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CARTA ABERTA DA ABRAPA CONTRA PROPOSTA DA CARGILL

17 de Junho de 2019

O anúncio do investimento de R$30 milhões, pela empresa CARGILL, destinados a "zerar o desmatamento" no cerrado brasileiro foi recebido com surpresa e preocupação pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que se une às diversas entidades do agronegócio nacional em agravo à companhia americana.



O cerrado é o grande polo produtor de alimentos e fibras têxteis do mundo, e sua função torna-se cada dia mais relevante em função do crescimento da população mundial. Nesse bioma se pratica um modelo moderno extremamente produtivo e absolutamente sustentável de agricultura tropical, que faz do país um grande player global. Não há concorrentes no planeta em agricultura sustentável que se equiparem ao nosso país.



Soa-nos estranho o interesse de uma empresa estrangeira, que tem no esmagamento da soja a sua principal função, em limitar a produção agrícola no bioma. Em primeiro lugar, porque os produtores regionais não apenas cumprem o que preconiza a legislação ambiental brasileira e o Código Florestal Brasileiro, como vão além.



Nas propriedades produtoras de algodão do cerrado, a preservação da mata nativa excede os 20% determinados por lei nas chamadas Reservas Legais (RL), e a conservação das Áreas de Preservação Permanente (APP), como topos de morro, veredas e matas ciliares, é rigorosamente cumprida. Quem descumprir a lei, colocará em risco a aquisição de crédito e a exportação. Não conseguiríamos ser o quarto maior produtor de algodão mundial nem o segundo maior exportador sem observar os aspectos legais.



No final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, graças à agricultura e a todo investimento tecnológico, principalmente, para correção dos solos, o cerrado ficou conhecido o 'celeiro do Brasil'. Prova disso é que 99% do algodão que o país produz, 52% da cana-de-açúcar, 73% dos pivôs de irrigação e 33% dos armazéns, com capacidade de armazenagem de 43%, estão localizados neste bioma, segundo dados da Embrapa Territorial.



A agricultura no cerrado não é fonte de desmatamento e sim de conservação, porque converteu áreas de pastagens em lavouras. Nos últimos 17 anos, segundo a Embrapa Territorial, a perda de vegetação nativa do cerrado foi de 0,25% ao ano, o que é irrisório. E, mesmo assim, não se pode creditar o desmatamento unicamente à agricultura. Parte disso pode estar associada à expansão das cidades, da malha rodoviária, por exemplo



A expansão da agricultura está cumprindo o ideário ambientalista, que é não desmatar e converter pasto em área agrícola. Essa conversão se dá com o que há de mais moderno. O que existe de mais tecnológico e inovador está sendo aplicado no cerrado, e o resultado é intensificação, alta produtividade, uso da área integrado entre lavoura, pecuária e floresta, com rotação de culturas e plantio direto na palha.



Segundo estudo contratado à instituição federal pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), o Oeste da Bahia é a região que mais preserva o meio ambiente naquele estado. Os 55 mil agricultores inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) somam 7,9 milhões de hectares, sendo 4,1 milhões de hectares destes, preservados. Juntas, as Reservas Legais, APPs e a vegetação excedente respondem por 52% do cerrado baiano. Esses produtores só usam 48% dos seus imóveis. A lei os autoriza a usar 80%. Em patrimônio imobilizado, isso representa, por baixo, R$11 bilhões dedicados à preservação da vegetação nativa, mantidos às suas custas.



O discurso de promoção de uma moratória do cerrado encontra ouvidos leigos e se propaga virulentamente, com falácias perigosas: para quem depende do agro para comer – todos nós –, para quem tem nele o seu sustento – 1/3 dos empregos no Brasil provêm do agronegócio – e para a posição que o país conquistou no mundo, de grande produtor de grãos e proteínas.



Não nos esqueçamos:


·      O Brasil produz alimentos para nutrir seis vezes o tamanho da sua população.


·      1,2 bilhões de pessoas no mundo já dependem do Brasil para comer (FAO)


·      Nos próximos dez anos haverá uma demanda adicional de 400 mil pessoas na dependência das lavouras brasileiras, num total de 1,6 bilhão de pessoas! Tudo isso, utilizando apenas 10% do território nacional.


·      Sem o cerrado, será impossível!

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