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Carta Aberta do setor Produtivo Pandemia do Coronavírus – Covid-19
20 de Março de 2020

Aos Excelentíssimos Senhores, Jair Messias Bolsonaro Presidente da República Federativa do Brasil Tarcísio Gomes de Freitas Ministro de Estado de Infraestrutura As entidades abaixo assinadas, que representam as mais importantes cadeias produtoras de alimentos, fibras e energia do país, solicitam apoio do Governo Federal no sentido de garantir o funcionamento da logística nacional de abastecimento. Especialmente do Porto de Santos diante da ameaça de paralisação por parte do Sindicato dos Estivadores de Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Guarujá. Entendemos que o governo federal e as autoridades constituídas têm trabalhado no sentido de atender as medidas necessárias para mitigar risco de contágio. Tais orientações e medidas, em nosso entender, devem ser prontamente atendidas não apenas para que se preservem questões humanitárias, bem como evitar uma crise sem precedentes para o nosso País. Caso os estivadores sindicalizados cheguem a paralisar o Porto de Santos há elevadas chances de essa ação disparar processo em cadeia nos demais portos, destruindo empregos e afundando o País em um "efeito dominó" cujos prejuízos são incalculáveis neste momento. Entendemos que a interrupção das atividades portuárias vai na contramão do que tem sido praticado em nações cujo o impacto do coronavírus tem sido ainda mais grave do que o verificado no Brasil. Todos os esforços têm sido no sentido de garantir o livre trânsito de mercadorias, sejam alimentos, combustíveis, medicamentos ou insumos necessários para a produção e para a manutenção do abastecimento das populações ao redor do mundo. Com votos de que superemos de forma mais breve este difícil momento, Nossos cumprimentos, Assinam este documento: ABAG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AGRONEGÓCIO ABBA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA BATATA ABCS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE SUÍNOS ABCZ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE ZEBU ABIEC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE ABIFUMO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO FUMO ABIMAQ - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS ABIOVE - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS ABIPESCA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE PESCADOS ABPA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL ABRAFRIGO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRIGORÍFICOS ABRAMILHO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE MILHO ABRAPA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO ABRASS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SEMENTES DE SOJA ACRIMAT - ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE MATO GROSSO ALCOPAR - ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE BIOENERGIA DO ESTADO DO PARANÁ AMPA -  ASSOCIAÇÃO  MATOGROSSENSE DOS PRODUTORES DE ALGODÃO APROSMAT - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SEMENTES DE MT APROSOJA - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA DE MATO GROSSO DO SUL- MS APROSOJA BR - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SOJA APROSOJA MT - ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA E MILHO DO ESTADO DE MATO GROSSO CECAFÉ - CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL CITRUS BR - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS CROPLIFE BRASIL FAEP - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO PARANÁ FAESP - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO FAMATO - FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO MATO GROSSO FIESP - FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO FENSEG - FEDERAÇÃO NACIONAL DE SEGUROS GERAIS FNS - FÓRUM NACIONAL SUCROENERGÉTICO IBÁ - INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES OCB - ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS ORPLANA - ORGANIZAÇÃO DE PLANTADORES DE CANA DA REGIÃO CENTRO SUL DO BRASIL SICREDI - CONFEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO SICREDI SINDAN - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA SAÚDE ANIMAL SINDICERV - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DA CERVEJA SINDIRAÇÕES - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL SINDIVEG - SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL SRB - SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA UNEM - UNIÃO NACIONAL DO ETANOL DE MILHO UNICA - UNIÃO DA INDUSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR UNIPASTO - ASSOCIAÇÃO PARA O  FOMENTO À  PESQUISA DE MELHORAMENTO DE FORRAGEIRAS VIVA LÁCTEOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LATICÍNIOS

Sou de Algodão inaugura nova fase com manifesto que ressalta moda responsável
20 de Março de 2020

Sou de Algodão inaugura nova fase com manifesto que ressalta moda responsável Seguir em ação para crescer, florescer e fazer o bem. A ideia que arremata o terceiro manifesto do movimento Sou de Algodão, divulgado nesta sexta-feira (20/03), foi também a razão que levou a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e suas associadas a manter a agenda de lançamento da nova fase da iniciativa, mesmo quando o mundo se vê forçado a mudar os planos, em função da pandemia. O movimento foi criado em 2016, conclamando toda a cadeia produtiva da matéria-prima para juntos chamar atenção dos consumidores brasileiros para as vantagens do algodão sobre seus concorrentes têxteis, e, assim, aquecer o mercado interno. Ao longo de três anos e meio, contudo, o movimento tem ido além. Ganhou corpo, engajou parceiros dos mais variados segmentos e virou causa. No início, contrapondo natural e sintético. Depois, ressaltando a fibra democrática, inclusiva e sustentável da moda brasileira. Agora, sendo o movimento que cultiva a moda responsável do Brasil.  Atualmente, mais de 180 marcas integram a iniciativa. Chegar a esse número exigiu um trabalho corpo a corpo, para o esclarecimento, mudança de percepção e adesão, primeiro, dos que pensam e fazem a moda, rumo à preferência do consumidor final. Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor e o segundo maior exportador mundial do produto, e o país é reconhecido tanto pela qualidade da matéria-prima, quanto pela forma sustentável com que a produz, uma vez que os processos produtivos seguem rigorosamente as legislações trabalhista e ambiental brasileiras, consideradas das mais rigorosas do mundo. Além disso, a Abrapa criou o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que, desde 2013, atua em benchmark com a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI), respectivamente, na certificação e licenciamento da pluma produzida em parâmetros sustentáveis, do ponto de vista ambiental, social e econômico. “Cada roupa feita com algodão conta uma história. Mas essa matéria-prima também faz parte da história das pessoas que trabalham com ela, como a minha família, que dedica a maior parte do tempo ao seu cultivo, na região centro-oeste do Brasil. A pluma está no nosso sangue. Antes de produzirmos, ela já era a nossa preferência para vestir os nossos filhos e para os cuidados de higiene, desde o berço. Hoje vemos eles fazerem o mesmo com os nossos netos”, conta o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, que, junto com a família, literalmente, veste a camisa do movimento num dos 20 vídeos testemunhais do manifesto. Assim como os Garbugio, diversas pessoas reais, dos vários elos da cadeia produtiva, contam como suas histórias pessoais se “entrelaçam” com a fibra. A engenheira agrônoma e de segurança do trabalho, Bárbara Bonfim, é uma das personagens. Ela trabalha na Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) há cinco anos, na coordenação do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) na Bahia. “Cresci no algodão como pessoa e como profissional. A Abapa foi o meu segundo emprego. Posso dizer que o algodão movimenta a minha vida. O Sou de Algodão é importante para mostrar que a nossa fibra é produzida de forma sustentável, socialmente correta e com qualidade”, afirma. O manifesto O que põe você em movimento? É plantar o que vem da terra? Ou é saber que grandes mudanças só são possíveis quando cultiva a sua origem? É transformar uma matéria-prima em produto? Ou é acreditar que mãos, mentes e máquinas, juntas, são o motor de novos e bons negócios? É medir, moldar, cortar, desfilar, escrever e fotografar? Ou é lutar por parcerias e encontros que mostram que moda não é só roupa, é cultura? É desfilar looks com elegância e sofisticação? Ou é vestir jeans, alfaiataria, vestido de gala e até pijama e sentir-se confortável na sua própria pele? É experimentar a brisa do amanhecer, testemunhar a tecnologia acontecer numa linha de produção, ouvir o toque toque de um salto na passarela, ou sentir a maciez do cobertor que cobre seus filhos? A gente ainda não sabe o que te move, nem quer que você escolha apenas uma opção. Mas queremos muito que você siga em ação, afinal, quanto mais você se movimenta, mais o nosso movimento cresce e floresce, sem jamais deixar de fazer o bem. Sou de Algodão O movimento que cultiva a moda responsável do Brasil   Créditos da produção do manifesto:   Direção Criativa e produção executiva: ÀMdC Agência Fotógrafo: Thiago Bruno Vídeo: Samuel Alexandre Beleza: Helder Rodrigues

22 de março – Dia Mundial da Água
20 de Março de 2020

A marca que um pé deixa sobre a terra fofa ou na areia da praia nos fala de uma presença que talvez nem esteja mais lá, mas imprimiu um rastro, uma pegada. Uma evidência que, mesmo sem palavras, ajuda a reconstituir uma história: a velocidade do passo, o peso do corpo, o instante provável da passagem daquele pé por ali. Não por acaso, o termo "pegada" tem sido usado com frequência nas situações em que se avaliam os impactos, geralmente ambientais, decorrentes da produção de bens de consumo, ao longo de todo o ciclo de vida (ou a história) de um produto. Às vésperas do Dia Mundial da Água, nada mais natural que falar sobre pegada hídrica. Há exatamente um ano, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) se engajou a uma iniciativa que tinha por meta estimar o quanto de água representa a vida útil de uma calça jeans, desde a lavoura até o nosso guarda-roupas. O desafio foi proposto pelo movimento Ecoera, e encampado pela indústria têxtil Vicunha, junto com a consultoria em sustentabilidade H2O Company e a Iniciativa Verde. A Abrapa e suas estaduais contribuíram com informações sobre o modo de produção nacional da fibra, reconhecido como um dos mais sustentáveis do mundo quanto ao uso da água, já que praticamente toda a produção da matéria-prima utiliza apenas a água da chuva, num modelo conhecido como "sequeiro". Em outras palavras, na lavoura, na safra considerada no estudo – plantada em 2018 e colhida em 2019 – somente 8% da água, que fez com que as plantas se desenvolvessem e fornecessem a pluma que será transformada na indústria têxtil, vieram de cursos d'água como rios e lençóis freáticos através de sistemas de irrigação. Os demais 92% caíram do céu, pelas graças da natureza do cerrado, bioma que se ajusta certinho às demandas do algodoeiro: chuva no plantio e desenvolvimento, e seca na colheita. "A água, assim como a terra, são os grandes ativos de um agricultor.  Por isso, a gente tem de cuidar desse patrimônio natural, para garantir que continuaremos na atividade por muito tempo, e os nossos filhos e netos – se quiserem – podem também dar seguimento ao negócio", pondera o presidente da Abrapa, Milton Garbugio. Mas, para a surpresa de muitos, do número alcançado ao final do estudo, 5.196 litros por calça jeans, uma significativa parcela do recurso hídrico utilizado – 4.247 litros/calça jeans – cabe aos produtores rurais, mesmo que eles não abram a torneira. Depois de conversar com Claudio Mendonça, sócio-diretor da H2O Company, empresa responsável pela metodologia utilizada na mensuração, essa conta fica fácil de entender. Verde, azul e cinza O número final de litros por calça jeans produzida, em si, diz pouco. É preciso analisá-lo por um prisma de três cores: azul, verde e cinza.  São indicadores utilizados na conta, que considera não apenas a quantidade do uso em litros para fazer uma calça jeans, mas a "natureza" desse uso. A água que vem da chuva, a que é captada dos rios, a que volta para os rios pelos esgotos industriais, a evaporada após a chuva na lavoura, aquela que gastamos todas as vezes em que lavamos a peça em nossas casas, dentre outras. De acordo com o estudo, a pegada da cotonicultura é predominantemente verde. A água da chuva representa 50% na ponderação dos três indicadores. De todas as etapas da produção analisadas – plantio, tecelagem, confecção, lavanderias, consumidor e pós-consumo – esta cor aparece apenas na produção agrícola. "O cultivo com água de chuva, representado pela pegada verde, é um diferencial muito positivo do algodão brasileiro", ressalta Claudio Mendonça. Não adianta nada tentar comparar o número final (5.196 litros/calça jeans) aos resultados obtidos em outros países. "Cada lugar de produção tem características específicas. O importante é conhecer a necessidade de água na sua própria região, avaliar a disponibilidade do recurso e garantir o uso mais eficiente", adverte Mendonça. A pegada hídrica verde representa a água de chuva absorvida pelas plantas. A cinza é a água que a natureza precisa dispor para diluir os poluentes do processo produtivo quando ela volta para a natureza. Já a azul é a captada nos cursos d'água, descontando a que é devolvida no mesmo local, ou seja, considera-se a água evaporada ou devolvida em um lugar diferente de onde foi captada. Por exemplo, a chuva ou a irrigação molham a terra. Uma parte do líquido é absorvida e evapotranspirada pelas plantas, voltando para as nuvens em forma de vapor. É aí que contabilizamos a água verde (chuva) e azul (irrigação) do processo agrícola. Já a outra porção da água não absorvida pelas plantas, segue para os rios, através do escoamento superficial ou infiltração pela terra até o lençol freático, que é subterrâneo. Caso a água escoada contenha micropartículas de produtos químicos, como fertilizantes ou defensivos usados na lavoura, mais cedo ou mais tarde, essa água vai chegar aos rios, demandando água cinza para a diluição de eventuais poluentes que chegam até lá. A questão, segundo Cláudio Mendonça, é que, seja pelo escoamento, conhecido como lixiviação, ou através dos esgotos industriais ou domésticos, esses poluentes vão demandar uma certa quantidade de água para ser diluídos na natureza, o que chamamos de água cinza. E quanto maior for a quantidade de resíduos, mais água será necessária para os rios conseguirem assimilá-los. Numa comparação bem banal, é como o açúcar que se acumula no fundo de uma xicara de café quando a gente exagera um pouco na quantidade. Ele não desaparece, ainda que se mexa muito com a colherinha. O princípio é exatamente o mesmo. Existe um ponto de saturação para diluir elementos na água e, quando é atingido, não há nada que resolva além de mais... água. Medir para gerir Conhecer a pegada hídrica, então, tem mais a ver com descobrir o quanto desse recurso natural será necessário para fazer com que uma atividade produtiva permaneça por muitos e muitos anos e, assim, agir de modo a garantir a manutenção desse insumo, que é natural, e cujo uso tem repercussão social e econômica também. Basicamente, é mensurar para melhor administrar. "O Brasil tem uma condição muito especial em sua localização geográfica que determina um regime de chuvas muito favorável ao algodão, nas áreas onde atualmente ele é plantado, no centro-oeste do país.  Estamos na mesma faixa latitudinal de continentes e países com desertos, como África, Austrália e Chile, e, no entanto, somos ricos em água doce. Isso se deve à influência da Floresta Amazônica e da cordilheira dos Andes, através dos chamados "rios voadores", que direcionam as nuvens da Amazônia para o Centro-Oeste brasileiro. Conhecer a pegada hídrica de uma calça jeans nos ajuda a tomar decisões e a entender a importância da preservação desse sistema", afirma. Mendonça explica que a manutenção da floresta é decisiva para a permanência do regime de chuvas no cerrado, e, consequentemente, para a sustentabilidade da cotonicultura. Ferramenta Na pegada hídrica de uma calça jeans, todo mundo faz parte do "pé" que deixa a sua marca. Logo, tem responsabilidade nesse número. Para a fundadora do Movimento Ecoera e consultora de sustentabilidade, Chiara Gadaleta, de nada adianta conhecer a pegada e guardar o número na gaveta. "Essa ferramenta não foi feita para ficar parada. Por isso, criamos a plataforma A Moda Pela Água, na qual a Abrapa e o movimento Sou de Algodão têm destaque, e onde participam diversas empresas que chamamos de Guardiãs da Água. Ela serve para que a gente converse sobre o quanto e o como usamos o recurso, e para que juntos encontremos soluções de forma setorial", explica. E por que a calça jeans?   Segundo Chiara Gadaleta, o clássico e democrático azul venceu a disputa contra a elegância casual da camiseta branca, como a peça querida dos brasileiros. "Fizemos pesquisas e entendemos que ele poderia ser protagonista dessa narrativa, para que pudéssemos começar a falar em pegada hídrica. A gente inaugurou um capítulo sobre o consumo de água na indústria da moda no Brasil, graças ao investimento que a Vicunha fez na metodologia e numa equipe de quatro empresas, que, em dez meses, foi a campo colocar em prática a metodologia da Water Footprint", relata.  "Não dá pra falar de jeans sem tratar de algodão. E o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), programa da Abrapa, implantado por suas associadas, tem atributos muito interessantes e significativos", complementa. Chiara lembra que essa é a primeira vez que se fala de um número nacional de pegada hídrica na calça jeans. "Vivíamos repetindo números de outros países, totalmente descolados da nossa realidade", conclui. Uma das mais tradicionais indústrias de denim no Brasil, a Vicunha abraçou o projeto, já que conhece de perto os temores de um déficit hídrico. "Com unidades instaladas no Nordeste, a preocupação com o uso responsável da água sempre fez parte da nossa estratégia, que engloba uma ampla plataforma de negócios sustentáveis, pautada pelo compromisso com a gestão de recursos escassos. Ao investirmos em projetos como a Pegada Hídrica Vicunha, queremos colaborar para a troca de informações e união do setor, com transparência, ética e responsabilidade", afirma Marcel Imaizumi, diretor executivo Operações, Supply Chain e Novos Negócios da Vicunha.

Mulheres ressignificam o consumo de algodão
06 de Março de 2020

Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) à Markestrat, em 2014, levantou que, do público consumidor de roupas de algodão no Brasil, as mulheres eram, de longe, a menor fatia. O algodão entrava em apenas 21% da composição de suas peças, contra 64% no caso dos homens e 83% na faixa infanto-juvenil. Os números sugerem diversas leituras, desde a opção pela praticidade de vestir roupas que "não amassem", sequem rapidamente ou permitam acompanhar as tendências da moda sem grandes investimentos financeiros, até mesmo a renúncia de algo que poderia ser melhor para si, em favor dos filhos. Uma escolha que vai contra a recomendação dos médicos, que, há muito tempo, afirmam que roupas, sobretudo as íntimas, feitas de algodão são a opção mais saudável para o corpo feminino. "A região genital feminina, por ser naturalmente úmida, pede cuidados específicos, como o uso de roupas íntimas à base de algodão. Esse material permite a evaporação do suor mais facilmente que os sintéticos, o que dificulta a instalação de algumas infeções como a candidíase, que é muito desconfortável. Sendo natural, o algodão também diminui o risco de alergias. Lembrando que não basta ser de algodão, as peças têm de ser confortáveis também na modelagem", diz a ginecologista Andrea Calmon. A preocupação com a matéria-prima das roupas e a saúde fala mais alto para as mulheres, quando se trata de produtos para os filhos. Isso explica por que o algodão está presente em mais de 80% das peças de roupas compradas para bebês, crianças e adolescentes. Um tecido natural, confortável, que permita à pele respirar e seja também amigável ao meio ambiente era o que Raquel S. procurava ao fazer o enxoval do segundo filho.  Pelas suas contas, gastaria em torno de mil reais com fraldas de tecido e ecológicas para o caçula José, com base na experiência pessoal com o mais velho, João. As chamadas de ecológicas são laváveis, feitas de tecido tecnológico por fora com forro de algodão nas partes que entram em contato com a pele do bebê. "Nos primeiros meses, um bebê gasta de cinco a oito fradas por dia. Considerando uma das não tão caras, que saem por volta de setenta centavos, seriam R$ 3,2 mil em dois anos e meio, tempo médio de desfralde", considera. Contudo, mesmo para a diretora de crescimento de uma startup, as cifras não foram nem de longe a razão da escolha. "Eu ficava aflita, imaginando o tanto de fralda que a gente descarta por dia com uma única criança. Cada uma delas vai demorar uns 400 anos para se degradar na natureza. Ponderei muito sobre praticidade, mas hoje vejo que é muito tranquilo. Além disso é mais saudável para o bebê", avalia. Para muitas mulheres, entretanto, o algodão tem sido não apenas uma opção de consumo saudável e ecológico, mas uma ferramenta para a realização de sonhos. E a crescente conscientização do mercado para a sustentabilidade – social, ambiental e econômica – tem ajudado, incrementando a demanda no ponto de venda, o que reverbera em toda a cadeia produtiva. Mas nem precisa ser mulher para perceber o quão difícil é encontrar, no dia a dia, roupas em algodão que possam ir além do básico, seja para arrasar no baile ou seduzir. Heloísa Barbante de Melo (56) e a sócia Lígia Dalla Stella (57) entenderam os sinais dessa tendência e a transformaram em negócio. Elas são donas da marca Alices, especializada em roupa íntima 100% algodão. O nome da empresa não é casual. "Era assim que nossos antigos maridos se referiam a nós por causa do nosso sonho de empreender: as 'Alices'. Para eles, vivíamos no 'país das maravilhas'", relembra. Por um tempo, elas optaram por estar fora do mercado de trabalho para se dedicar à educação dos filhos. "Nunca nos arrependemos. Hoje eles estão muito bem encaminhados, e, em 2017, quando tomamos coragem para empreender, eles nos apoiaram muito.", diz. Heloísa e Lígia acreditaram no projeto e levaram pelo menos um ano para desenvolver os protótipos. Queriam criar peças bonitas e duráveis, para mulheres confiantes e seguras do próprio corpo. "Acreditamos que faltavam opções de roupas íntimas que unissem o conforto do algodão 100% a modelos bonitos e elegantes. A mulher confiante não busca seduzir. Ela procura conforto e bem-estar. Por isso, optamos por aliar o tecido 100% algodão a rendas e tules de excelente qualidade, somente em áreas como as laterais, que não estão diretamente em contato com as partes mais sensíveis do corpo feminino", explica. A marca é uma das 170 parceiras do movimento Sou de Algodão, da Abrapa, e a comercialização das peças é basicamente virtual, pelo Instagram @alicesroupaintima. Foram dez anos de dilema até assumir que trocaria os quatro anos de faculdade e outros tantos no mercado, como jornalista, pela sua grande paixão, o crochê. A arte que aprendeu ainda menina com uma tia-avó era sempre a terapia para os momentos de stress da trabalhadora compulsiva. Desde os sete anos de idade, Simone Seara (42) esquecia da vida ou dava vazão às ansiedades entre linhas coloridas de algodão. Ela sempre gostou de inventar pontos novos, criando um estilo todo próprio para as bolsas, carteiras, paninhos e o que mais lhe ocorresse, no momento em que a linha começava a ganhar forma na ponta da agulha. Mas daí até chegar à "Mimo", sua primeira experiência como microempresária, foram muitos pontos e nós. Quando o primeiro filho, Mathias (6) chegou, após algumas tentativas e muito investimento financeiro e emocional, decidiu parar o trabalho para cuidar dele. Estava quase voltando ao mercado de trabalho, mas descobriu que Cecília (3) estava a caminho, totalmente de surpresa. Dessa vez, sem nenhuma ajuda da ciência. Foi justamente com a pequena, apaixonada por adereços de cabeça como "tiaras", que veio o insight. "Um dia, peguei uma tiara velhinha e resolvi desmanchar para obter apenas o arco e encapá-lo com crochê. Ela adorou", afirma. E criou flores, ursos e mais um sem fim de bichinhos feitos à mão, com a técnica, em 100% algodão. O sonho virou projeto. "Primeiro, precisava testar a aceitação e tinha para isso o 'laboratório' ideal:  o grupo de mães da escola e o das que frequentam as atividades extracurriculares das crianças, como o futebol", conta. Na propaganda boca a boca, os pedidos foram crescendo e Simone precisou acelerar a produção. Hoje já se prepara para dividir o trabalho. Seu turno começa sempre depois das 20h, após o dia de correrias e obrigações de uma mãe que não conta com o suporte de babás e diaristas. "Durante o dia, aproveito o tempo entre uma atividade e outra deles, e faço as tiaras de crochê até enquanto espero o portão da escola abrir", revela. O trabalho é artesanal e minucioso.  Em média, ela consegue fazer apenas cinco peças ao dia. "É muito menos do que me demandam", calcula. O dinheiro que ganha ainda não cobre as despesas da casa, mas garante custos como os dos taxis que ela precisa tomar levar as crianças para a escola, as eventuais consultas e muitas atividades. "Dentro da minha própria família, percebi o preconceito por querer cuidar dos filhos e trocar uma carreira por uma atividade artesanal.  No início me incomodava e respondia aos questionamentos como se devesse satisfação a essas pessoas. Depois que eu comecei a ver a importância que eu tinha na formação dos meus filhos, passei a enxergar meu papel com outros olhos: na verdade sou privilegiada de poder dispor desse tempo. Quanto ao crochê, nunca me senti tão feliz com um trabalho como finalmente me sinto agora", ela diz. Por enquanto, vendas só pessoalmente e pelo instagram @mimosimoneseara. Empreender, para Amanda Santos (29), não foi uma opção: era a única via para dedicar tempo e garantir renda para a família, quando a maternidade chegou sem ser esperada e com alguns requisitos extras. Era 2013, quando as gêmeas nasceram. Uma delas, com uma condição de saúde que a obrigava a constantes internações, a hidrocefalia. "Via as histórias de empreendedorismo e pensei: dá certo para todo mundo e vai ser assim também comigo". Amanda criou a "Menina Galhofeira", marca de roupas infantis feitas em algodão, que ela vendia em feiras voltadas para as classes A e B. Só que, bem mais que as roupas, quem acabou fazendo sucesso foram as sacolas especiais de algodão cru que ela costurava e personalizava para acondicionar os produtos. "As clientes falavam em sustentabilidade, em consciência ecológica, e eu não havia mirado naquilo. Onde eu moro, a Zona Leste de São Paulo, isso não era nem uma demanda. Fui pesquisar e me apaixonei pelo tema", diz. Hoje a sustentabilidade, junto com empreendedorismo, maternidade e a possibilidade de inserir a consciência ecológica nas pequenas empresas viraram o manifesto da Ideia Crua, a quinta e exitosa experiência de Amanda no mundo dos negócios. Dessa vez, as estrelas são as "ecobags" personalizadas de algodão cru. "Ninguém conta para a gente que empreender não é só glamour", desabafa. E quando se trata de empreendedorismo feminino, isso pode ser ainda mais complicado.  "No ramo de estamparia e confecção, as posições de decisão são sempre de homens, e, para eles, eu não sabia o que estava fazendo", lembra. Durante um ano, assumia sozinha todas as etapas da produção. Hoje emprega sete pessoas em um galpão próprio, de 350 metros quadrados. "Fica em frente à escola das minhas filhas, o que facilitou bastante. Consumir produtos e serviços localmente, nos nossos próprios bairros, faz toda a diferença. Estamos sempre juntas", comemora. Para dar oportunidade a outras pessoas da comunidade, Amanda está lançando o projeto Guilda, que vai ensiná-las a trabalhar com máquinas industriais de confecção. A ideia por trás do projeto ainda nem era um conceito nas associações de artesãos da Idade Média que inspiraram o nome da iniciativa social. Mas, como aquelas, seu objetivo é "empoderar" pessoas com interesses comuns, dando a elas mais chances e oportunidades contra o desemprego e outras vulnerabilidades. "Assim, podem ter uma renda extra e ainda estar prontos para quando eventualmente precisarmos expandir a empresa", explica. Se ela dá preferência às mulheres nesses treinamentos e nas contrações? "Não é preciso. Basicamente, as mulheres são a realidade. É com elas que trabalho", finaliza.

Impostos ao Agro
21 de Fevereiro de 2020

O empenho da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Alceu Moreira, e do senador Luiz Carlos Heinze para desonerar o agronegócio e evitar riscos à competitividade do setor foi reconhecido pelo vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato, ontem, 19/01, durante seminário na sede do Ministério da Agricultura, em Brasília. Intitulado “Tributação no Agro: Aspectos da Competitividade”, o evento destacou, entre outros assuntos, a pauta das reformas tributária e fiscal, cujos impactos sobre a produção agrícola podem trazer graves consequências, como aumento nos custos produtivos, desemprego, e, em última instância, preços dos alimentos mais altos para o consumidor final. “Juntos, nós agricultores, Mapa e parlamentares do agro, estamos buscando formas para evitar que o setor seja mais penalizado. Acreditamos que, com a reforma administrativa, o Governo possa reduzir seus gastos e ser mais eficiente”, afirmou Busato, que preside a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Segundo Busato, para os segmentos da agropecuária que exportam, como é o caso do algodão e da soja, o aumento da carga tributária tem ainda o agravante de reduzir a rentabilidade do produtor, que, ao contrário de outros setores, não definem o preço dos seus produtos. Portanto, não podem repassar os aumentos para os consumidores diretos. “Sobretaxar commodities agrícolas significa exportar impostos. Isso é inconcebível”, conclui.

Cotonicultores brasileiros conhecem a fábrica da Tama, na Bahia
20 de Fevereiro de 2020

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio, e uma comitiva de dirigentes das associações estaduais e executivos das entidades, visitou hoje, 20/02, a fábrica brasileira da empresa israelense Tama, instalada, desde 2014, no município de Feira de Santana, na Bahia. A companhia é a fabricante exclusiva dos filmes plásticos TamaWrap para as colheitadeiras John Deere 7760 e CP 690. Os fardos cilíndricos, envoltos no plástico amarelo, são considerados uma revolução no modo de colher a fibra em todo o mundo. Estima-se que produto já tenha participação em cerca de 85% da safra brasileira de algodão. A unidade na Bahia, a única a produzir o TamaWrap fora de Israel, supre a demanda do Brasil, da Argentina e da África. Atualmente, sua capacidade produtiva é de 3,3 milhões de unidades do produto ao ano. Cada unidade representa um fardo de algodão no campo. Na visita, os produtores aproveitaram a oportunidade para falar de iniciativas que já desenvolvem e contam com o apoio – dentre outras empresas – da companhia, como o movimento Sou de Algodão, que entrou no quarto ano de atividade. Em 2018, a Tama desenvolveu uma campanha engajada ao movimento. "Fizemos uma série especial do TamaWrap com tiragem suficiente para enfardar, aproximadamente, 1950 fardos com a logomarca do Sou de Algodão. Esses cilindros customizados ficavam à beira das rodovias, na Bahia e no Mato Grosso, e chamavam atenção de quem passava pela estrada", lembra o gerente de Vendas e Marketing da Tama Brasil, Bruno Caetano Franco. O movimento Sou de Algodão é uma iniciativa liderada pela Abrapa, com ênfase em sustentabilidade, que visa a divulgar os atributos positivos da fibra natural e conquistar mais espaço na preferência do consumidor brasileiro. "Quando a John Deere e a Tama uniram suas tecnologias, revolucionaram o jeito de colher algodão. Esse novo modelo mudou tudo, desde o tempo que a gente leva na colheita até a logística. Foi muito bom ver de perto como essas embalagens são produzidas. São produtos de alto valor agregado, e custo alto também, mas que representam mais qualidade e agilidade no processo", afirmou Milton Garbugio. "Abrir a porta para o produtor nos permite entender suas demandas e trabalhar conjuntamente no desenvolvimento das soluções que precisam", completa Bruno Caetano Franco. Segundo ele, para esta safra, a empresa está trabalhando numa embalagem alternativa, projetada para a armazenagem do algodão por períodos de três a quatro meses. "Trata-se ainda um projeto piloto, com produção limitada a 150 mil unidades e preço reduzido em comparação ao tradicional", revela. A Tama nasceu no Kibbutz Mishmar Ha'Emek, em Israel, comunidade agrícola, e tem 70 anos de expertise no desenvolvimento de produtos para o enfardamento de cultivos.

Convênio 100 e Decreto 10139/2019 em pauta na primeira reunião da Câmara Temática de Insumos Agropecuários
18 de Fevereiro de 2020

A Câmara Temática de Insumos Agropecuários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reuniu-se ontem (17/02), pela primeira vez este ano, em Brasília. Na pauta extensa, que contou com o suporte de alguns especialistas convidados, questões que hoje ameaçam a competitividade brasileira ou atravancam a produção rural. Dentre os tópicos em questão, o excesso de instruções normativas e portarias não mais aplicáveis, mas ainda ativas, no Ministério da Agricultura, que são objeto do Decreto 10139/2019. Além deste, a possibilidade de extinção do Convênio 100/97, que concede redução de 60% da base de cálculo do ICMS de defensivos químicos nas saídas interestaduais e também nas operações internas envolvendo os produtos. De acordo o presidente da Câmara de Insumos, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato, estima-se que, atualmente, existam em torno de 110 mil instruções normativas e portarias em vigor no Mapa. "Muitas dessas não servem mais para nada. Não se aplicam no contexto atual, mas interferem no nosso trabalho. O que estamos sugerindo ao Mapa é uma revisão desse conteúdo, o que também vale para outras instâncias, como o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama", afirma Busato, que também preside a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Para falar sobre o tema, foram convidados o Advogado da Advocacia Geral da União (AGU), César Kirsch e o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno B. Lucchi.  Custos podem subir Aumento no custo dos alimentos para o consumidor final e redução de rentabilidade para produtores rurais são alguns dos riscos que virão a reboque de uma possível extinção do Convênio 100. No caso dos cotonicultores, a perda de rentabilidade seria em torno de 11%. Já para algumas culturas, com a do arroz, o fim da isenção pode culminar a inviabilidade total da atividade. A ameaça também foi debatida na Câmara de Insumos. Busato ressalta que os produtores de algodão sentirão fortemente esses efeitos, mas não apenas eles. "Salvo em raríssimos casos, é impossível fazer agricultura no Brasil sem defensivos. Acabar com a isenção é dar um tiro no pé, pois a produção agrícola brasileira deu um salto nos últimos 35 anos, justamente porque começou a ter acesso a tecnologias de combate a pragas e doenças, impulsionada pelo Convênio 100. Estados que hoje são fortes no agronegócio brasileiro só se desenvolveram após essa medida. Ao tentar acabar com o benefício, esses estados, ao invés de arrecadar mais, irão ter grandes perdas e prejuízos", defende Júlio Busato. O vice-presidente da Abrapa enfatiza que, ao contrário de outros setores, como a indústria e o comércio, os agricultores que exportam não têm como repassar esses aumentos de custos aos seus clientes, pois o preço não é formado por eles, mas pelo mercado. "É impensável exportar impostos", contesta.

Programa Mais Algodão conclui atividades no Peru com foco no bicudo-do-algodoeiro
17 de Fevereiro de 2020

Com uma série de reuniões em Lima, no Peru, entre os dias 11 e 14 de fevereiro, vão chegando ao fim as atividades de cooperação internacional para o fortalecimento da cotonicultura nos países do Mercosul, Haiti e África Subsaariana, meta do programa Mais Algodão. O Peru, internacionalmente conhecido por seu algodão de fibra extralonga, cultivado em mini e pequenas propriedades, espelha-se no exemplo do Brasil para o controle do bicudo-do-algodoeiro, bem como em outras iniciativas positivas do país, que hoje é o quarto maior produtor e o segundo exportador mundial da pluma. Isso se dá, tanto na área de pesquisa científica e difusão de tecnologia, como na orientação para a instituição de modelos positivos de associativismo, gestão e governança, parâmetros fornecidos pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). De acordo com o diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, o compartilhamento de informações é essencial para fomentar a cotonicultura peruana, que já contabilizou cerca de 200 mil hectares de lavouras de algodão e hoje tem apenas em torno de 18 mil hectares. “O projeto chega ao fim neste ano de 2020 e cada país beneficiário vai transformar as informações que recebeu em um plano de gestão, que deverá ser submetido ao governo. Este, por sua vez, irá implantá-lo, destinando, para isso, recursos orçamentários”, detalha o diretor da Abrapa. Portocarrero diz que o algodão Pima peruano é conhecido por sua excelente qualidade e entra no blend das indústrias toda vez que se deseja alcançar tecidos diferenciados. “Entretanto, o modelo de produção deles é familiar, e a quantidade é muito pequena. Incrementar a cotonicultura lá ajuda aumentar a demanda por algodão nesse nicho de mercado de tecidos especiais”, explica. O foco das reuniões de encerramento do programa foi o bicudo-do-algodoeiro, principal praga da cultura no Brasil, mas uma preocupação menor no Peru. “O bicudo peruano é menos agressivo que o mexicano, que é o que quase exterminou a atividade nos anos 90 no Brasil e que segue sendo uma ameaça por aqui. Mas, claro, que lá ele também exige monitoramento e combate”, diz. Para o diretor, os resultados verificados no Peru foram muito positivos. Além da Abrapa, o Projeto Mais Algodão conta com a participação da Embrapa e da Emater, respectivamente, no apoio à difusão tecnológica, pesquisa e assistência técnica. Os signatários do projeto, junto com a associação, são o Ministério das Relações Exteriores do Brasil /Agência de Brasileira de Cooperação (MRE/ABC), o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e o Escritório da FAO para a América Latina e Caribe. Esta iniciativa surgiu, em 2012, como contrapartida brasileira às ações reparatórias ao Brasil, resultantes do acordo relativo ao contencioso do algodão, no qual o país saiu vitorioso em contenda histórica contra os subsídios americanos no âmbito da OMC. Durante a visita ao Peru, Marcio Portocarrero e os representantes da Embrapa e da Emater fizeram diversas visitas, que incluíram a Embaixada Brasileira e os órgãos de pesquisa, extensão rural e vigilância fitossanitária do Peru. Eles puderam ver os resultados alcançados com os ensaios, os materiais desenvolvidos, e, também discutiram a aplicação dessas informações para o fortalecimento da cotonicultura naquele país.  “Creio que o elo que faltava da parte do governo peruano era a extensão rural. É necessário um projeto para continuar o trabalho que vem sendo feito desde 2012, e para fazer esses resultados chegarem ao produtor e suas cooperativas”, concluiu o executivo.