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Safra brasileira de algodão 2024/2025 deverá ser 8% maior e Brasil pode manter a liderança global nas exportações

20 de Setembro de 2024

As primeiras estimativas para a safra de algodão 2024/2025 pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), foram divulgadas na manhã desta quarta-feira (18), durante a 76ª reunião do foro, presidido pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). De acordo com o levantamento sobre os dados indicados pelas associações de produtores estaduais, a área plantada com a cultura, no país, deverá ser em torno de 7,4% maior, em relação ao ciclo 2023/2024, chegando a 2,14 milhões de hectares. Neste cenário, e considerando uma produtividade projetada em 1859 quilos de algodão beneficiado (pluma) por hectare (0,6%), a produção pode chegar a 3,97 milhões de toneladas de algodão, um crescimento aproximado de 8%.


Os números iniciais são mais otimistas do que os divulgados no dia anterior pela Conab, que projeta uma produção de 3,68 milhões de toneladas de pluma, numa área de 2 milhões de hectares, com produtividade esperada de 1831 quilos por hectare. Os dados foram consolidados na 76ª reunião da Câmara, que ocorreu por conferência pela internet, reunindo elos diversos da cadeia de valor, como a indústria e os exportadores.


Na oportunidade, também foram fechados os números obtidos em 2023/2024. No quinto levantamento do período, o Brasil registrou área total de 1,99 milhão de hectares, com produção de 3,68 milhões de toneladas de pluma e produtividade de 1848 quilos de pluma por hectare, praticamente os mesmos divulgados no levantamento anterior, feito em junho de 2024. O estado de Mato Grosso se manteve como o maior produtor nacional, com 2,67 milhões de toneladas de algodão em pluma, colhidos numa área de 1,47 milhões de hectares, seguido pela Bahia, que colheu 679,8 mil toneladas, em 345,4 mil hectares, e por Mato Grosso do Sul, que registrou produção de 66,6 mil toneladas e área 32 mil hectares.


“As projeções para a safra que virá são ainda muito preliminares. Para consolidar a previsão, vai depender muito da produtividade, que por sua vez está atrelada ao clima, sobre o qual não temos ingerência. Por isso, e considerando também o mercado, a nossa recomendação é que o produtor se preocupe muito em reduzir – ou otimizar – os custos e fazer o melhor possível para aumentar a produtividade, para compensar os preços não tão atrativos no momento”, afirma o presidente da Abrapa e da Câmara Setorial, Alexandre Schenkel.


Liderança deve ser mantida


De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, para o próximo ciclo, as expectativas são de que o Brasil continue como o maior exportador global, frente aos Estados Unidos em volume exportado. A boa notícia, contudo, acontece num período desafiador. Segundo Faus, o mercado internacional de algodão tem apresentado oscilações entre 68 e 72 centavos por libra-peso nos últimos meses, refletindo uma demanda fraca.


“A oferta global, marcada por grandes safras no Brasil, Estados Unidos e Austrália, contrasta com uma demanda moderada, especialmente pela redução das importações da China, o maior comprador mundial. A China, que no ciclo anterior representava 50% das exportações brasileiras, agora absorve apenas cerca de 20%, desafiando o setor a buscar novos mercados, como Índia e Egito”, explica.


No mercado interno, ainda de acordo com a Anea, a demanda segue moderada, e a expectativa é de que o preço se mantenha estável, com possível queda no final do ano devido ao aumento da oferta. No entanto, a qualidade e o rendimento da safra têm sido positivos, o que traz otimismo para o setor.


“Será um grande marco confirmar a liderança do Brasil nas exportações de algodão, porque prova que não foi apenas uma casualidade da conjuntura, mas é uma tendência duradoura.  Esse é o fruto de um trabalho que é resultado da união de todo o setor, catalisado pela ação assertiva do Cotton Brazil, iniciativa de promoção do algodão brasileiro no mercado externo, implementada pela Abrapa, Anea e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, ApexBrasil”, diz o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel.


Desempenho da Indústria Têxtil e de Vestuário (2024)


De janeiro a julho de 2024, a produção têxtil cresceu 3,6% e a de vestuário 1,3%. No entanto, ao longo de 12 meses, o vestuário ainda apresenta queda de -1,4%. A importação de vestuário subiu 12,9% de janeiro a agosto, e a importação do setor, como um todo, subiu 13,4%. Já a exportação de têxteis e confeccionados caiu 9,5%, principalmente devido à crise na Argentina, principal mercado do Brasil. O setor gerou quase 25 mil novos empregos no período, mas prevê cortes no final do ano, o que é corriqueiro devido a sazonalidade da produção.


“O varejo de vestuário mostra sinais de recuperação, com previsão de atingir 1,1% positivo até o final de 2024. A confiança empresarial e o cenário econômico são otimistas, refletindo o controle da inflação e a expectativa de crescimento do PIB”, disse o representante da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Oliver Tan Oh.


Alternativas ao Porto de Santos


Durante a reunião da Câmara Setorial, o tema da logística portuária também foi tratado, tendo como convidado o consultor Luiz Antonio Pagot, que mostrou resultados de um estudo encomendado pela Abrapa e a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), para avaliar alternativas ao Porto de Santos para o embarque da pluma para o mercado externo. Segundo o consultor, está sendo avaliada a viabilidade de outros portos, como Itajaí, Itaguaí, Paranaguá e Salvador, para tentar reduzir os custos e melhorar a eficiência das operações, dada a escalada de preços no Porto de Santos.


“Alguns portos já estão operando com sucesso, como Itajaí e Itaguaí, enquanto outros, como Paranaguá, ainda enfrentam desafios, como falta de contêineres vazios”, explicou.


Segundo Pagot, a exploração de novos portos tem se mostrado eficaz, com Salvador surgindo como uma opção promissora. A linha da MSC, que opera semanalmente, conecta diretamente à Ásia, passando por Suape e Itaguaí antes de seguir para destinos como a China. Isso permite um tempo de trânsito competitivo (cerca de 38 dias até a Ásia), com redução de custos de transporte — de R$ 1.700,00 para cerca de R$ 900,00 por contêiner, tornando Salvador uma alternativa viável e economicamente vantajosa. “Além disso, o porto oferece uma grande disponibilidade de contêineres vazios e armazéns REDEX especializados em estufagem de algodão, com capacidade crescente. A consolidação de Salvador como hub de exportação representa um alívio significativo para os produtores, especialmente do Mato Grosso e da Bahia, que agora contam com um porto confiável e eficiente para escoar sua produção para mercados internacionais”, concluiu.

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