O último dia do 14° Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), promovido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), foi dedicado a “elas”. Dez mulheres, cada uma com sua trajetória, estiveram reunidas na tarde desta quinta-feira (05) no workshop “Fortalecendo a presença feminina na indústria do algodão” para falar sobre uma paixão em comum a todas: a cotonicultura.
O primeiro painel teve a coordenação da vice-presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, que falou sobre a importância da liderança feminina no Brasil. “As mulheres têm se destacado em posições de comando, influenciando positivamente com a sensibilidade e a capacidade de comunicação, essenciais para o sucesso do setor a longo prazo”, afirmou. Exemplo de representatividade e liderança, a economista e ex-ministra do trabalho Dorothea Werneck deu sequência ao encontro abordando a equidade de gênero e a diversidade nas organizações. Ela destacou a importância de as mulheres não terem medo e valorizarem suas ideias dentro das organizações. “O medo imobiliza. Precisamos é agir. Se não deu certo, pedimos desculpas e fazemos de outro jeito. Não temos que ter medo de errar. Valorizem suas ideias, tenham opinião”, disse.
Na sequência, a cofundadora da Cotton Diaries e consultora de sustentabilidade, Marzia Lanfranchi, falou sobre o papel da mulher no setor de algodão através de sua própria história. Ela contou que, aos 28 anos, quando tinha acabado de fundar a Cotton Diaries, participou de sua primeira conferência na cotonicultura. “Quando entrei na sala, olhei à minha volta e havia, sobretudo, homens brancos com mais de 50 anos, usando ternos pretos. Fiquei nervosa porque, apesar de eu ter qualificação, sabia que nenhum deles era como eu. Coloquei um vestido e sapatos pretos para me encaixar naquela situação. Minha apresentação foi diferente porque trouxe uma abordagem envolvendo o lado humano da cotonicultura. Ao final, percebi que, por detrás daqueles ternos, havia sorrisos. Fui muito parabenizada e pensei: essa é a minha entrada na cotonicultura. Mas, logo depois, tive o desprazer de ouvir de um homem que eu deveria ao menos estar usando salto alto para instigar o desejo dos homens. Aquilo acabou com minha autoconfiança. Hoje aprendi que devemos ter menos ego, orgulho, formalidade e mais parceria, empatia, humor e representatividade. É por isso que estou aqui hoje”, disse.
A representatividade feminina também foi o foco da apresentação da diretora do Rural Banking, divisão agrícola do Rabobank no Brasil e na América do Sul, Pollyana Saraiva. Ela abordou a importância da presença feminina para o Brasil e, em específico, para o agronegócio brasileiro, sobretudo no que diz respeito à sucessão nas famílias empresárias dentro das porteiras das fazendas. “Acredito que estamos passando por um momento de transformação no setor. Mas as mulheres ainda precisam estar mais à frente da tomada de decisões da família junto ao banco, sendo incentivadas a participar cada vez mais do agronegócio”, afirma. Compartilhou da mesma opinião a vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Syngenta para a América Latina, Grazielle Parenti. Com mais de 30 anos de experiência e alta representatividade na Indústria de alimentos e do agronegócio, com passagens pela BRF, Diageo e Mondelez, a executiva apontou a importância de uma boa sucessão dentro de uma família empresária, pois o risco de não dar certo é grande. “Acredito muito na participação feminina na área de governança, pois elas querem que a família continue harmônica e prospere”, diz.
Vice-presidente da Mallory Eletroportáteis, membro fundadora do grupo Mulheres do Brasil e líder do núcleo Fortaleza, Annette de Castro trouxe sua grande experiência como executiva para afirmar que as mulheres precisam agir. “Há 50 anos, fundei uma fábrica na qual tínhamos 5 mil mulheres trabalhando. Tivemos que contratar psicólogos para os homens porque as esposas estavam empregadas e eles não. Penso que temos que andar com velocidade, mas manter o que temos dentro da alma, e isso as mulheres conseguem fazer com facilidade porque possuem empatia”, acredita.
O segundo painel, “Cultivando o Futuro: O Papel das Mulheres na Produção de Algodão”, foi mediado pela gestora do projeto setorial Cotton Brazil na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Rafaela Albuquerque. “O incentivo à inclusão de mais mulheres em cargos de liderança traz novas perspectivas para o setor, uma vez que a diversidade de gênero é associada a uma maior capacidade de resolver problemas de maneira criativa e eficaz”, afirmou.
Kim Hanna, da ICA Women in Cotton, abriu o debate com participação online, abordando a liderança feminina no mercado internacional e a importância das conexões globais entre mulheres atuantes no setor. “A diversidade de gênero é muito importante porque todo mundo merece ser promovido e receber um salário justo de acordo com suas capacidades”. Integrou o painel, também, Ingrid Zabaleta, assistente executiva regional da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), que destacou o desenvolvimento no setor do algodão através da igualdade de gênero aliada à sustentabilidade. A produtora rural Geni Schenkel, do movimento Agroligadas, fechou a programação falando sobre o sucesso da iniciativa, que completou seis anos. “A Agroligadas busca conectar mulheres de diversos setores a fim de inspirar uma nova visão sobre o agro através da educação e da criação de conteúdo. Conseguimos construir uma comunidade que gera conexão, trocamos conhecimentos e inspiramos lideranças femininas no setor”, conclui.