Voltar

Rastreabilidade via blockchain avança no agro

Tecnologia ganha espaço em cadeias como as de algodão, vinhos e criação de gado

17 de Dezembro de 2024

Com a lei antidesmatamento da União Europeia no horizonte e a demanda crescente por produtos mais sustentáveis mundo afora, a rastreabilidade por meio de sistema blockchain, tecnologia de registro de dados, tornou-se prioridade para vários segmentos do agronegócio.


A indústria têxtil, que utiliza algodão em suas linhas de produção, é uma das que largaram na frente. A Döhler, de Santa Catarina, firmou parceria com a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) em outubro de 2023 e lançou em agosto deste ano a primeira toalha de algodão rastreável do Brasil. Os registros de todas as etapas do algodão utilizado na produção são feitos em um sistema de blockchain.


A indústria de vinhos também adotou o sistema, como já mostrou o Valor. Os vinhos do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, tornaram-se os primeiros rótulos nacionais a contar com rastreabilidade feita a partir de uma plataforma de blockchain. O sistema, com as informações de todo o ciclo de produção do vinho, foram adotadas pelas vinícolas Pizzato e Dom Cândido.


Outro segmento que utiliza o blockchain é o de rastreabilidade animal. Em Carambeí (PR), a Fazenda Capão da Imbuia “transformou” as vacas em ativos digitais após registrar todas as informações sobre cada animal em um sistema blockchain. O projeto foi feito pela Simple Token, em parceria com a agtech Cowmed, que produz coleiras inteligentes que monitoram a saúde e o bem-estar das vacas. A ideia é que os proprietários possam usar os animais como garantia digital quando forem tomar crédito.


Desde que lançou a toalha de algodão rastreável, a Döhler já vendeu cerca de 100 mil unidades, segundo o diretor de comunicação e marketing da empresa, Marco Aurélio Braga. “Quando se consolidam as informações de cada elo, e o sistema valida que aqueles lotes são rastreáveis, o sistema salva e lança na rede blockchain. Esse registro se torna imutável, o que garante a autenticidade das informações”, explica.


Conhecido por seu uso em criptomoedas, o blockchain é uma tecnologia de registro de dados. Nesse sistema, as informações sobre um produto estão unidas por meio de “correntes de blocos” (as “blockchains”), que permitem rastrear toda a trajetória de um animal, de seu subproduto ou de uma commodity agrícola, por exemplo.


O mercado de blockchain como um todo deve crescer 40% em 2025, prevê André Carneiro, CEO da BBChain, startup brasileira especializada em soluções blockchain. Para ele, com as novas demandas, a rastreabilidade por blockchain tem de estar presente como um “fator de consumo” . “Cada vez mais existem mercados para produtos de regiões específicas, com interesse do consumidor em adquirir produtos de determinada origem”, diz.


No agronegócio, Carneiro destaca a proteína animal, os grãos e o algodão na vanguarda da rastreabilidade por blockchain. A indústria do couro também tem se beneficiado da tecnologia de segurança e monitoramento. O projeto de rastreabilidade do produto da empresa brasileira Durlicouros alcançou a marca de 200 mil animais monitorados em 53 fazendas no Pará e em um frigorífico do município paraense de Rio Maria.


O projeto já recebeu investimento de R$ 2 milhões nos últimos dois anos e quer chegar aos 250 mil animais monitorados em 2025, segundo Evandro Durli, diretor-executivo da Durlicouros. “Mesmo com o adiamento da lei antidesmatamento da União Europeia, nós não vamos diminuir o ritmo de investimento, porque entendemos que o mercado está amadurecendo o assunto de rastreabilidade no Brasil”, afirma. Originalmente, a lei da UE passaria a vigorar no fim de 2024, mas a Comissão Europeia adiou sua implementação para o fim do ano que vem.


Diante dessa demanda, agtechs têm investido em sistemas de blockchain para agregar valor a produtos, diz Henrique Galvani, CEO da Arara Seed, plataforma de financiamento coletivo em startups do agro. Hoje, afirma, o interesse pelo sistema ainda é pequeno entre empresas. “No couro, marcas de luxo, como Louis Vuitton, já investem em rastreabilidade porque pagam um prêmio por isso. Porém, marcas de varejo ainda não priorizam, porque talvez o consumidor não pague mais”, diz.

Quer ficar por dentro de tudo
que acontece no Portal Abrapa?

assine nossa newsletter