Uma rede de 11 laboratórios espalhados pelo país responde pelo atestado de qualidade do algodão brasileiro. São eles que fazem as análises de classificação pelo padrão internacional por instrumentos de alto volume do tipo HVI, aceitas comercialmente no mundo todo. O trabalho é monitorado e orientado de perto pelo Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA) da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Os laboratórios de classificação analisam as características intrínsecas da fibra - micronaire, resistência, comprimento, uniformidade, índice de fibras curtas e cor. Os resultados, além de influenciar no preço, são fundamentais para toda a cadeia, da produção à indústria. Laudos confiáveis indicam caminhos para melhorias no cultivo e otimização de processo de beneficiamento, facilitam a composição de lotes para a venda e a eventual substituição de fardos e garantem que o cliente receberá a qualidade adequada à sua produção.
"Existe mercado para fibras de todas as qualidades, mas a indústria precisa saber exatamente o que está comprando para que o produtor tenha uma remuneração justa pela pluma entregue. Por isso, a padronização e a confiabilidade das análises são tão importante", afirma o presidente da Abrapa, Júlio Busato.
Para que todos os laboratórios atendam aos cotonicultores dentro do mesmo padrão de qualidade, o CBRA gera conhecimento, difunde informação, dá suporte, treina equipes e realiza visitas técnicas de verificação e orientação às unidades participantes do programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), lançado em 2016, para conferir credibilidade às análises de classificação feitas no Brasil.
A estruturação do programa contou com a consultoria de Axel Drieling, do Centro Global de Testagem e Pesquisa do Algodão (ICA Bremen), instituição de referência mundial que congrega o Faserinstitut Bremen, o Bremen Fibre Institute (FIBRE) e o Bremer Baumwollboerse (BBB). "Como país produtor e exportador de algodão, é importante que todos os laboratórios brasileiros forneçam resultados acurados e precisos. O CBRA, com sua posição central, tem todos os pré-requisitos para apoiar e garantir isso", assegura o consultor.
Guia de orientação
Uma das principais ferramentas utilizadas pelo CBRA na harmonização de procedimentos é o chamado Guia de Orientação, que reúne normas e recomendações para a realização de análises de algodão de acordo com as melhores práticas. O documento apresenta instruções normativas do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, guias de boas práticas, procedimento para buscar a certificação ICA Bremen, entre outras informações.
O guia também inclui a tradução do material técnico disponível e suas atualizações. "É mais fácil para uma entidade central reunir as informações mais recentes e manter contato com as organizações internacionais importantes. Isso possibilita que todos os laboratórios possam melhorar e garantir testes e resultados confiáveis", avalia Axel Drieling.
Treinamentos
O Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA) promove, periodicamente, workshops com renomados especialistas, para capacitação de profissionais estratégicos dos laboratórios credenciados. Os treinamentos permitem que o conhecimento seja multiplicado e propiciam maior alinhamento e harmonia nos métodos de ensaio.
A própria equipe do laboratório central da Abrapa está em constante aprimoramento. Deninson dos Santos de Lima, responsável técnico e operacional do CBRA, já participou de cursos sobre leitura e interpretação da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025, melhores práticas em laboratório - ICA Bremen, auditor interno baseado na norma NBR ISO 19011 e manutenção de HVI – Uster, entre outros. "Consegui adquirir uma sensibilidade técnica que me permite perceber os ajustes necessários em equipamentos e processos para que o CBRA tenha um melhor rendimento e qualidade nos ensaios realizados, melhorando cada vez mais o material de referência produzido para o programa SBRHVI", relata.
Entre suas atribuições, está o suporte aos laboratórios participantes do programa SBRHVI, principalmente nas dúvidas relacionadas a questões técnicas. "Eles buscam saber como analisar criticamente os seus processos, para garantir a qualidade dos resultados", conta.
Lúcio Matos, gestor do laboratório da Associação Sul Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampasul), participou de todos os treinamentos já oferecidos pela Abrapa. "A aquisição de conhecimentos disponibilizados pelos treinamentos fez com que os laboratórios conquistassem credibilidade, e o algodão brasileiro alcançasse um espaço na vitrine da comercialização mundial", acredita. Ele destaca a adequação e a implantação do sistema de gestão da qualidade dos laboratórios com base na Norma ABNT ISSO/IEC 17025 como carro-chefe das melhorias implementadas, a partir da orientação oferecida pela Abrapa.
Assim como na Ampasul, o suporte do CBRA tornou possível a implantação de um sistema de gestão baseado nos requisitos da ISO 17025 no laboratório da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa). "Nos permitiu padronizar métodos, organizar processos, avaliar a competência do laboratório e treinar nosso pessoal para que estejam aptos a realizar suas atividades com eficiência e sabedoria", revela Rhudson Santo Assolari, gerente Laboratorial de Análises de Algodão da Agopa.
Treinamentos promovidos pelo programa SBRHVI, desde a sua criação:
Cursos | Instituição | Ano |
Workshop de Melhores Práticas de Laboratório de HVI | ICA Bremen | 2017 |
Estatística aplicada na análise do algodão – programa SBRHVI | Inferir | 2017 |
II Workshop de Melhores Práticas de Laboratório de HVI | ICA Bremen | 2018 |
Treinamento de manutenção USTER HVI M1000 | Uster | 2018 |
Leitura e Interpretação da ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017 | Senai/SC | 2019 |
Formação de Auditores Internos da Qualidade em Laboratórios segundo ABNT NBR ISO 19011 | Senai/SC | 2019 |
II Workshop Manutenção Uster | Uster | 2019 |
Estimativa de incerteza de medição | Qualabor | 2019 |
III Workshop de melhores práticas de laboratório HVI | Abrapa | 2019 |
Treinamento Monitoramento e Controle de Centrais de Climatização | Senai/BA | 2020 |
Workshop Contemp - Controladores e Software de Monitoramento | Contemp | 2021 |
Visitas técnicas
A cada safra, a equipe do CBRA realiza visitas técnicas em todos os laboratórios credenciados, com o objetivo de avaliar se atendem aos requisitos mínimos para o bom funcionamento e a garantia da qualidade dos resultados. "Durante as visitas, buscamos orientar os laboratórios e identificar pontos de melhoria", explica Edson Mizoguchi. Também são úteis para que sejam detectadas as necessidades de treinamento dos laboratórios. Desde o começo da pandemia de Covid19, as verificações têm sido realizadas remotamente.
"Todos os treinamentos oferecidos vêm para qualificar os serviços prestados, e as visitas técnicas são muito importantes para os laboratórios terem uma padronização da linha de trabalho", pontua Jaison Vavassori, diretor executivo da Unicotton.
Essa também é a avaliação de Rhudson Santo Assolari. "Hoje, temos um controle mais eficaz no processo de recebimento e na divulgação dos resultados, procedimento que nos dá muita confiança", afirma. "Tanto as visitas técnicas quanto as orientações e os treinamentos nos processos de trabalho são de extrema importância para a qualidade do algodão brasileiro", ressalta o gerente da Agopa.