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Como guerra tarifária pode mudar o consumo mundial de algodão

Brasil pode tirar vantagem desse cenário, com aumento das exportações; mas há desafios

24 de Março de 2025

Uma nova versão da guerra tarifária promovida pelos EUA contra alguns de seus parceiros comerciais terá impactos consideráveis para alguns setores do agronegócios, e a cadeia do algodão não está imune a esses efeitos. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o tema tem sido o foco das atenções de produtores, exportadores e indústria.


Durante a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura, realizada em Brasília, o diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, destacou os efeitos positivos e negativos com as tensões comerciais envolvendo as principais economias do mundo.


Para ele, de bom para o Brasil, a guerra comercial pode promover a melhoria dos prêmios do algodão na Ásia, uma maior competitividade no mercado chinês e a possibilidade de aumento das exportações no curto prazo.


“No entanto, há desafios, como a queda nas cotações da Bolsa de Nova York, maior concorrência em outros mercados e o fato de que o Brasil já ampliou significativamente sua participação na China, reduzindo o espaço para novos ganhos expressivos. Além disso, como o algodão importado pela China é majoritariamente usado para exportação de produtos têxteis, a taxação sobre esses bens pode limitar a demanda”, explicou, em nota.


Segundo o diretor, com as novas tarifas anunciadas para 2025, os EUA podem perder ainda mais participação na China, consolidando o Brasil como principal fornecedor, mas sem a mesma intensidade da primeira fase da guerra comercial, num primeiro momento.


Ainda de acordo com Marcelo Duarte, o fim da isenção fiscal "De Minimis" – que permitia importações de até US$ 800 sem tributação, nos EUA – também pode afetar o consumo global, reduzindo a competitividade dos produtos têxteis chineses à base de poliéster e contribuindo para o aumento da demanda por produtos de maior qualidade, feitos de algodão.


“Isso pode significar menor demanda por produtos sintéticos de baixa qualidade via correios e maior importação de produtos de algodão via os canais convencionais de importação”, detalhou.


Exportações


De acordo com os números apresentados pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) na reunião, de julho de 2024 até março de 2025, o Brasil já embarcou 2,2 milhões de toneladas de pluma, enquanto no último ano comercial (jul2024/jun2025), o volume exportado foi de 2,5 milhões de toneladas. O presidente da Anea, Miguel Faus, afirma que o cenário global é de preços reprimidos, devido a uma demanda internacional enfraquecida, influenciada por fatores como inflação e baixas taxas de juros.


“A China segue sendo um destino importante para o algodão brasileiro, mas a concorrência dos Estados Unidos deve se intensificar em mercados onde o Brasil tem se consolidado nos últimos anos, como Índia, Egito, Paquistão, Bangladesh, Vietnã e Turquia”, destacou.


“Os Estados Unidos, por sua vez, estão negociando um acordo de livre comércio com a Índia para isentar 60 mil toneladas de algodão da tarifa de importação, o que pode impactar a participação brasileira nesse mercado”, acrescentou Faus.


Segundo o presidente da Anea, a logística de exportação tem se destacado, permitindo que o Brasil bata recordes no escoamento do algodão. “A logística não deve ser um grande problema, desde que haja disponibilidade de navios, contêineres e rotas de transporte - atualmente, cerca de 50% da safra já foi vendida”.


Preços


Na avaliação do presidente da Anea, não haverá grandes mudanças para os preços da pluma nos próximos meses, já que a oferta mundial ainda é maior que o consumo. “A demanda também está abaixo do esperado, o que impede uma valorização expressiva do produto. No entanto, o mercado tem mostrado uma autorregulação: quando os preços caem muito, a demanda tende a crescer, o que ajuda a equilibrar as cotações”.


Projeção de safra


Ainda na reunião da Câmara Setorial, a Abrapa informou que a estimativa da área de lavouras ocupadas com a cultura em 2024/25 é um pouco superior ao projetado pela Conab na safra passada, que foi de 3,70 milhões de toneladas.


A entidade reforça que a confirmação de área vai depender do desempenho da produtividade esperada pelos cotonicultores, em 1842 quilos por hectare, o que já representa 3,2% a menos do que a registrada no ciclo anterior. No momento, ocorrências de veranicos têm alertado produtores em algumas regiões de Estados como Bahia e Goiás.


De acordo com o presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, os números ainda são preliminares, já que a safra em Mato Grosso, maior produtor do país, está no início.


“Podemos dizer que tudo está ocorrendo dentro da normalidade até aqui, mas existem preocupações com relação ao clima, e alguns Estados já sentem os efeitos da estiagem. Mas tivemos notícias de que já choveu na Bahia, por exemplo. De todo modo, ainda é cedo para fechar as previsões. Preferimos sempre ser conservadores em nossas projeções”, afirmou Picolli.

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