Embora o algodão brasileiro seja considerado um dos melhores do mundo em qualidade, parte dos atributos se perdem no transporte, comprometendo a imagem internacional do setor. Em meio a uma crise logística internacional, com escassez de contêineres, um problema antigo se agravou: a falta de cuidados no transporte da pluma, causando prejuízos para compradores e vendedores diante de perdas que poderiam ser evitadas.
“Nós tivemos a infelicidade na última missão que fizemos, em abril, de ver isso in loco na Ásia comparando o depósito de algodão americano, australiano e do nosso algodão – que em qualidade é melhor que o deles – totalmente danificado. E aí isso é um prejuízo para a imagem do algodão brasileiro porque o comprador não imagina que ele estragou no transporte, ele acha que já saiu daquele jeito, arrebentado, daqui”, explica o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero.
Responsável pelos protocolos de certificação de boas práticas na produção da pluma no país, a entidade representativa do setor cotonicultor se prepara para lançar um novo programa no país voltado para logística, o ABR-Log. O intuito, aponta Portocarrero, é reunir todas as melhorias necessárias no processo de transporte e armazenamento da pluma realizado atualmente no país.
“Pela nossa experiência, tudo que nós tivemos que fazer para melhorar a forma de produzir e beneficiar foi com protocolos e chamando auditorias para ver se foi bem feito. Então, resolvemos criar e vamos implementar um protocolo de auditoria nas empresas de logística para que elas tratem melhor nosso algodão e que ele chegue melhor no destino final”, completa o diretor executivo da Abrapa. A previsão é de que o protocolo, ainda em discussão, entre em vigor até o final deste ano.
Entre os principais problemas enfrentados, Portocarrero destaca carrocerias de caminhão sujas e a lotação de contêineres acima da sua capacidade máxima. “A carroceria de caminhão suja contamina a lona que recobre o algodão, a carga vai esfregando na carroceria, pega umidade e contamina, perde qualidade. Quando chega no porto para embarcar o algodão, com essa crise de contêiner, enfia o máximo que puder de fardo pra dentro do container e eles são estufados literalmente e na hora de tirar não consegue tirar direito, tem que puxar e arrebenta”, explica o diretor executivo da Abrapa.
A Associação estima perdas de 10% a 15% na pluma embarcada de forma descuidada, o que pode gerar tanto descontos para o vendedor quanto prejuízos no rendimento da pluma adquirida pelo comprador, que terá que destinar a parcela contaminada para fins menos nobres.
“Então ele deixa de ganhar lá na outra ponta também porque na verdade ele comprou um algodão de primeira linha e está tendo que engolir um algodão danificado, que ele vai perder 10% na hora de beneficiar e fazer fio porque uma parte está estragada”, observa Portocarrero ao ressaltar que ainda que os protocolos representem aumento de custos, eles evitarão que o Brasil perca mercados num contexto e aumento da concorrência internacional.
“Hoje nós somos um dos poucos países a fornecer algodão certificado de qualidade e a demanda por esse algodão sustentável é muito maior do que a oferta, então isso facilita negócios antecipados. Mas num futuro muito próximo isso vai virar obrigação e vamos ser apenas mais um e aí quem não é certificado vai ter problema e ainda mais problema se estiver chegando fardo estragado lá fora, porque aí ninguém vai querer e vamos ter que jogar algodão fora”, alerta o diretor executivo da Abrapa.
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Mídia: Globo Rural – 24/08/2022