ao longo de toda a cadeia produtiva, desde o campo até o mercado nacional e internacional. O algodão brasileiro é, hoje, muito mais do que uma commodity. É um exemplo de superação e trabalho para transformar desafios em conquistas. Com cada fardo que cruza os oceanos, o Brasil reforça sua posição como um dos grandes protagonistas no agronegócio mundial. Programa Standard Brasil HVI Os laboratórios participantes do Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI) apresentaram melhorias significativas em seus sistemas de gestão. O desafio, agora, é alcançar o nível de excelência em todos os instrumentos. Neste ano, a taxa de checagem deles chegou a níveis impressionantes, com 98% de estabilidade em 10 dos 12 estabelecimentos avaliados, sendo que alguns atingiram 99%. A compra de duas máquinas de análise instrumental Classing Q Pro, da Uster, pelo Centro Brasileiro de Classificação de Algodão (CBRA), teve um papel crucial na produção de amostras de checagem e no aumento da confiabilidade das análises. Essas ferramentas são fundamentais para aprimorar o monitoramento da qualidade intrínseca do algodão brasileiro. Além disso, nos últimos 12 meses a equipe do CBRA realizou sete treinamentos e workshops focados em qualidade e visitas orientativas a todos os laboratórios participantes do programa. Desempenho Superior No Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro (PQAB), 4,3 milhões de fardos foram certificados este ano, com o índice de aprovação de amostras de 95%, desempenho superior ao registrado no ano anterior e evidenciando a eficiência e confiabilidade do programa. Lançado oficialmente em 2023, o PQAB utiliza como base o Standard Brasil HVI (SBRHVI), agregando a certificação de amostragem e o controle externo realizado por fiscais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esse é o sistema oficial do governo brasileiro que certifica os indicadores de qualidade do algodão produzido no país. O CBRA qualificou 98 inspetores de Unidades de Beneficiamento de Algodão (UBA) sobre requisitos legais do PQAB, como a Instrução Normativa 24 (IN24), que regulamenta o algodão em pluma, e a Portaria 375, que define critérios para certificação voluntária de produtos de origem vegetal. Também foram capacitados 41 profissionais de laboratórios nas melhores práticas no programa. Participação Internacional A Abrapa reforçou sua presença em eventos internacionais de alta relevância técnica. Deninson Lima, especialista em análise de pluma do CBRA e Quality Expert por ICA Bremen, representou o Brasil na Conferência Internacional de Algodão em Bremen, na Alemanha, e na Conferência de Padrões Universais de Algodão, em Memphis, nos Estados Unidos. Avanços em Acreditação e Gestão Os avanços em acreditação de laboratórios também foram notáveis. Além do Laboratório de Classificação Visual e Tecnologia da Fibra de Algodão da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) e do CBRA, o laboratório da Associação Sul-mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampasul) foi avaliado conforme a norma ISO 17025, este ano. O CBRA mantém sua posição de referência com certificação ICA Bremen, acreditação pela Cgcre/Inmetro e habilitação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Qualidade da fibra Entre as características intrínsecas da fibra avaliadas nas análises por instrumentos de alto volume, houve avanços em índices como resistência, comprimento UHML, uniformidade, índice de fibras curtas e grau de reflexão, no ciclo 2023/24. Nota Técnica sobre Contaminação Ponto de atenção para desafios como pegajosidade, fibras curtas e contaminação por plásticos e seed coat, que impactam diretamente a competitividade do algodão brasileiro no mercado internacional. Para mitigar o problema de contaminação, o CBRA realizou uma publicação de uma nota técnica sobre o tema que reforça a importância de manter altos padrões de qualidade intrínseca e extrínseca, associados a baixos níveis de contaminação, garantindo maior competitividade no mercado internacional. Os avanços em qualidade e conformidade obtidos pela Abrapa em 2024 refletem o compromisso contínuo com a excelência de seus processos, consolidando o algodão brasileiro como uma referência no mercado global.
Cotonicultura Brasileira avança na descarbonização
19 de Dezembro de 2024Meses após se consolidar como a maior exportadora de algodão do mundo, o Brasil deu um passo pioneiro rumo à descarbonização da sua cadeia produtiva. Graças à Footprint PRO Carbono, desenvolvida pela Bayer em parceria com a Embrapa e a Abrapa, a pegada de carbono do cultivo de algodão foi mensurada pela primeira vez no país, utilizando dados primários de produtores de Mato Grosso. A calculadora, que já avaliava cultivos de soja e milho, revelou uma emissão média de 329 kg CO2 eq/t de algodão, com potencial de redução de até 32%. Essa iniciativa também busca estabelecer uma referência nacional para emissões na cadeia do algodão, incluindo derivados como óleo e biodiesel. O presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, destacou que o objetivo é fortalecer a posição do algodão brasileiro no mercado global e no programa Renovabio. A parceria técnica envolve ainda a Abiove, que integra dados de agricultores da Bahia e Goiás na fase inicial do projeto, reforçando os atributos sustentáveis da produção nacional. Além do algodão, a Footprint PRO Carbono já está sendo aplicada na sojicultura. Em Santa Catarina, a Cooperalfa terá a pegada de carbono de seus grãos de soja monitorada a partir de 2025, abrangendo 5.000 hectares na primeira fase. A expectativa é alcançar emissões de 383 kg CO2 eq/t com intervenções agrícolas, demonstrando a eficiência do sistema brasileiro frente à média internacional. O programa PRO Carbono também avança na inovação tecnológica com o Modelo Preditivo PRO Carbono, desenvolvido pela Bayer e Embrapa. Essa ferramenta promete simular a dinâmica de carbono no solo, reduzindo custos de análises e promovendo a agricultura conservacionista em larga escala. A validação internacional do programa, como no Scope 3 Standard Program da Verra, consolida o protagonismo do agronegócio brasileiro na mitigação climática e no mercado de carbono global.
Sustentabilidade na base do protagonismo
18 de Dezembro de 2024Aos olhos do mundo, o algodão brasileiro virou um case de sucesso. Afinal, como um país, em apenas um quarto de século, deixou a posição de um dos maiores importadores de algodão do mundo, para se tornar o maior exportador. E isso, diga-se, com metade da área que a cultura costumava ocupar no passado. Dentre os muitos motivos, que vão desde a profissionalização do cotonicultor e o aporte de novas tecnologias, graças à pesquisa científica intensiva, está a sustentabilidade. Para o algodão brasileiro, desde cedo, a sustentabilidade é um pilar, ou, como se diz na Abrapa, um compromisso. Sustentabilidade tem a ver com meio ambiente, tem a ver com gente, mas também diz respeito à saúde financeira dos negócios. É como um sistema que se retroalimenta, afinal, sem remuneração, o produtor não tem como investir em tecnologia, em boas práticas, em capacitação da mão de obra... e nestas circunstâncias, não tem negócio que dure, muito menos que se estenda por muitas gerações. Como em todos os anos, desde a fundação da Abrapa, a sustentabilidade foi foco, e também uma diretriz, que está na base de todos os demais programas da entidade, além é claro, do Algodão Brasileiro Responsável, o ABR, um dos protocolos de certificação de fibra produzida em parâmetros responsáveis, ou sustentáveis. Criado em 2012, o ABR está presente em mais de 80% da produção nacional, e desde 2020, vem ampliando sua atuação. Primeiro, para as Unidades Beneficiadoras de Algodão, com o ABR-UBA, e, desde o ano passado, para os terminais retroportuários, com o ABR-LOG. Na safra 2023/24, mais de 3 milhões de toneladas de algodão foram certificadas pelo ABR. Isso representa 440 fazendas e, aproximadamente, 1,5 milhão de hectares. Essa certificação voluntária, auditada por órgãos independentes, posiciona o Brasil como referência global, em alinhamento com a Better Cotton (BC), a maior iniciativa de sustentabilidade no setor. A certificação socioambiental eleva o padrão da pluma brasileira no mercado nacional e internacional, assegurando boas condições de trabalho e respeito ao meio ambiente em toda a cadeia, desde o campo até o porto. Avanços na cadeia produtiva Além do campo, o programa ABR-UBA certificou 47% das unidades beneficiadoras, o que representa 116 algodoeiras, promovendo eficiência, segurança e sustentabilidade no beneficiamento de 2,5 milhões de toneladas de algodão na safra 2023/2024. Nos terminais retroportuários, o ABR-LOG certificou 43% do volume movimentado, garantindo a integridade dos fardos destinados à exportação. Cotton Day Santos Em 06 de novembro, o Cotton Day Santos reuniu lideranças para debater melhorias no Porto de Santos, responsável por 95% dos embarques de algodão do Brasil. Com movimentação anual de 2,7 milhões de toneladas de algodão beneficiado, o porto desempenha papel crucial no escoamento da produção crescente, processando de 110 a 120 mil contêineres por ano. O evento, promovido pela Associação Comercial de Santos (ACS), junto com a Abrapa, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), reforçou a importância de investimentos para sustentar o aumento contínuo das exportações. Carbono: Uma Nova Fronteira A cotonicultura brasileira também dá passos pioneiros no cálculo da pegada de carbono do algodão em caroço, pluma e óleo. E para isso, está desenvolvendo uma calculadora, a Footprint PRO Carbono, uma iniciativa desenvolvida em parceria com a Embrapa, Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e Bayer. Esse projeto, lançado em 27 de novembro, busca desenvolver perfis ambientais detalhados das principais regiões produtoras, reforçando o compromisso com práticas agrícolas responsáveis e alinhadas às exigências de mercados globais. Compromisso com o Futuro O Brasil deve manter a liderança de maior exportador de algodão em 2024/2025. A Abrapa prevê um aumento de aproximadamente 5,8% no volume de algodão beneficiado, consolidando sua posição no topo do ranking. Aliar inovação, sustentabilidade e governança, é, sem dúvida, a receita para a longevidade nesta posição.