Carlos Alberto Moresco, de 49 anos, teve o primeiro contato com a agricultura aos 7. Em Ijuí (RS), onde seus pais cultivavam grãos e produziam leite, ele tomou gosto pelo trabalho no campo, que o transformou em um grande produtor de algodão, ainda que a milhares de quilômetros dali.
Certo de que seu futuro seria nas lavouras, ele formou-se técnico de agropecuária em 1993 e logo ingressou como estagiário na SLC Agrícola, um dos gigantes do agro brasileiro.
Após 20 anos de serviços prestados, a empresa o convidou a migrar para Luziânia, município goiano com forte vocação agrícola. Lá, Moresco ficou mais 12 meses, até se mudar para a Sementes Produtiva, onde iniciou sua jornada como produtor rural.
“Expliquei ao meu chefe que eu tinha o sonho de arrendar terras. Então, fizemos um acordo. Eu o ajudava com algumas rotinas, como a compra de insumos, e ele me daria apoio como avalista. Ele me ajudou bastante, e somos amigos até hoje”, relembra o agora produtor.
Em 2007, ele arrendou terras nos municípios goianos de Luziânia e Cristalina, cultivando soja, trigo, sorgo e milho semente em 8.000 hectares –o clima, diz, o ajuda com todas as opções. Mas foi no algodão que ele encontrou uma oportunidade para se destacar.
“Fiquei impressionado com as características de produção no Cerrado. É uma cultura desafiadora em termos de custo, mas vi muitas pessoas construindo patrimônio a partir dela”, afirma.
O encanto pelo algodão vem tomando corpo na agricultura brasileira, e Moresco é um dos exemplos concretos desse quadro. O produtor espera uma pequena queda na produtividade na safra 2023/2024, que deve passar das 340 arrobas de algodão em caroço por hectare da safra passada, um recorde, para 310 arrobas nesta safra. Mas, segundo ele, o resultado ainda está dentro da média, já que este é um ano de preocupações com o clima, devido ao fenômeno El Niño.
Ainda que não alcance o ótimo desempenho do ciclo anterior, Moresco é uma das faces do sucesso do cultivo da pluma no Brasil. Depois de a produção disparar nos últimos anos, o país deve, enfim, superar o volume de colheita dos Estados Unidos, alcançando a posição número três no ranking global de produção, atrás apenas de China e Índia. Além disso, os brasileiros devem disputar espaço com os americanos no mercado exportador.
As projeções mais recentes da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) convergem para a estimativa de que o Brasil produzirá 3,1 milhões de toneladas de pluma de algodão, enquanto a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), mais otimista, prevê 3,37 milhões de toneladas, o que, caso se confirme, representará um crescimento de 3% em relação à temporada anterior.
O órgão americano estima que o Brasil vai quase dobrar suas exportações e vender 2,5 milhões de toneladas ao mercado externo, encostando no volume dos embarques dos EUA, que deverá ser de 2,6 milhões de toneladas.
“Esses dados não trazem apenas um sentimento de otimismo, mas também de merecimento. Estamos há 30 anos investindo na cultura para torná-la mais moderna e sustentável. Hoje, a produção do Brasil é eficiente, e ela vai ocupar o lugar no mercado dos países que não são”, afirma o presidente da Abrapa, Alexandre Pedro Schenkel.
Todos os Estados brasileiros com vocação agrícola vêm aumentando sua área de cultivo da pluma. A Conab estima que a área total de cultivo de algodão nesta safra será de 1,7 milhão de hectares, a maior extensão em 22 anos.
Em Mato Grosso, o maior produtor nacional, as lavouras de algodão devem ganhar ainda mais espaço, por causa dos problemas nas plantações de soja, que têm levado alguns produtores a dessecar as plantas do grão para acelerar a colheita e, com isso, poder substituí-las pelo cultivo da pluma. A Conab projeta um aumento de 3% na área de plantio de algodão em Mato Grosso, para 1,2 milhão de hectares.
Essa opção, porém, não é para qualquer agricultor. É preciso ter capacidade financeira para migrar de cultura, além de experiência na lida com insumos, maquinário e, principalmente, solo fértil, ressalta Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, pesquisador da Embrapa Algodão.
Recentemente, fez barulho no mercado a decisão da SLC de plantar algodão em 16 mil hectares que estavam originalmente programados para a soja. Com isso, a companhia passaria a ter uma área 1% maior de cultivo da pluma do que na safra passada, totalizando 189 mil hectares, entre primeira e segunda safras.
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