Na última semana, a Abrapa esteve presente nos debates da 33ª Conferência Internacional do Algodão. O evento que durou cinco dias, sendo três de Conferência e dois de reuniões do ICAC, ocorreu em Bremen, na Alemanha, e foi acompanhado de perto pelo representante da associação, João Luiz Ribas Pessa. “A Conferência discutiu assuntos de relevante importância para a cadeia produtiva e para os produtores. A troca de experiência com outros países agregou muito nos planos do setor e, como sempre, fomos muito bem recebidos, aproveitando as oportunidades de atualizar os demais sobre os nossos avanços nas boas práticas de cultivo do algodão. O Brasil, a cada dia, assume uma postura de destaque no setor algodoeiro mundial”, comenta Pessa.
Produtores, representantes de órgãos como o Conselho Consultivo Internacional do Algodão (ICAC na sigla em inglês) e de grandes empresas do setor, puderam participar de nove sessões temáticas promovidas pela Bremen Cotton Exchange e pela Fibre Institute Bremen. A edição deste ano teve como tema “Algodão: Conectando Alta Tecnologia e Natureza”. Foram debatidas questões como qualidade do algodão, os resultados de pesquisa visando evolução nos cultivos, a alta tecnologia no processamento têxtil, tecidos de algodão agregando conforto e praticidade, novas diretivas no cultivo do algodão e a aceitação pelo consumidor.
Os primeiros dias envolveram painéis que abordaram o uso do algodão orgânico como potencializador na qualidade de produtos derivados. “Neste momento pudemos perceber uma pressão das empresas que usam algodão orgânico em enaltecer os benefícios econômicos do seu uso”, destaca Pessa, “Mas sem dúvida nenhuma o alto custo e inviabilidade de produzir algodão orgânico em larga escala, são desafios que demandarão muito estudo e tempo para poder ser viável” esclarece o representante. Foram apresentadas também novas maneiras de se promover o consumo do algodão, misturando qualidades diferentes da matéria prima com, por exemplo, outras fibras e produtos que permitem a não absorção de água. “O primeiro dia do encontro nos mostrou novas possibilidades e inovação além de um panorama geral do mercado de algodão e das empresas que participam dele”, ressalta o representante da Abrapa em Bremen.
No último dia de encontro, foram abordados assuntos relacionados à “produção de algodão mundial”. O destaque foi o panorama americano da situação global da fibra e as tendências para o futuro. “O Brasil foi apontado pelo palestrante Lyman Stone da USDA-FAS como potencialmente o país que mais vai aumentar a produção futuramente, em médio prazo. Os americanos consideraram as dificuldades tecnológicas e disponibilidade de áreas para expansão nos outros países, e enalteceram a produção brasileira”, diz Pessa. Ainda foram destacadas as práticas de rastreabilidade e qualidade do algodão que são utilizadas no Brasil. “No quesito da qualidade e da garantia da rastreabilidade da matéria prima, nosso país está muito bem encaminhando frente a outros grandes produtores mundiais”, destaca o representante. Em seguida, no painel “proteção responsável de algodão”, os debates se voltaram para o combate de pragas como o Bicudo. A participação do representante da Embrapa Algodão do Brasil, Sebastião Barbosa, foi muito oportuna e impactante ao destacar que, enquanto tivermos pragas como o Bicudo, fica impossível produzir sem a ajuda dos defensivos. Foi possível uma troca de experiências com diversos atores internacionais que expuseram como enfrentam a praga.
Destaque para a Sustentabilidade nas exportações
A convite da organização da Bolsa de Bremen, a Abrapa participou também da reunião da organização “Partnership for Sustainable Textiles” (parcerias objetivando produtos têxteis com sustentabilidade). O encontro teve apresentações de várias entidades de diversos países como África, Austrália, Israel, EUA, União Europeia, principalmente a Alemanha e o próprio Brasil. A mesa discutiu durante um dia inteiro temas relacionados à exportação de fibras naturais (algodão, lã, seda, linho, etc.) no continente e as exigências para que essa prática atenda a uma agenda de comprometimento social e ambiental.
Após as exposições e discussões, Pessa informou que, para debater as soluções plausíveis para incentivar a produção de fibras comprometidas com o social e ambiental foram formadas 5 mesas de debates com participantes de diferentes setores e que uma das mesas reuniu um grupo chamado de “Internacional” em que participaram os representantes algodoeiros e de outras cadeias dos EUA, Brasil, Austrália, Israel e África. “O grupo sugeriu à plenária, que não haveria sentido de procurar se “reinventar a roda”. Estabelecer novos parâmetros de exigências na comercialização das fibras, considerando que já existem em funcionamento organismos e normas que regem a matéria, seria um contrassenso. Desta forma basta que se adotem os quesitos de comprometimento social e ambientais já usados pelo BCI, SEEP, etc e, a partir daí, sejam acompanhadas as evoluções ano a ano”, revela Pessa que mostrou otimismo com a receptividade da proposta pelos representantes da União Europeia.
Neste encontro foram destacadas as iniciativas do programa ABR de sustentabilidade, promovido pela Abrapa. O representante da entidade conta que o selo abrange todas as características de clima, disponibilidade de água, fertilidade da terra e pragas que condicionam a produção de algodão além de resguardar os produtores acerca das leis trabalhistas brasileiras. “Foi importante mostrar o reconhecimento das iniciativas utilizadas no Brasil”, afirma Pessa.
Pessa fez um convite para que todos os participantes se façam presentes nos Congressos e Seminários de Algodão que são promovidos em diversos países e se familiarizem mais com a cultura, vantagens e desafios do setor. Assim como afirmou que a ABRAPA se dispõe a recebê-los e mostrar o comprometimento do produtor brasileiro com o meio ambiente e com as práticas socialmente corretas nas lavouras.
“Muito importante estarmos atentos à criação de novas entidades como a Partnership for sustainable Textiles, que se propõe a estabelecer parâmetros para exigência de entrada de fibras, tecidos e roupas na Europa, principalmente Alemanha. Isto poderá trazer benefícios para os setores da economia e aumentar a competitividade perante outras matérias primas disponível”, conclui.