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Maior varejista de moda do país aposta em jeans rastreado para meta ESG

​Fabio Faccio, CEO da Renner, falou à Forbes sobre os novos compromissos de sustentabilidade da maior varejista de moda do Brasil

25 de Agosto de 2022

Escolher um jeans em uma loja de departamento, ou no ecommerce, já não é mais um simples ato de compra às cegas. A Renner, maior varejista de moda do Brasil, com 17,7 milhões de clientes em seu ecossistema e receita de R$ 9,5 bilhões em 2021, colocou no mercado a primeira coleção de jeans rastreada por blockchain, tecnologia que permite acompanhar todo o ciclo produtivo, do cultivo do algodão à fabricação das peças.


Para Fabio Faccio, CEO da Renner, a consciência dos consumidores e dos investidores em relação ao foco sustentável da companhia está evoluindo aos poucos, mas nessa nova fase a empresa quer tomar a frente desse processo. "Queremos mostrar para o cliente, porque [essa agenda] é um diferencial nosso. Levantar essa bandeira também é uma forma de incentivar o setor como um todo a rever seus processos", disse em entrevista à Forbes.


Na semana passada, a varejista participou do 13º Congresso Brasileiro do Algodão, em Salvador (BA), onde mostrou o produto para os donos da matéria-prima: os produtores da fibra que garantem a origem certificada do jeans. O anúncio de que as peças iriam para o mercado foi feito em maio, com o início das operações em junho e julho, ainda como um projeto piloto.


"A calça jeans, agora, vem embalada em um novo pacote de sustentabilidade destinado ao consumidor, caso ele queira saber a origem do algodão utilizado naquela peça de roupa", disse o engenheiro Eduardo Ferlauto, gerente geral de sustentabilidade da Renner e diretor executivo do Instituto Lojas Renner, a uma plateia de 2.500 pessoas que, além de produtores, era composta por agrônomos e técnicos que trabalham na cadeia do algodão e que são fundamentais para garantir a qualidade da produção.


O projeto do jeans rastreado é um grande aprendizado, a partir de alianças, processos e comunicação da nossa visão da materialidade dos produtos que colocamos no mercado", diz Ferlauto.


A coleção tem cinco modelos, dos quais três femininos e dois masculinos. Segundo o gerente, a coleção é piloto porque o arcabouço de ferramentas de controle deve receber novas tecnologias, o que pode mudar "um pouco o formato de gestão dos fornecedores envolvidos nos processos, mas não a sua essência."


Os ajustes, segundo o executivo, devem ocorrer em toda a cadeia de fornecedores da indústria têxtil, que é extensa e exige customização para cada um deles. "Estamos em um momento de aprendizagem para tornar, num segundo momento, a escala maior e sustentável."


A meta é rastrear de forma digital todo o algodão utilizado pela companhia até 2030. "A rastreabilidade é um senso comum e sem volta", diz Ferlauto. No caso da rastreabilidade da cadeia têxtil, o projeto foi possível porque 99% dos produtos de algodão da Renner já contam com matéria-prima certificada na origem, realizada pelos agricultores.


E não é pouco o volume. Na safra 2021/22, o Brasil deve fechar o ciclo com 2,8 milhões de toneladas de algodão em pluma. Desse total, 85% têm o selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável), programa que integra um guarda-chuva global na promoção de práticas mensuráveis e sustentáveis, o BCI (Better Cotton Initiative), que engloba 21 países produtores.


Para ter acesso ao selo, os fazendeiros devem provar o cumprimento de 178 itens socioambientais, distribuídos em oito critérios (contrato de trabalho; proibição do trabalho infantil; proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas; liberdade de associação sindical; proibição de discriminação de pessoas; segurança, saúde ocupacional, meio ambiente do trabalho; desempenho ambiental; e boas práticas).


Também é preciso cumprir integralmente a legislação trabalhista brasileira, as normas da Organização Internacional do Trabalho e o Código Florestal Brasileiro. Só para ilustrar, os Estados Unidos, que é o maior concorrente do Brasil nas exportações, está lançando agora um programa similar.


A coleção de jeans da Renner está dentro de um novo ciclo de políticas ESG (ambiental, social e de governança), que a empresa iniciou há oito anos e que passa por uma remodelagem e refinamento de metas.


Para Ricardo Voltolini, diretor da Idea Sustentável, consultoria utilizada por grandes marcas, entre elas a própria Renner, além de Basf, Bradesco, Claro, entre outras, faz sentido esse movimento na cadeia do algodão porque ele gera valor.


"As pesquisas mostram que o algodão mais sustentável tem um melhor desempenho ambiental, com reduções de 46% na emissão de CO2, de 91% no consumo de água e de 62% no consumo de energia", diz ele. "Comunicar o valor do algodão certificado para produtores, investidores e consumidor final valoriza os atributos ambientais, e torna cool o produto fabricado com ele."


Segundo o especialista, o algodão certificado pode ser comercializado a preços até duas vezes maiores que o algodão convencional, o que traz renda ao produtor. Na ponta, o consumidor que escolher um jeans Renner rastreado paga por cada peça de roupa R$ 159,90, valor que pode ser parcelado em cinco vezes.



Compromissos renovados


Ontem (24), a Renner renovou seu ciclo de compromissos públicos de sustentabilidade. Segundo a empresa, o objetivo é complementar as metas alcançadas no plano anterior, que teve início em 2018 e se encerrou no ano passado. Para o CEO, antes o olhar da companhia estava voltado para a mitigação de impactos negativos em toda a cadeia produtiva, agora o objetivo é desenvolver as soluções positivas.


Ao todo são 12 compromissos ligados a temas sociais e climáticos que serão trabalhados até 2030. A agenda social inclui fomentar a diversidade e inclusão na liderança e alta liderança, por exemplo.


Atualmente, 65% dos 2.931 postos de liderança na empresa são ocupados por mulheres, mas o número cai para 33% no grupo de negros e 8% no grupo LGBTQIA+. O objetivo é alcançar 50% de liderança negra e cerca de 25% em LGBTQIA+.


Outros tópicos da agenda social incluem adotar um salário-mínimo interno que propicie um padrão de vida melhor para os funcionários e seus dependentes, e aumentar o portfólio de produtos diversos e inclusivos em cada um dos negócios do grupo (Lojas Renner, Camicado, YouCom e Repassa).


Já na agenda climática, economia circular e água estão no cerne das metas. A Renner deseja reduzir o consumo de água em toda a sua operação e trabalhar com fornecedores estratégicos que estejam alinhados com esse objetivo, como fez na coleção jeans rastreado, que diminui em 50% o consumo de água nas peças.


Além disso, a empresa prevê investir em matérias-primas têxteis circulares e regenerativas que possam ser recicladas e aproveitadas em um novo ciclo de produção.


Outro ponto é a eliminação de embalagens plásticas que não possam ser reutilizadas ou recicladas, tanto para as lojas físicas quanto para o ecommerce, viabilizando soluções que reduzam resíduos e aumentem a circularidade.


A Renner está em terceiro lugar no índice ESG lançado pela B3 e S&P Dow Jones. Também figura há oito anos no ISE B3 e está pelo sétimo ano no Dow Jones Sustainability (DJSI) – neste caso, é a empresa número um do setor de varejo de moda.



Leia mais: Jeans rastreado e aposta para renovar agenda ESG - Forbes


Mídia: Forbes – 25/08/2022

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