Nomes de peso do trade do algodão estiveram reunidos nesta terça-feira (03), em plenária do 14° Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), intitulada “O algodão brasileiro em foco: perspectivas do mercado internacional”. Diante da recente conquista do Brasil como líder do ranking mundial das exportações da fibra, a pauta do encontro foi o protagonismo e as estratégias para consolidação do país como um dos principais players do segmento.
Para o diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, o protagonismo do Brasil no mercado global do algodão é fruto de 25 anos de muito trabalho. “O país se reinventou na produção de algodão. Hoje somos líderes e essa liderança nos traz muita responsabilidade, porque não temos mais que seguir os outros e sim mostrar os caminhos. Agora, precisamos entender o momento de mudar a maneira como produzimos, melhorar nossa gestão agrícola e incentivar a demanda. Estamos aprendendo, a duras penas, que nossos concorrentes são principalmente a indústria de combustíveis fósseis e a indústria de celulose. Temos que enfatizar o que o algodão brasileiro tem de bom”, afirma Duarte.
Para o analista de mercado americano Ron Lawson, o principal desafio do Brasil está no aumento da demanda. “A produção aqui não é o problema. Vocês conseguem plantar algodão muito bem. O problema está na demanda. Não há interesse por parte das empresas de vestuário em comprar e, por isso, elas esperam os preços caírem, e os especuladores conseguem puxar esse preço para baixo. Estes, sim, são a maior barreira que vocês têm que superar. Meu conselho é que não fiquem parados e renunciem ao seu potencial de lucro. Não é a espécie mais forte ou mais inteligente que vence e sim aquela que tem a melhor capacidade de se adaptar às mudanças”, avalia Lawson.
Christian Schindler, da International Textile Manufacturers Federation (ITMF) trouxe uma visão da indústria têxtil sobre os motivos que levaram à queda na demanda. “Nosso problema foi a demanda nos últimos 18 meses. O ano de 2022 foi excelente para a nossa cadeia, que ganhou muito lucro. Mas a mudança aconteceu de maneira muito rápida, por vários motivos que contribuíram para esse cenário atual. Destaco a retração da economia na China, questões geopolíticas com os conflitos no mundo, gerando alto custo de logística e elevação da taxa de juros”, disse Schindler. E acrescentou que há pouca demanda da indústria, que acumulou estoque da fibra em 2022 e só voltarão a demandar quando os níveis desse estoque caírem.
Natural
Eric Trachtenberg, do International Cotton Advisory Committee (ICAC), acredita que o caminho para o Brasil melhorar a demanda a longo prazo está nas vantagens que o algodão traz. “O algodão é uma fibra natural, biodegradável, com potencial para a reduzir pobreza e conflitos, especialmente na África; traz o empoderamento feminino, já que 43% dos produtores de algodão são mulheres; colabora com a redução de impacto nas mudanças climáticas, pois a fibra sequestra carbono; e a cultura pode se adaptar a condições secas, crescendo onde outras culturas não conseguem se estabelecer”, cita o representante do ICAAC, organização intergovernamental que ele define como as “Nações Unidas do Algodão”.
Segundo Trachtenberg, a longo prazo, existem desafios a serem superados. O algodão custa mais do que os sintéticos, preferidos pelo fast fashion e roupas casuais para o trabalho em casa; por ser um produto natural, seu fornecimento pode variar a depender do clima e ainda há uma má reputação atribuída à cultura como grande consumidora de água.
Freio de mão
Posto os desafios, a estratégia para a consolidação do Brasil como protagonista no mercado da cotonicultura mundial a curto prazo está na combinação da redução dos custos com a produção e o aproveitamento das oportunidades de mercado. “A situação não é fácil. Esse ano está um pouco mais complicado porque a China puxou o freio de mão e diminuiu as compras. Parte do trade comprou seu algodão e a outra parte precisa ser vendida em meio a uma demanda restrita. Contudo, o importante é aproveitar as oportunidades de mercado para vender nosso algodão. Temos preço e temos qualidade. Essa é a estratégia a curto prazo”, acredita Miguel Faus, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea).
Para o Presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, a redução dos custos com a produção é primordial nesse momento. “O produtor tem que estar atento à redução de custos para produzir a nova safra sem perder a qualidade. Precisamos fazer a coisa certa, mas vencendo esse desafio de reduzir os custos na lavoura. Esperamos que 2025 seja um ano melhor para realizarmos mais vendas”, conclui.