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Começa a temporada de beneficiamento da safra 2020/21 de algodão

09 de Julho de 2021

Está começando a temporada de beneficiamento da safra 2020/2021 de algodão.  Até novembro, toda a produção brasileira – estimada em 2,43 milhões de toneladas – terá passado pelas 204 algodoeiras ativas espalhadas pelo País  e estará pronta para ser comercializada mundialmente. O cuidado começa na colheita, e cada etapa do processo é determinante para a qualidade final da pluma.


O método de beneficiamento consiste na separação da fibra das sementes e das impurezas, por processos mecânicos precisos. O grande desafio é preservar as características intrínsecas e extrínsecas da pluma. "A arte do beneficiamento é conseguir a melhor relação entre seus efeitos positivos e negativos, para produzir a qualidade procurada com o menor custo possível", resume Jean Luc Chanselme, sócio-diretor técnico da Cotimes do Brasil e especialista em Engenharia e Tecnologia do Beneficiamento.


Para isso, é necessário cumprir rigorosos procedimentos, desde o campo até a armazenagem final dos fardos, devidamente rastreados e identificados com as etiquetas do Sistema Abrapa de Identificação (SAI). Jean Belot, pesquisador do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt),assegura que a primeira etapa do beneficiamento é uma boa colheita. "A qualidade do que sai da algodoeira depende do que entra", afirma. Nesse sentido, é fundamental respeitar boas práticas, como a limpeza regular do cesto das máquinas e a regulagem das placas.


Aspecto extremamente importante, segundo o pesquisador, é a umidade do algodão em caroço no momento em que é colhido. O ideal é evitar colheita à noite, porque o orvalho pode gerar problemas no algodão em caroço e encarneirar a fibra, o que dificulta o beneficiamento. A umidade também reduz o tempo de armazenagem. Se aguardar muito tempo para ser processado, o algodão pode esquentar e fermentar, degradando a qualidade. "Uma usina de beneficiamento não pode fazer milagre. Se o algodão chega ruim, não vai sair bom", alerta Belot.


Planejamento


A interação entre o campo e a usina é essencial, para que a beneficiadora saiba o tipo de algodão que está recebendo e como manejá-lo da melhor forma. Essa é a prática na SLC Agrícola. "Enxergamos a algodoeira como uma indústria dentro do campo, começamos nossas atividades planejando como tirar o algodão da lavoura  e adotamos controle de processos e indicadores", diz  o coordenador de algodoeiras da SLC, Edmilson Santos.


O grupo adota o modelo Toyota de produção, conhecido como produção puxada. O processo começa com a análise prévia da qualidade do algodão no campo e a identificação do que será oferecido aos mercados interno e externo.  A partir daí, é definida a programação de transporte e beneficiamento.  "Na produção puxada, conseguimos fazer uma segregação desse algodão, de acordo com suas particularidades, e realizamos o beneficiamento respeitando as características de cada variedade", explica Santos.


É preciso encontrar e respeitar os níveis de temperatura no processo de abertura da fibra para extração das impurezas e agregar umidade de forma equilibrada no descaroçamento, para preservar as características intrínsecas da fibra. "Tudo tem que ser analisado e planejado. Quando temos a produção controlada, conseguimos tomar as decisões corretas para beneficiar o algodão, fazendo a gestão do processo e agregando valor à pluma", garante o coordenador de algodoeiras da SLC.


A pluma beneficiada é enfardada e identificada com o Sistema Abrapa de Identificação (SAI), contemplando a sua origem. Fica reservada em estoque, aguardando o resultado das análises de classificação, com informações completas para formação dos lotes, de acordo com as características da fibra – cor, comprimento, alongamento, resistência e micronaire. Depois disso, os fardos de plumas são emblocados para  posterior expedição.


Mas os cuidados não terminam aí. A armazenagem também exige precauções, para evitar risco de incêndios, pontua Jean Belot. O pesquisador lembra que, durante o processo de beneficiamento, existe o risco de faíscas, que podem ser incluídas nos fardos e pegar fogo posteriormente.  Entre as medidas preventivas, ele recomenda  vistoriar regularmente o estoque, para identificar algum comportamento diferente, e manter espaço entre os fardos, para manobrar e afastar qualquer um com suspeita de fogo.


Estrutura industrial


A verdade é que o beneficiamento de algodão é uma atividade industrial. Por isso, a estrutura de uma algodoeira exige um detalhado projeto de engenharia – seja para construção, ampliação ou modernização. A primeira etapa é o correto dimensionamento da usina. Segundo Jean Luc Chanselme, o projeto deve considerar a estimativa de área cultivada e a produtividade para um período de 10 anos. "A capacidade deve ser adaptada ao nível de produção esperado. Se as máquinas forem sobrecarregadas, se perde em qualidade; se a estrutura for superdimensionada, o custo fica muito alto", ressalta.


O sequenciamento de máquinas e etapas também é fundamental no planejamento da usina. O projeto deve corresponder à matéria-prima que será beneficiada e à qualidade que o produtor quer obter no final do processo.  "A fibra é algo extremamente frágil e passa por processos mecânicos agressivos. O excesso de máquinas pode comprometer a qualidade da pluma", alerta Chanselme.


Aspecto fundamental de toda instalação industrial é a manutenção, e não poderia ser diferente com as algodoeiras.  Quando negligenciada, afeta a produtividade da usina e a qualidade da pluma - peças gastas dão um tratamento mecânico muito mais violento ao algodão e podem ter efeitos como quebra da fibra e do caroço, por exemplo.


A ação preventiva é a melhor estratégia e deve ser feita por uma equipe específica, distinta daquela encarregada da produção. "Esse é um dos pilares da chamada manutenção produtiva total", ensina o consultor. O time de produção deve estar focado nas regras de beneficiamento, para produzir fibra a partir do algodão em caroço da melhor forma possível. Enquanto isso, a equipe de manutenção observa o processo e programa a substituição preventiva de peças, para garantir que as máquinas trabalhem com todo o seu potencial e sem risco de panes e paradas na produção.


Nas algodoeiras da SLC Agrícola, estrategicamente a manutenção é realizada diariamente no intervalo entre os turnos de produção, entre 18h e 21h -horário de pico de energia e maior custo. "A manutenção planejada evita paradas no meio do processo de beneficiamento, isso faz com que a usina tenha uma melhor cadência e um menor custo de produção", explica Edmilson Santos. Como a atividade é sazonal e dura aproximadamente seis meses, os outros seis meses do ano são dedicados à manutenção preventiva, preditiva e vistoria minuciosa de todos os equipamentos, para que a usina esteja 100% preparada para a safra seguinte.


"Durante muito tempo, o beneficiamento foi considerado uma operação secundária. Não podemos esquecer que cada processo, dentro da algodoeira, é determinante para a qualidade do algodão", conclui Jean Luc Chanselme.


Para conhecer mais o processo de beneficiamento, assista ao vídeo produzido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa): https://www.youtube.com/watch?v=I-fFjel3CKE

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