Uma das principais demandas do mercado internacional para o algodão brasileiro é a melhoria no conteúdo de Fibras Curtas (SFC). Essas fibras, com comprimento inferior a meia polegada (12,7 mm), representam um desafio para as fiações, resultando em perda de matéria-prima e redução da produtividade no processo. Para abordar as percepções do mercado externo sobre o SFC, discutir estratégias de mitigação e analisar o impacto na indústria têxtil, o 14º Congresso Brasileiro do Algodão (14º CBA) promoveu um debate com a presença do pesquisador Jean Belot, do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), e do diretor industrial da Textil União, Samuel Yanase. A discussão ocorreu nesta terça-feira (03) e foi mediada por Marcelo Duarte, diretor de relações internacionais da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), realizadora do evento.
“Um dos principais problemas de qualidade, atualmente, relatados por nossos clientes é a fibra curta. Embora tenhamos avançado consideravelmente em termos de micronaire, resistência e comprimento do algodão nos últimos anos, a questão de fibras curtas ainda apresenta desafios significativos”, afirma o diretor da Abrapa.
Duarte ressalta que a solução para o problema é complexa e envolve múltiplas frentes: “As demandas passam por genética, manejo e beneficiamento. Identificamos as áreas que precisam de atenção e, com essa compreensão, o setor está pronto para enfrentar o desafio. Nosso objetivo é avançar e abordar cada um desses aspectos para que possamos estabelecer o algodão brasileiro como uma referência, também, no que diz respeito à fibra curta, um dos últimos pontos que precisamos aprimorar para atingir o nível de excelência desejado no mercado internacional”, garante.
Para enriquecer a discussão, Yanase apresentou a perspectiva da indústria sobre o impacto da SFC. “Quanto menor o índice de fibras curtas, melhor é o resultado da qualidade da pluma. Quando o índice é alto, a fibra perde resistência, o que obriga a reduzir a velocidade das máquinas, resultando em uma queda significativa na produtividade.” Yanase também enfatizou que o alto índice de fibras curtas afeta o custo de produção, tornando o problema um desafio que impacta toda a cadeia produtiva.
Nos últimos anos, o Brasil tem intensificado os investimentos para identificar as principais origens desse problema. As causas podem ser multifacetadas, começando pela escolha inadequada da variedade de algodão, passando pelos tratos culturais e chegando ao manejo no beneficiamento.
Diante disso, o IMAmt e a Embrapa, com recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e da Abrapa, desenvolveram um estudo, investigando as origens do problema e sugerindo mudanças e aprimoramentos, desde a escolha das variedades, até o manejo com a cultura na lavoura, na colheita e no beneficiamento. “É possível reduzir o SFC ainda no campo com um manejo adequado, realizado por mão-de-obra especializada. É importante destacar que a boa maturidade da fibra é um dos fatores fundamentais para evitar a fibra curta”, afirma Belot.
O pesquisador também ressaltou a importância de monitorar os processos de beneficiamento, ajustando-os à qualidade inicial do algodão em caroço processado, para minimizar a produção de fibras curtas. “Uma das chaves para o sucesso é garantir uma excelente integração entre o campo e a algodoeira”, conclui.