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Semiárido Brasileiro pode voltar a plantar algodão

02 de Outubro de 2017

Um dos presentes à 48a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, o chefe geral da Embrapa, Sebastião Barbosa, representando o presidente da entidade, Maurício Lopes, falou sobre a perspectiva de retomada da cotonicultura no semiárido brasileiro, com o desenvolvimento de variedades resistentes adaptadas às condições climáticas da região. No último dia 6 de setembro, a Abrapa fechou com a Embrapa e o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) um Acordo de Cooperação Técnica no valor de R$17,7 milhões, para o desenvolvimento de uma variedade de algodão transgênico resistente ao bicudo-do-algodoeiro, praga que chegou ao Brasil no início dos anos de 1980 e praticamente erradicou a atividade na região.  O acordo, que beneficia os atuais produtores de algodão, favorece uma potencial reintrodução da cotonicultura no semiárido.



Segundo Barbosa, para voltar ao semiárido, a produção de algodão vai depender de muita ciência e tecnologia. "A Embrapa está trabalhando no desenvolvimento de cultivares transgênicas resistentes a herbicidas e lagartas, e, recentemente, com o Acordo de Cooperação com a Abrapa e o IMAmt, também ao bicudo. Isso dá possibilidade de implantação da cultura em outras áreas", diz.



O bicudo mudou tudo na forma de plantar algodão no Brasil, desde o local da produção ao modelo de colheita, de acordo com Sebastião Barbosa. "O país já teve quatro milhões de hectares de lavouras de algodão. À época, o Ceará possuía a maior área plantada contínua do mundo, mas a produtividade era baixa", disse referindo-se aos índices de, aproximadamente, 300 quilos de pluma por hectare. "Hoje, cultivamos pouco mais de um milhão de hectares, mas a produtividade é de 1,7 mil quilos por hectare. Não queremos voltar ao que tínhamos na época de 80, mas também não podemos pensar em transpor o modelo do cerrado para o semiárido", afirmou Barbosa. O chefe da Embrapa Algodão disse ainda que a instituição está estabelecendo parcerias com empresas privadas para o desenvolvimento de máquinas de pequeno porte para cotonicultores da agricultura familiar.



O diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, alertou para o risco iminente da reintrodução da cotonicultura no semiárido, se esta for nos moldes que vêm sendo preconizados, sobretudo pela FAO, de modelo orgânico. "O perigo é a proliferação e a perda de controle sobre o bicudo, e a convivência das lavouras convencionais, bem cuidadas no que diz respeito às estratégias contra o inseto, ao lado de um vizinho orgânico, que não pode usar químicos agrícolas e sementes geneticamente modificadas, indispensáveis ao manejo do bicudo", alertou o diretor. Ao questionamento, Sebastião Barbosa acrescentou que os orgânicos também não podem fazer a colheita mecânica, que demanda a aplicação de desfolhantes. "A seca devastou o algodão do semiárido nos últimos seis anos. Por conseguinte, quase erradicou o bicudo na região, mas as populações podem voltar a crescer no momento em que o algodão for reintroduzido", diz Barbosa.

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