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Mapeamento da pegada de carbono do algodão deve aumentar competitividade da produção brasileira

Projeto da Embrapa Meio Ambiente tem apoio técnico da Abrapa, Abiove e Bayer para captar dados das principais regiões produtoras da pluma

13 de Dezembro de 2024

Um projeto da Embrapa Meio Ambiente vai calcular a pegada de carbono da cadeia produtiva do algodão no Brasil. A iniciativa conta com a parceria técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da farmacêutica Bayer, e tem o objetivo de introduzir práticas mais sustentáveis no setor.


Em entrevista ao Agro Estadão, a pesquisadora da Embrapa Marília Folegatti disse que a principal vantagem de mapear a pegada de carbono do algodão brasileiro é favorecer a competitividade no mercado internacional.


Além disso, “nas bases internacionais, não existe o perfil do algodão brasileiro. Existe o perfil do algodão americano, indiano e chinês. E o nosso perfil é bastante diferenciado, especialmente porque o algodão entra em sistemas de produção com outras culturas”, detalha.


Etapas do projeto


Há cerca de um ano, a Embrapa Meio Ambiente já vem desenvolvendo um método para calcular a pegada de carbono no sistema de produção do algodão. A terceira versão dessa calculadora foi aplicada pela Bayer em uma área de 77 mil hectares em Mato Grosso.


“Nós fomos a campo para validar essa ferramenta no ambiente de produtores altamente tecnificados no Mato Grosso. O produtor, em nível de talhão ou em nível de fazenda, vai poder falar da pegada de carbono da pluma e do caroço”, detalha a pesquisadora da Embrapa.


A estratégia é contar com o apoio da Abiove e da Abrapa para aplicar a mesma técnica em todo o território nacional, com base nas análises de emissões de carbono de diferentes produtos derivados do algodão, como farelo e óleo, além da pluma e do caroço.


Segundo Folegatti, a partir de janeiro de 2025, os técnicos irão a campo para caracterizar os sistemas de produção de importantes regiões produtoras de algodão, como o Oeste da Bahia, por exemplo.


“Então, a fase que estamos agora é de planejar com a Abrapa e com a Abiove a ida a campo para fazer o levantamento de dados. Depois nós processamos essa informação e geramos uma pegada de carbono regional, uma pegada de carbono nacional, publicamos em bancos de dados e ela pode ser comunicada”, explica.


Apoio técnico


A Abrapa reúne cerca de 18 mil produtores que respondem por 95% da produção nacional de algodão, portanto, tem capilaridade para captar dados em todo o país. Nesta etapa do projeto, a entidade vai contribuir com o levantamento de informações dos produtores filiados em Mato Grosso, Bahia e Goiás.


Ao Agro Estadão, o presidente da Abrapa Alexandre Schenkel disse que espera ter uma referência nacional de emissões de gases de efeito estufa para melhor posicionar a fibra brasileira como uma fonte natural e biodegradável no mercado internacional.


“Atualmente, a matriz têxtil global é baseada em fibras sintéticas, com mais de 75% do mercado tendo a participação de derivados de petróleo, sendo destaque o poliéster. Precisamos evidenciar a sustentabilidade do algodão nesse cenário desafiador para as fibras naturais”, destaca.


Na avaliação do presidente da Abrapa, os primeiros dados coletados no projeto mostram que o modelo de produção brasileiro é bastante eficiente em relação à redução das emissões de carbono.


“Há um grande potencial de redução de emissão com a eficiência da utilização da aplicação do nitrogênio nas lavouras, assim como com o incremento da qualidade do plantio direto, principalmente com a utilização de plantas de cobertura”, detalha.


Já a Abiove vai contribuir com a análise de extração de óleo e produção de biodiesel a partir do caroço do algodão. Ao Agro Estadão, a entidade disse que  os resultados do projeto “poderão ser usados por agricultores e empresas na venda de produtos em mercados que valorizem os aspectos ambientais desses produtos, bem como a comercialização de créditos de carbono e CBIOs”.


Rastreabilidade da pegada de carbono do algodão


Marília Folegatti explica que para fazer o mapeamento, os técnicos consultam os bancos de dados internacionais de emissão de carbono de todos os insumos da cadeia produtiva. “Então, desde a extração do petróleo, passando por todas as fases de extração até a ureia aplicada em campo, tudo é contabilizado. Depois, a informação é convertida em quilos de CO² equivalente por tonelada de produto”, esclarece.


Segundo a pesquisadora, essa rastreabilidade da pegada de carbono em todas as etapas de produção do algodão traz confiabilidade e competitividade para a fibra brasileira. “As grandes empresas de setores que estão mais adiantados em nível de processamento dependem de comprar matéria-prima com uma boa pegada de carbono. Se eu tivesse falando da soja, por exemplo, é preciso dizer qual é a pegada de carbono dessa soja, porque lá na frente, o derivado da soja vai carregar essa informação”, ressalta.


Mercado de crédito de carbono


Embora o marco legal do mercado de crédito de carbono não trate da agricultura primária (que ficou no mercado voluntário), a agroindústria está contemplada no mercado regulado. Na avaliação de Folegatti, o impacto deve ser compartilhado entre os setores do algodão.


“Um dos exemplos que eu posso mencionar é o do setor de biocombustíveis de cana-de-açúcar. Quem acessa os créditos de descarbonização é a usina. Mas hoje já existe um acordo para que o crédito que a usina acessa seja uma fração compartilhada com o produtor, porque ele faz investimentos para melhorar o seu desempenho”, avalia e conclui que o mesmo pode ser aplicado à cadeia do algodão.

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