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Transparência é o caminho para conquistar o mercado internacional

27 de Maio de 2021

Além da qualidade da fibra, a transparência das informações sobre lotes e fardos influencia diretamente a percepção e a valorização do algodão brasileiro no mercado, em especial o asiático - destino de 99% das exportações brasileiras da pluma.  Para ganhar a confiança do mercado e acelerar a trajetória brasileira rumo à posição de maior fornecedor de algodão do mundo, a Abrapa aposta na disponibilização de dados completos sobre rastreabilidade e análise de classificação.


"Com consumidores a cada dia mais conscientes e exigentes, fiações e indústrias querem saber exatamente o que estão comprando. Por isso, é fundamental ampliar a transparência dos resultados de nossas análises de qualidade", explica Júlio Busato, presidente da associação.


Nas últimas décadas, novos recursos tecnológicos e pesquisas para melhoramento genético possibilitaram a expansão da cotonicultura e deram dimensão empresarial à produção brasileira de algodão, posicionando o País como quarto maior produtor mundial e segundo maior exportador da pluma.  Na média, a qualidade da pluma produzida no Brasil é, hoje, superior à americana, nossa principal concorrente.


Apesar disso, o algodão brasileiro é precificado entre 400 e 450 pontos a menos que o americano. Segundo Marcelo Duarte, diretor da Abrapa para o mercado externo, o Brasil está perdendo mais de R$ 1 bilhão de reais por ano. "O produtor está deixando de ganhar mais de 100 dólares por hectare", estima.


Pesquisa realizada na Ásia com 127 industriais têxteis indicou que, além de características como comprimento da fibra, os três atributos mais valorizados são uniformidade dos lotes, tempo de entrega e transparência das informações. "Esse terceiro ponto é onde o Brasil mais perde para os Estados Unidos. É um atributo relacionado à confiança e temos que melhorar para conseguir melhor remuneração", avalia Duarte.


Para Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), dar visibilidade aos dados de todo o processo produtivo é um caminho sem volta. "A rastreabilidade dos insumos e de todos os produtos gerados ao longo de uma cadeia de produção é um dos pilares da Global Fashion Agenda na qual estamos inseridos. Mais e mais, isso vem sendo demandado pelos atores que compõem a rede de produção e de distribuição, além dos consumidores", pontua.


Essa também é a avaliação de João Paulo Lefèvre, presidente do Conselho da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM). Segundo ele, o mercado exige, cada vez mais, informações sobre a origem dos produtos e a certeza de que o algodão comercializado foi produzido dentro das melhores práticas - sejam elas de qualidade, trabalhistas e de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. "A possibilidade de rastreamento será um fator decisivo na hora da compra, quem não tiver condições de fornecer essas informações não fará parte do mercado premium e terá o seu produto desvalorizado", acredita Lefévre.


Júlio Busato, presidente da Abrapa, ressalta que o compromisso com a transparência deve ser de todo o setor. "Não adianta um produtor, por maior que seja, fazer isso sozinho", avalia. "Somos mais ágeis e mais criativos do que ao americanos, mas temos um longo e árduo trabalho pela frente, que é conquistar uma maior confiabilidade e credibilidade do algodão brasileiro como um todo", afirma Busato. Esse é o objetivo do Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI) lançado em 2016 pela Abrapa.


Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), acredita que o programa contribuirá para uma maior representatividade da cotonicultura brasileira no comércio mundial. "O país produz em grande escala com tecnologia e responsabilidade socioambiental. O SBRHVI, neste sentido, pode dar mais transparência e credibilidade às análises de qualidade da fibra nacional, valorizando e fortalecendo a presença de nosso produto em diferentes mercados consumidores", avalia.


Banco de Dados


Um dos pilares do programa SBRHVI é um centro de inteligência, que armazena os dados de análise e classificação do algodão produzido no País. Todos os laboratórios participantes operam em rede, o que garante os resultados de origem e possibilita a geração de estatísticas do algodão brasileiro.


As informações do centro de inteligência do SBRHVI são disponibilizadas em um completo Banco de Dados, integrado ao Sistema Nacional de Dados do Algodão (Sinda), ao Sistema Abrapa de Identificação (SAI) e ao Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR). "Isso permite a inclusão de informações sobre a análise da fibra nas etiquetas SAI, completando a rastreabilidade da pluma brasileira", ressalta Júlio Busato.


Por que aderir ao SBRHVI


Todo produtor que participa do SBRHVI disponibiliza, ao comprador, dados da unidade produtiva, da algodoeira, das certificações ABR/BCI e ABR-UBA, dos fardos,


do laboratório e da análise de HVI. Essa transparência transmite confiança aos potenciais consumidores do algodão brasileiro.


"Quando se compra um produto, é natural que se queira saber em detalhes o que se está comprando", pondera Walter Horita, socio-proprietário do Grupo Horita, que cultiva algodão no Oeste da Bahia. "Ser parte do SBRHVI é um valor que se agrega para quem compra algodão e para quem vende, porque quem produz quer ser remunerado à altura do que entrega. Muito em breve, ser SBRHVI não será mais uma opção, mas uma condição para ser player num mercado extremamente exigente", diz Horita.


Nathalia Rezende Borges, produtora da região goiana de Mineiros e Perolândia, acredita que este tempo já chegou. "Não dá mais para negociar sem a divulgação de dados. Se não fizermos parte do programa, perdemos credibilidade e não conseguimos vender no mercado internacional", afirma. Sua expectativa é que o mercado reconheça e remunere melhor o produto com rastreabilidade total.


Com o propósito de auxiliar os cotonicultores nesse processe, a Abrapa atualizou o sistema de rastreabilidade para a safra 2020/21. A partir do segundo semestre de 2021, o comprador deverá se cadastrar no SAI para ter acesso às informações dos produtores participantes do programa SBRHVI. Será possível consultar fardo a fardo e o produtor poderá conceder um link para que o comprador faça consulta por lotes, via sistema SBRHVI.


Além de conferir confiabilidade ao algodão brasileiro, Júlio Busato salienta que a rastreabilidade completa é, também, uma excelente ferramenta de feedback dos compradores para os produtores, o que contribui para a melhoria contínua da qualidade da fibra produzida no Brasil. "É uma relação de ganha-ganha", resume o presidente da Abrapa.

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