Documento assinado na noite desta segunda (26) visa posicionar o Brasil como principal fornecedor de algodão para o mercado chinês.
Nos últimos cinco anos, o Brasil ampliou em mais de 15 vezes as exportações de algodão para o mercado chinês. Na safra 2016/17, foram comercializadas 41,8 mil toneladas (tons). No atual ciclo 2020/21, que finaliza em junho, já são 643,1 mil tons vendidas – e, no que depender da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) e da China Cotton Association (CCA), esse ritmo seguirá intenso nos próximos anos.
Na noite de ontem (26), as duas entidades assinaram um memorando de entendimento que formaliza esforços conjuntos na aproximação ainda maior entre os cotonicultores representados pela Abrapa e o mercado industrial têxtil chinês reunidos na CCA. Criada em 2003, a CCA representa cerca de 60% do setor têxtil na China, abrangendo diversos elos da cadeia do algodão, inclusive indústrias. Já a Abrapa, fundada em 1999, abrange 99% da produção da fibra no Brasil e 100% do total das exportações nacionais.
"Já visitei o Brasil três vezes e vejo um futuro brilhante para os dois países. Estamos unidos na busca por um produto cada vez mais responsável, a partir de um sistema produtivo amigável ao meio ambiente, que protege seus recursos naturais e também os interesses legítimos dos trabalhadores", pontuou a presidente da CCA, Fang Gao.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a China produz cerca de 6 milhões de toneladas de algodão por ano. Entretanto, para atender a demanda da indústria local, precisa importar mais 2 milhões de toneladas – volume que a coloca como maior consumidor industrial de algodão do mundo.
"Por questões climáticas e naturais, a tendência é de que nossa área plantada com algodão se mantenha estável nos próximos anos, assim como a produção. Precisamos de um fornecimento regular e de produto de alta qualidade. Em médio prazo e nesse contexto, o Brasil pode ser considerado o maior player para a China", analisa Jianhong Wang , vice-presidente da CCA.
Os brasileiros estão prontos para o desafio, garante o presidente da Abrapa, Júlio Busato. "Há vários anos, a associação tem viabilizado essa aproximação com a China. Conhecemos as necessidades do setor têxtil chinês. É por isso que, principalmente nas últimas três safras, os níveis de qualidade da fibra nacional cresceram tanto", afirmou durante a assinatura do memorando.
Dados do Beijing Cotton Outlook Consulting (BCO) indicam que enquanto os norte-americanos responderam por 43% do total importado pelo gigante oriental nos primeiros dois meses deste ano, o Brasil absorveu 37,5% das compras chinesas. Índia vem em terceiro lugar, com cerca de 12% das importações.
"Na safra atual, o volume importado pela China ultrapassou a demanda doméstica brasileira, posicionando-se como o maior mercado consumidor do algodão brasileiro", informa Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa. Desde 2020, Duarte lidera o escritório da associação no mercado asiático, em Singapura, com a missão de estreitar relações com os maiores compradores mundiais.
Oportunidades
O descompasso entre a necessidade de algodão e a produção chinesa tende a aumentar nos próximos anos. A estimativa da OCDE é de que até 2029 as compras chinesas aumentem 13% em comparação à média de 2017-2019, enquanto a projeção é de que a produção cresça apenas 3,9% no mesmo período.
"A Abrapa tem criado oportunidades junto ao mercado chinês. O memorando contribui para concretizar as aspirações que os governos dos dois países traçaram em 2019. Uma delas é posicionar o Brasil como importante agente para a segurança alimentar dos chineses, e a outra é intensificar nossa cooperação comercial", observou Ana Coralina Prates, da Seção de Agricultura da Embaixada do Brasil em Pequim.
Na prática
A primeira iniciativa prática da parceria entre Abrapa e CCA poderá ser conferida em junho. Nos dias 17 e 18, os brasileiros participam como apoiadores da 2021 China International Cotton Conference, em Suzhou. O evento funcionará como uma vitrine da fibra nacional, com parceria institucional da embaixada brasileira e também da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea).
Além da promoção do produto brasileiro, o memorando de entendimento fomenta a troca de conhecimento técnico entre os dois países em diversas áreas, além de informações de mercado e econômicas. A médio prazo, outro objetivo é que os padrões de avaliação da qualidade da fibra brasileira possam ser uniformizados junto ao setor alfandegário chinês.