Tamanho das amostras interfere diretamente na classificação da pluma
A colheita da safra 2020/2021 de algodão está a pleno vapor. Os 11 laboratórios de classificação da fibra espalhados pelas regiões produtoras estão prontos para analisar e atestar a qualidade das 2,43 milhões de toneladas de pluma previstas para a atual temporada. Para a confiabilidade dos resultados e a maior valorização do algodão produzido no Brasil, um aspecto é fundamental: o tamanho das amostras de teste. O padrão brasileiro de classificação está previsto na Instrução Normativa 24 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/21289371/do1-2016-07-15-instrucao-normativa-n-24-de-14-de-julho-de-2016-21289194), publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 2016. A norma prevê desde os requisitos de identidade e qualidade, até amostragem, modo de apresentação e marcação ou rotulagem das amostras de 100% dos fardos. Para a correta classificação tecnológica e visual, cada fardo deve ser cortado em lados opostos para retirada de duas amostras de 150 gramas. Cada uma será partida ao meio no sentido longitudinal, em duas subamostras de 75 gramas que serão adicionadas às subamostras do outro lado do fardo. Desta forma, são formadas duas amostras de trabalho, uma para classificação tecnológica e uma para classificação visual e manual. As dimensões são determinantes para a análise das características intrínsecas da fibra por instrumentos de alto volume do tipo HVI, aceita comercialmente no mundo todo. De acordo com a IN 24, cada amostra deve ter, no mínimo, de 25 cm a 30 cm de comprimento, de 13 cm a 15 cm de largura, de 8 cm a 13 cm centímetros de espessura e 150 gramas de massa. O padrão internacional é de 8 onças, equivalentes a 226,80 gramas – os Estados Unidos, nosso principal concorrente, utilizam 230 gramas. Anicézio Resende, gerente de laboratório da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), explica que são necessárias 40g para o módulo que mede o comprimento da fibra (20g para cada tambor), outras 10 g para o módulo de micronaire e 100 gramas para análise de cor e impurezas. Pode parecer muito, mas 50 g é o mínimo necessário em cada bandeja do módulo de cor, o chamado colorímetro duplo ou simples, para cobrir completamente o visor e permitir a captação fiel do grau de brancura e amarelamento da pluma obtendo a junção correta da cor do algodão o chamado CG no relatório de HVI. "De uma amostra com menos de 150 gramas, o que sobra para o colorímetro fica muito raso em volume e deixa passar a claridade, o que interfere na leitura do grau de brancura, amarelamento e na contagem da sujeira e piora a qualidade", ressalta Resende. Ele lembra que o tamanho também é importante, uma vez que cada bandeja do HVI tem 14 cm de largura por 25 de comprimento. Como cada prensa tem um tamanho de faca diferente, para facilitar a padronização das amostras, a Amipa desenvolveu um gabarito, que foi distribuído para as 16 algodoeiras de Minas Gerais, "Na safra 20/21, todas as usinas de Minas já estão com o molde. Agora estamos oferecendo treinamentos para acertar a questão do volume, já que a massa de algodão é retirada manualmente", conta o gerente de laboratório da Amipa. A Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) também aposta na capacitação, como estratégia para melhorar a qualidade das amostras enviadas para análise de HVI. Segundo Rhudson Assolari, gerente Laboratorial de Análises de Algodão da entidade, um dos problemas identificados é a rotatividade de trabalhadores nas algodoeiras, uma vez que a atividade de beneficiamento é sazonal. "Os funcionários são treinados e demoram um tempo para pegar o jeito. No ano seguinte, são outros e temos que treinar as equipes novamente", relata. A estratégia encontrada foi oferecer workshops de sensibilização para gestores e classificadores de algodoeiras. "Levamos o pessoal para dentro do laboratório e fazemos análises com amostras dentro e fora do padrão, para que vejam a diferença de resultados", conta Assolari. A cooperativa de produtores de algodão, Unicotton, promove capacitação das equipes das algodoeiras, desde 2010, e também investe na sensibilização de lideranças. "A cada safra, reunimos os associados e mostramos a importância do tamanho da amostra para a análise de HVI. Fazemos os produtores entenderem que a precisão da classificação e a credibilidade do resultado dependem disso", conta Valmir Lana, gerente de Classificação da Unicotton, destacando também a importância do emblocamento por HVI como diferencial de mercado. Cuidados com a Manipulação O correto manuseio das amostras também é essencial para a confiabilidade dos resultados das análises. A IN 24 determina que as amostras não podem ser preenchidas nem aparadas, e o manuseio deve ser feito com cuidado para não causar a perda de materiais não fibrosos (folhas, cascas, talos dentre outros materiais) que mude seu caráter representativo. A cautela é necessária para evitar contaminação ou descaracterização do material no trajeto da usina até o laboratório. Rhudson Assolari recomenda embalar as amostras imediatamente após a retirada, sem qualquer outro tipo de manuseio ou preparação. O algodão deve ser colocado sobre um papel craft, etiquetado, cuidadosamente enrolado e colocado em um saco resistente, para não ter perigo do fardo rasgar ou sujar com óleo ou poeira no caminho até o laboratório. As embalagens e as amostras deverão ser claramente identificadas por usina e, opcionalmente, pelos números do lote e do fardo. Apoio do CBRA O trabalho dos laboratórios de análise de HVI é monitorado e orientado pelo Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), principal pilar do programa de Qualidade da Abrapa, o Standard Brasil HVI (SBRHVI). Edson Mizoguchi, gestor do programa, ressalta que o CBRA disponibiliza um guia operacional, que reúne normas e recomendações para a realização de análises de acordo com as melhores práticas internacionais. Além de conter a IN 24, o Manual inclui a tradução de documentos como o Método de Análise Padrão da ASTM (ASTM Standard Test Method); Manual da força-tarefa do ICAC para Padronização Comercial da Análise Instrumental de Algodão (CSTIC) e do Comitê Internacional do ITMF para Métodos de Análise de Algodão (ICCTM); e o Programa para Certificação Internacional de Laboratórios - ICA Bremen. O CBRA também é responsável pelo programa de checagem, que envia amostras padrão para os laboratórios e faz rodadas de análise, a fim de garantir que as máquinas estejam dentro da conformidade. Mizoguchi alerta, no entanto, que o resultado não será confiável se a amostra de teste não seguir os parâmetros mínimos e as diretrizes estabelecidas na norma. "Não adianta a máquina estar funcionando corretamente se a amostra é duvidosa", pontua. "O produtor, que quer ganhar mais, tem que tirar 150 gramas do seu fardo para fazer uma boa análise. É a classificação que vai dizer se o algodão será vendido ao preço de um fusquinha ou de uma Ferrari", garante. |