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Preço do algodão em baixa ameaça o lucro dos produtores brasileiros

Cotações da pluma na bolsa de Nova York já caíram 12% em 12 meses, e analistas não veem espaço para reação

27 de Junho de 2025

A colheita de algodão da safra 2024/25 já começou no Brasil, e se as perspectivas de produção são positivas, o cenário para os preços não anima os agricultores.


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta que a produção de algodão em pluma deve alcançar 3,9 milhões de toneladas na atual temporada. Se confirmado, será o segundo recorde consecutivo, e aumento de 5,5% na comparação com o ciclo 2023/24.




Os preços, no entanto, estão cada vez menores. Na bolsa de Nova York, que baliza as cotações no Brasil, os valores já caíram 12,2% nos últimos 12 meses, segundo o Valor Data. Ontem (26/6), os contratos para entrega em dezembro foram negociados a 68,80 centavos de dólar por libra-peso — um ano antes, estavam em 77 centavos de dólar a libra-peso. Em junho de 2023, os preços atingiam 82 centavos de dólar a libra-peso.





Com esse cenário, o cotonicultor pode se deparar com redução de rentabilidade. Esse é o caso de Carlos Alberto Moresco, produtor de algodão em Luziânia (GO).





“Neste ano, a margem está apertada e há o risco até mesmo de ficar no ‘zero a zero’, pois eu peguei um período de 42 dias sem chuva. Inicialmente eu esperava um rendimento de 340 arrobas [por hectare], mas agora a colheita deve render 260 arrobas. Hoje, para conseguir ter uma boa margem, é preciso produzir mais arrobas por hectare”, disse.







Moresco afirmou que não vê perspectiva de mudança para o cenário de mercado. Como o algodão é uma das commodities mais sensíveis aos fatores macroeconômicos, como a alta da inflação, o momento atual impede uma reação nos preços.





De acordo com Marcio Portocarrero, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o consumo da pluma está estagnado há 12 anos. Nesse período, as fibras sintéticas acabaram ocupando espaço no mercado.







“Num momento em que as principais economias mundiais passam por dificuldades, a indústria têxtil olha muito para a questão do preço, e não para um produto de alto valor agregado, como são as fibras naturais”, observou o dirigente.







Pery Pedro, analista independente de mercado, lembrou que as cotações do algodão entraram em uma curva decrescente em abril do ano passado, a última vez em que o preço na bolsa americana ficou acima dos 80 centavos de dólar a libra-peso. Para ele, esse é o valor que remuneraria grande parte dos produtores brasileiros.







Cenário macro





A desvalorização da pluma vem sendo potencializada pela guerra comercial e pelos conflitos armados, como a guerra entre Irã e Israel. Mesmo que as turbulências no Oriente Médio estejam sustentando o petróleo, o analista não vê espaço para o algodão reagir positivamente.


Em geral, quando o preço do petróleo sobe muito, os tecidos sintéticos ficam mais caros, o que pode aumentar a demanda por fibras naturais, feitas de algodão. Mas essa correlação não deve ocorrer desta vez, avaliou Pedro.







Mesmo com a depreciação da pluma, Marcio Portocarrero, da Abrapa, disse que não vê redução de área para o ciclo 2025/26. Em sua avaliação, haverá manutenção dos mais de 2 milhões de hectares cultivados nesta safra.







Ele afirmou, no entanto, que somente os agricultores que estão há mais tempo na atividade deverão se sobressair.







“Quem já investe na cultura vai continuar com seu planejamento da safra. Mas, para quem deseja entrar na atividade agora, terá que esperar um cenário de preços melhor. É importante trabalhar em ações contínuas de qualidade e sustentabilidade do nosso produto, pois em algum momento essa dificuldade vai passar e devemos estar prontos para atender os compromissos com os nossos principais clientes”, disse.









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