Neste final de semana, a oitava edição da “Missão Compradores” foi finalizada, superando as expectativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). A delegação convidada, formada por 21 executivos de fiações e indústrias de 12 países, aprofundou o conhecimento sobre o Brasil, ampliando o grau de confiança no modelo brasileiro de produzir algodão.
“Ao longo destes 11 dias de contato, os importadores acompanharam diferentes etapas do nosso processo produtivo, em diferentes regiões produtoras do País. Essa transparência contribui para uma relação comercial mais confiável, que é o nosso objetivo”, analisou o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel.
Em 2024, participaram do intercâmbio executivos da indústria têxtil de Bangladesh, China, Colômbia, Coréia do Sul, Estados Unidos, Honduras, Ilhas Maurício, Índia, México, Paquistão, Turquia e Vietnã. A programação passou por nove municípios de cinco estados brasileiros. As visitas técnicas foram realizadas em fazendas, algodoeiras, indústrias de esmagamento, laboratórios de classificação e centros de pesquisa, além da sede da Abrapa, em Brasília (DF).
Além da confiança, a missão resultou em boas doses de admiração. Na fazenda Boa Esperança, em Lucas do Rio Verde (MT), a chinesa Sarah Hong gostou de ver que os lotes de algodão são separados já na colheita. “Isso é muito importante porque precisamos de lotes uniformes para tirarmos o máximo da capacidade produtiva da fiação”, observou. Já o paquistanês Raza Ellahi salientou a eficiência e a tecnologia empregada na colheita. “São pessoas capacitadas. As máquinas fazem a colheita conforme a divisão de talhões e as variedades plantadas”, disse ele.
As boas condições de trabalho também foram percebidas por Faizah Mahmoot, de Bangladesh, na fazenda Bom Futuro, em Campo Verde (MT). “Vimos a classificação do algodão e os programas sociais e ambientais que o grupo tem. Foi ótimo”, disse.
Na fazenda Warpol, em São Desidério (BA), o chinês Qi Zhang se encantou pela brancura da pluma e pela rastreabilidade. “O algodão baiano é muito branco! Além disso, foi bom ver que cada amostra tem um número específico, que é o mesmo número que vai no fardo, no QR Code. É realmente uma rastreabilidade fardo a fardo”, notou.
As inovações tecnológicas da fazenda Pamplona, em Cristalina (GO), também saltaram aos olhos de Emre Akran, da Turquia. “Eles têm um software próprio que segrega o lote conforme a solicitação do comprador, usando a classificação visual e a instrumental, pelo HVI. Isso foi muito interessante”, pontuou.
A classificação do algodão brasileiro foi destaque. “O laboratório da Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão) segue os parâmetros internacionais e tem alta confiabilidade nas análises de HIV. Ver essa credibilidade nas análises aqui nos dá mais confiança”, analisou o sul-coreano Jiwoon Park. Jamil Uddin, de Bangladesh, concorda. “O centro brasileiro (Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão-CBRA) orienta todos os laboratórios para garantir alta confiabilidade nos resultados. E é exatamente isso que a gente busca: análises confiáveis”, reiterou o bengalês.
Cotton Brazil
A Missão Compradores é uma das atividades do Cotton Brazil, programa da Abrapa que posiciona mundialmente o setor produtivo do algodão e desenvolve novos mercados. “Nossa missão é ir além dos números e criar laços comerciais sólidos, tendo sempre em mente a relevância do algodão como uma fibra natural, renovável, biodegradável e produzida com responsabilidade”, ponderou Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa e responsável pelo Cotton Brazil.
Desenvolvido em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o Cotton Brazil é apoiado pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) e já entrega resultados positivos e concretos.
“É muito importante que os produtos brasileiros tenham uma marca forte no exterior. O algodão é um case de sucesso devido ao seu profissionalismo e aos belos resultados”, analisou o presidente da Apex-Brasil, Jorge Viana. Na safra 2023/24, o Brasil alcançou pela primeira vez na história a marca de maior exportador mundial – com exportações estimadas em cerca de 2,6 milhões de toneladas.
Estados
A “Missão Compradores” começou a ser realizada em 2015 pela Abrapa e chegou à oitava edição em 2024. Neste ano, recebeu apoio das associações estaduais de produtores de algodão de Mato Grosso (Ampa), Bahia (Abapa) e Goiás (Agopa) – os três maiores produtores nacionais.
“É importante para nós podermos mostrar que aqui, em Mato Grosso, cultivamos com responsabilidade socioambiental e eficiência. E ainda temos potencial para expandir a produção: basta haver demanda”, afirmou o presidente da Ampa, Eraí Maggi, durante a visita a Cuiabá (MT).
A oportunidade de dialogar com os importadores é uma das vantagens da Missão Compradores na ótica do presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi. “Podemos mostrar toda a eficiência brasileira na produção, em todos os elos da cadeia produtiva. Além disso, podemos receber feedbacks sobre pontos que ainda podemos melhorar no cultivo do algodão”, analisou.
Presidente da Agopa, Haroldo Rodrigues da Cunha considera a “Missão Compradores” como uma das iniciativas mais importantes da Abrapa. “Nada é mais explicativo do que conhecer a realidade da produção. É quando podemos mostrar como as fazendas são organizadas, o nosso profissionalismo, as ações de sustentabilidade, a qualidade das lavouras, o beneficiamento, a classificação. E, no caso de Goiás, é extremamente relevante mostrar que, apesar de termos uma área menor que Mato Grosso e Bahia, somos tradicionais na produção e cultivamos com o mesmo rigor, com o mesmo critério, com o mesmo profissionalismo”, observou.