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“Live” no Instagram debate rastreabilidade da cotonicultura na moda pós Covid-19

06 de Maio de 2020

A única certeza que o mundo tem, depois de ser surpreendido por uma pandemia de proporções sem precedentes, é de que nada será como antes. O que Covid-19, moda e rastreabilidade de algodão têm a ver com isso, esteve em pauta hoje (05/05), durante live no Instagram, em um dos mais respeitáveis perfis sobre moda e consumo consciente no Brasil, o Portal Ecoera. Liderado pela fundadora do movimento Ecoera e especialista em sustentabilidade, Chiara Gadaleta, o movimento convidou o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, para falar sobre o pilar da Rastreabilidade, um dos grandes compromissos da entidade.



Portocarrero explicou como um trabalho que foi desenvolvido, e vem sendo aprimorado há quase duas décadas, poderá se tornar chave para o início de um posicionamento diferenciado, no atendimento das expectativas da nova mentalidade de consumidor que deve surgir quando as medidas de distanciamento social forem abrandadas. Levando conceitos como "antes e depois da porteira" para um público formado, principalmente, por profissionais da moda e fashionistas, Portocarrero informou que o Brasil já rastreia seu algodão "desde a lavoura até a porta da fábrica". Ele enfatizou a posição do país como grande player global de mercado e maior fornecedor mundial de fibra com certificação de sustentabilidade, através do Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e Better Cotton Initiative (BCI).



"A rastreabilidade foi o primeiro grande projeto da Abrapa, há quase 20 anos. Falar em selo de certificação só faz sentido se houver como fazer o caminho de volta e mostrar cada processo. Não basta ser honesto, tem que provar que é", afirmou.



Segundo Portocarrero, a indústria que leva a matéria-prima para dentro da sua planta tem o direito de saber como, e se, a garantia é verdadeira. "Hoje, 100% do algodão brasileiro é rastreável. Entregamos, na porta da indústria, condições para o que comprador possa ver quem produziu, onde, em que fazenda, de que região geográfica do país. Se quiser, ele pode enxergar aquela fazenda no Google Maps, saber qual foi a máquina que beneficiou o algodão, o laboratório que analisou a pluma e as características intrínsecas do produto: tudo num código de barras que vai junto com o algodão, assim como a garantia de que esse produto foi certificado pelo ABR e licenciado pela BCI", detalhou. O licenciamento feito pela ONG Suíça BCI é o de maior reconhecimento no mundo e é familiar ao público da live.



Até chegar ao ponto de rastrear o algodão da lavoura à indústria, todo um trabalho de base foi desenvolvido pela Abrapa e pelas suas dez associações estaduais, disse Marcio. "Não é um selo com um leiaute bonito, que você manda imprimir numa gráfica, na hora que quiser. Tudo tem auditoria, processos e normas", diz. Contudo, segundo Portocarrero, o fato dos demais elos da cadeia ainda não terem um protocolo de rastreabilidade faz com que a informação se perca, assim como a oportunidade de dar ao consumidor final a chance de "mergulhar" na história daquele produto, desde o início do seu ciclo de vida.



Conhecer para encantar



Transpor a "porteira", ligando a cidade ao campo é uma das possibilidades que a rastreabilidade dá. Chiara Gadaleta relatou que ela mesma é um exemplo de quem, primeiro, teve de conhecer e entender, para acreditar. "O que acho lindo e me fez encantar pelo ABR nasceu ali, numa lavoura, numa fazenda em Goiás, quando vocês me convidaram para ver de perto os processos", afirmou, referindo-se à visita que fez com representantes da Abrapa à fazenda Pamplona, do Grupo SLC Agrícola, em Cristalina/GO, como parte do projeto "Pegada Hídrica". Conduzido pelo Ecoera com a Vicunha Têxtil, o projeto mensurou o uso da água no ciclo de vida de uma calça jeans no Brasil, desde a lavoura ao consumidor final, e contou com a colaboração da Abrapa, com informações sobre a produção da matéria-prima.



Gadaleta disse ainda que se tornou uma "militante" do algodão brasileiro à medida em que tomou mais contato com o programa Algodão Brasileiro Responsável. "O ABR tem muito para ensinar para o mercado mundial, não só como uma iniciativa assertiva, mas madura. O consumidor na ponta quer saber de onde veio o algodão. Um selo não é mais suficiente", pondera Chiara Gadaleta.



Pensar localmente



Uma das conclusões da live, além da necessidade de difundir a rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia produtiva, é de que, mais que nunca, será necessário pensar a importância do "local" em lugar dos antigos global e glocal. "Valorizar o produto brasileiro é cuidar das nossas pessoas, do emprego, da arrecadação nacional de impostos. É entender o valor disso tudo e diminuir a dependência exacerbada entre os países", considera Portocarrero. Ele conclamou o público a refletir sobre estratégias de valorização para causa de uma moda "feita no Brasil".  A indústria nacional é o nosso maior cliente, e usa 700 mil toneladas de algodão por ano. Se os nossos 220 milhões de consumidores possíveis no país derem preferência aos produtos brasileiros, seria muito bom para o país", analisou.



Novas prioridades



Tanto o representante da Abrapa quanto a apresentadora da live consideraram que as prioridades mudaram, nos últimos dois meses, com as crises geradas pela pandemia na saúde, na economia e na renda das pessoas. "O grande esforço que a cadeia tem de fazer é para atrair esse consumidor pós Covid-19. Sabemos que, primeiro, ele vai cuidar da saúde e da própria sobrevivência, e, só então, vai lembrar de consumo de bens não tão essenciais. Isso em toda a cadeia. O magazine vai se preocupar muito mais em desovar o estoque que já tem para depois pensar em produzir coisas novas. A indústria vai usar o algodão armazenado para transformar em fio, tecido e roupa, antes de começar a comprar novamente matéria-prima. Mas o mundo não vai acabar e o consumidor vai voltar. Só não será o mesmo", concluiu o diretor da Abrapa.


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