A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou no dia 12 de junho o estudo "A cultura do algodão: análise dos custos de produção e da rentabilidade nos anos–safra de 2006/07 a 2016/17", cujo objetivo foi levantar a rentabilidade do produtor de algodão nas últimas 11 safras. A conclusão da Conab foi de que a tecnologia incorporada à produção, sobretudo em mecanização, defensivos e fertilizantes, garantiu a boa rentabilidade do cotonicultor no período. A análise considerou os estados de Mato Grosso e Bahia, adotando como parâmetro do primeiro os municípios de Rondonópolis, Campo Novo do Parecis, Sorriso e Campo Verde, e, na Bahia, Barreiras. Químicos agrícolas equivalem a 58% dos custos de produção e, quando somados aos custos com máquinas, implementos e beneficiamento, totalizam 74%.
Entretanto, segundo o gestor de Sustentabilidade e Banco de Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Fernando Rati, o levantamento da Conab tem pelo menos um problema intrínseco que compromete seu resultado: coloca, como parâmetro para o cálculo da rentabilidade, um mesmo nível de produtividade para as safras 2014/15, 2015/16 e 2016/17, nas cinco regiões estudadas. "A análise estabeleceu a média da produtividade das cinco regiões e a aplicou a esse intervalo de tempo, desconsiderando as quebras de safra que chegaram a mais de 40% na Bahia, em 2015/16. O estado é o segundo maior produtor de algodão nacional. Embora o resultado seja uma média, ele leva a crer que os últimos anos foram de excelente remuneração para o produtor, quando o que ocorreu, na prática, foi justamente o contrário", afirma Fernando Rati.
Segundo explica o gestor, a drástica quebra na safra de algodão na Bahia foi ocasionada, principalmente, pela estiagem e/ou má distribuição de chuvas por quatro safras consecutivas. "A Bahia atravessou a maior seca da sua história recente. Somente agora, na safra 2016/17, está voltando à normalidade climática", ressalta Rati.
A publicação do estudo preocupou a Abrapa. "Médias estatísticas são muito úteis, mas, quando se trata da tomada de decisões pelo Poder Público, por exemplo, as diferenças têm de ser levadas em consideração. Não podemos deixar que estudos assim induzam a equipe econômica do Governo e analistas de mercado ao erro de avaliação", conclui Arlindo Moura.
Segundo o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Cézar Busato, as discrepâncias nos dados utilizados no levantamento se dão, principalmente, no que tange à produtividade nos últimos cinco anos. Na safra 2015/16, o relatório da Conab considera uma produtividade de 1,62 mil quilos de pluma por hectare, quando, nesta safra – a pior dos últimos 11 anos para o algodão da Bahia – a produtividade obtida pelos produtores foi de 990 quilos de pluma por hectare.
"A lucratividade das lavouras de algodão vem diminuindo ao longo dos anos, em função do aumento dos custos, sobretudo, dos fertilizantes e defensivos agrícolas. Isso contribuiu muito para a redução da área plantada com algodão no Brasil que, em 2006, era de mais de 1,1 milhão de hectares, e caiu para pouco mais de 900 mil hectares em 2016/17", explica Busato. O presidente da Abapa ressalta que, na Bahia, a queda na área plantada foi ainda mais drástica. "Passamos de 387 mil hectares, na safra 2011/12, para 202 mil hectares na safra 2016/17, pois os produtores, descapitalizados, optaram por substituir parte de suas lavouras de algodão por soja, cultura de menor custo de produção e boa rentabilidade naquele momento. "Os últimos cinco anos vinham sendo de produtividades regulares e culminaram com um período crítico em 2015/16. O resultado foi um prejuízo enorme para os cotonicultores baianos. Acreditamos que, com a volta da normalidade das chuvas, possamos, novamente, obter boas produtividades, o que vai melhorar a renda e proporcionar a retomada do crescimento da área de algodão na Bahia", afirma Busato.
16.06.2017
Imprensa Abrapa
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