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Sustentabilidade: a base de uma cotonicultura feita para durar

20 de Abril de 2020

O Brasil se consagrou, nas últimas safras, como o maior fornecedor mundial de algodão sustentável. Esse posto é confirmado por uma entidade mundialmente conhecida, a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI). O país tem participado com uma média de 30% no montante da pluma licenciada BCI, o que equivale a quase um terço das negociações com a commodity no planeta. Mas se a BCI dá credibilidade e visibilidade internacional ao algodão brasileiro, é nas nossas lavouras que o conceito de sustentabilidade – ambiental, social e econômica – é adotado com ainda mais rigor. Isso porque o Brasil tem o seu próprio programa de certificação de boas práticas nas fazendas, o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), e ele tem como arcabouço as legislações trabalhista e ambiental do país, consideradas das mais completas e exigentes do mundo.



Atualmente, cerca de 80% do algodão brasileiro é certificado pelos programas ABR/BCI. Essa união entre as iniciativas, no país, teve início em 2013, com uma operação referenciada (benchmark) unificando seus protocolos. Desde então, o produtor que adere ao ABR pode, automaticamente, optar por ser, também, licenciado pela BCI. A adesão aos programas é voluntária, e, ao fazê-la, o cotonicultor se compromete a cumprir um rígido protocolo.



São 224 itens a serem atendidos, só na fase de verificação para diagnóstico que antecede a certificação. Depois, outros 178 para a finalização do processo, que culmina com a expedição do certificado e a consequente emissão dos selos. Esse último número corresponde à soma dos indicadores de sustentabilidade do programa ABR, que são 153, com as 25 exigências da BCI.



São oito os critérios observados:





  1. Contrato de trabalho.

  2. Proibição do trabalho infantil

  3. Proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas.

  4. Liberdade de associação sindical

  5. Proibição de discriminação de pessoas

  6. Segurança, saúde ocupacional, e meio ambiente do trabalho.

  7. Desempenho ambiental

  8. Boas práticas agrícolas



O ABR, assim como a BCI, tem como fundamento o incremento progressivo das boas práticas sociais, ambientais e econômicas nas unidades produtivas de algodão. Elas se lastreiam nos três pilares da sustentabilidade:


 


Pilar Social


Centrado na saúde, segurança e bem-estar do trabalhador.


Pilar Ambiental


Alicerçado no desempenho ambiental e nas boas práticas agrícolas, promove a relação saudável entre o homem e a natureza, com foco na exploração correta dos recursos naturais.


Pilar Econômico


O algodão sustentável, sob o prisma do pilar econômico, é aquele que remunera o cotonicultor, motivando-o a continuar na atividade. A esperada consolidação e a prosperidade do negócio colaboram para a geração de riquezas e desenvolvimento social no local onde o empreendimento está estabelecido e também nos âmbitos estadual e nacional.


 


Etapas para participação e certificação.


A certificação é o resultado de três etapas principais, sendo a primeira um diagnóstico da unidade produtiva, seguido por uma correção de possíveis não conformidades. Por último, vem a auditoria, propriamente dita. Todas estas etapas são amparadas por normas de conduta imersas nos oito critérios.


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Estaduais em campo


 A operacionalização do ABR/BCI se dá no âmbito das associações estaduais de produtores de algodão filiadas à Abrapa. São elas que cuidam, na prática, da implementação dos programas, indo a campo para orientar as fazendas que aderem à iniciativa e vistoriando o cumprimento de todos os critérios. Para isso, contam com equipes multidisciplinares, que incluem engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e de segurança do trabalho.



Auditorias


 Para garantir isenção no processo de certificação/licenciamento, as fazendas são auditadas por empresas de terceira parte, de idoneidade reconhecida internacionalmente. Atualmente (safra 2019/2020), elas são a ABNT, o Gênesis Group e a Bureau Veritas.


Sustentabilidade como propósito


Sustentabilidade – para ser comprovada e reconhecida pelo mercado, dentro e fora do país – requer trabalho e investimento para cumprir protocolos. É preciso adequar estruturas e processos e, na maioria das vezes, mudar culturas empresariais.


A decisão de aderir aos programas, portanto, não se restringe aos produtores, donos dos empreendimentos agrícolas. Ela alcança todas as pessoas envolvidas na produção nas fazendas. Mas quando esse pacto com a sustentabilidade acontece, os benefícios se estendem para muitas pessoas, e para além do algodão.


A cotonicultura, da forma como é empreendida no Brasil nos últimos 20 anos, faz parte de uma matriz produtiva variada. Não existe monocultura: quem planta algodão no Centro Oeste do Brasil também produz soja, e, muito provavelmente, milho, milheto, sorgo e outros, em sistema de rotação. As boas práticas agrícolas, gerenciais, sociais e ambientais repercutem, portanto, em todo o negócio da fazenda.


Tamanho desafio não poderia ser baseado em modismos ou tendências, e, sim, na consciência de que somente o pensar e agir sustentáveis podem garantir uma cotonicultura próspera. E que os recursos para a empreender estarão também disponíveis para as gerações de hoje e de amanhã.

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