Se negociações comerciais sempre podem gerar discordâncias, imagine um produto que tem preço regulado em bolsa, pouca margem para negociação, e que parte da sua qualidade nem pode ser percebida sem ajuda de instrumentos especiais. Assim é o algodão. A pluma que a gente vê é muito mais que brancura e maciez. Ela, por exemplo, tem um gradiente de tons de brancos e de amarelos, espessuras e tamanhos distintos de fibra, características diversas de resistência e resiliência que ajudam ou atrapalham na hora de transformar a matéria-prima em fios e tecidos. E, por conta de tudo isso, aplicabilidades e preços diferentes para cada tipo do produto. No final das contas, quem compra e quem vende quer pagar ou receber o justo pela mercadoria.
Para criar um ambiente mais harmônico, dirimindo o desencontro entre expectativa e realidade, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) elegeu a qualidade nos resultados de classificação instrumental de fibra como uma prioridade. Esse tipo de análise hoje é recorrente em todo o mundo e usa, majoritariamente, uma tecnologia chamada High Volume Instrument (HVI). Ela é capaz de chegar mais longe que o olho humano na classificação de algodão, mesmo sem susbstituí-lo totalmente, porque analisa também as chamadas características intrínsecas da fibra, atribuindo a elas um índice.
O HVI, portanto, é um instrumento de precisão, com índices numéricos, o que, sendo uma linguagem universal, já deveria por fim a boa parte dos impasses sobre classificação nas transações. Mas, para que isso possa acontecer, é preciso ter certeza de que as máquinas são fiéis à realidade e confiáveis nos resultados que entregam.
Em 2016, a Abrapa criou o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), lançado para o mundo em Liverpool, como um compromisso da associação com a transparência e a credibilidade nos resultados de todas as análises realizadas no Brasil, feitas pelos laboratórios que atendem aos cotonicultores nacionais.
O SBRHVI HVI baseia-se em três pilares integrados, não apenas entre si, como também com outros programas e sistemas da Abrapa. Isto os torna ainda mais eficazes e "inteligentes".
Esses pilares são:
1º Pilar - Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA).
Trata-se de um moderno e bem equipado laboratório central que parametrizou a classificação no Brasil e está padronizando, checando e rechecando os resultados das análises e, ano a ano, dá o direcionamento a todos os demais, para que trabalhem em sintonia na aferição de resultados.
O CBRA está situado em Brasília, no mesmo prédio da Abrapa e do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). Em 2018, após cumprir um longo passo a passo, entre entrou para o seleto rol dos laboratórios certificados internacionalmente pelo ICA Bremen.
O centro analisa 0,5% de todas as amostras testadas nos laboratórios participantes (atualmente, em 2020, ele são 11), garantindo a padronização dos processos de classificação.
Esta estrutura desenvolve quatro programas:
- Programa Algodão CBRA de Checagem
- Programa Algodão de Reteste.
- Programa Algodão Brasileiro de Verificação Interna
- Programa Interlaboratorial Brasileiro
2º Pilar - Banco de Dados da Qualidade do Algodão Brasileiro.
É o centro de inteligência do SBRHVI. Ele armazena os dados de análise e classificação do algodão produzido no país e é integrado ao Sistema Nacional de Dados do Algodão (Sinda), ao Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e ao Sistema Abrapa de Identificação (SAI). Com isso, as informações nas etiquetas com código de barras de rastreamento dos fardos, que fazem parte do SAI, agora, contém também os dados de análise da fibra.
3º Pilar - Orientação aos laboratórios participantes.
O conceito do SBRHVI passa pela parametrização e a padronização dos processos, estruturas e equipamentos para garantir confiabilidade de resultados. Por isso, difundir informação, gerar conhecimento, dar suporte, treinar os profissionais que trabalham nos laboratórios que atendem aos cotonicultores brasileiros, assim como realizar visitas técnicas a estes, colabora para que todos trabalhem no mesmo padrão de qualidade, em sintonia com o CBRA.
O SBRHVI é mais uma prova de que o pensamento estratégico e a busca constante da Abrapa por qualidade e credibilidade têm sido a chave para levar o algodão brasileiro ainda mais longe.