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Laboratório central garante credibilidade às análises de qualidade do algodão brasileiro

14 de Maio de 2021

A credibilidade do algodão produzido no Brasil é tão importante quanto a qualidade, na conquista de novos mercados e na valorização da pluma nacional. Padronizar as análises de classificação é peça-chave neste processo. Foi com este objetivo que a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) criou o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI), cujo principal pilar é um moderno e bem equipado laboratório central localizado em Brasília - o Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA).


Sob responsabilidade da Abrapa, o CBRA atua na verificação e padronização dos processos de análise do algodão brasileiro, feitos por instrumentos de alto volume do tipo HVI em 11 laboratórios credenciados. O padrão internacional de classificação por instrumento de alto volume, aceito comercialmente no mundo todo, foi adotado pelo país em 2002.


"Havia muita divergência de resultados. Era preciso criar um laboratório central capaz de monitorar os laboratórios brasileiros, para garantir a reprodução de ensaios de análise e passar credibilidade ao mercado", conta Edson Mizoguchi, gestor do programa SBRHVI.


Para a estruturação da iniciativa, a Abrapa contou com a consultoria internacional de Axel Drieling, do Centro Global de Testagem e Pesquisa do Algodão (ICA Bremen), instituição de referência mundial que congrega o Faserinstitut Bremen, o Bremen Fibre Institute (FIBRE) e o Bremer Baumwollboerse (BBB). "No Brasil, existem vários laboratórios independentes que se dedicam a testar a produção nacional de algodão. O importante papel do laboratório central é zelar para que todos consigam alcançar os mesmos resultados para o mesmo algodão", resume Drieling.


O CBRA é responsável por monitorar as unidades credenciadas e dar recomendações para melhorias; preparar e fornecer as amostras necessárias para verificações diárias dos equipamentos de análise; retestar amostras dos produtores, entre outras atividades. Concebido dentro dos requisitos de boas práticas de análise de algodão, o laboratório central tem cerca de 390 metros quadrados, ambientes com parede de isolamento térmico, sistema de climatização com sensores que monitoram temperatura e umidade por minuto, além de gerador de energia. A estrutura conta com dois equipamentos de análise por instrumentos de alto volume do tipo HVI, com colorímetros duplos que garantem maior confiabilidade na leitura da cor e das impurezas. Cada máquina tem compressores, estabilizadores e no break. Os equipamentos são calibrados com algodão fornecido pelo USDA e passam por manutenção, antes do início de cada safra.


"O CBRA é o elemento central, une todos os laboratórios e cuida de uma consistente avaliação da qualidade do algodão brasileiro. Para isso, é fundamental a cooperação com todos os laboratórios e o contato permanente com as atividades de harmonização internacional", ressalta Axel Drieling.


A atuação do laboratório central é estruturada em quatro programas: Algodão CBRA de Checagem, Algodão de Reteste, Algodão Brasileiro de Verificação Interna e Programa Interlaboratorial Brasileiro. "Todos os programas visam monitorar constantemente as máquinas de alto volume, pois elas realizam mais de mil ensaios por turno de trabalho. Estamos falando de cerca de 14 milhões de análises distribuídos em 11 laboratórios", informa Mizoguchi.


Programa Algodão de Checagem


Para que todas as máquinas de análise instrumental de alto volume funcionem dentro dos mesmos parâmetros, o CBRA prepara amostras no padrão internacional e envia para todos os laboratórios participantes do programa. Essas amostras de referência, chamadas de Algodão de Checagem, são utilizadas a cada 200 amostras comerciais analisadas e enviadas. O resultado é disponiblizado, às cegas, para o laboratório central, que consolida as estatísticas e oferece orientação para a melhoria das análises.


"O programa de checagem é fundamental para a gestão da qualidade de nossos resultados", afirma Renato Marinho de Souzacoordenador dos laboratórios de HVI da Kuhlmann. Diariamente, os quatro laboratórios de HVI da Kuhlmann analisam até 50 mil amostras de algodão. Por safra, o volume chega a 7,3 milhões. "Hoje, temos uma referência confiável, nossas equipes podem monitorar e identificar desvios que antes trariam impactos ao nosso cliente", conta Souza. Segundo ele, diversos clientes pedem, inclusive, para ter acesso ao gráfico de confiabilidade das máquinas.


 


Programa Algodão Brasileiro de Verificação Interna


Dentro dos mesmos padrões do algodão de checagem, o CBRA fornece amostras para que a rede de laboratórios utilize na sua verificação interna. O material é utilizado sempre que necessário, para verificar o funcionamento dos equipamentos de análise do tipo HVI. Caso seja identificado algum desvio, a máquina é paralisada e calibrada com o algodão-padrão USDA, importado dos Estados Unidos.


Desta forma, os laboratórios conseguem manter os equipamentos sempre calibrados dentro dos parâmetros aceitáveis de micronaire, comprimento UHML, uniformidade, resistência, grau de reflexão e grau de amarelamento. "Além de otimizar os custos dos materiais importados para calibração dos equipamentos, o algodão brasileiro de verificação interna possibilita mais um dispositivo de controle da garantia e qualidade laboratorial", acredita Cleciano Silva Moreira,  gestor do Laboratório de Análise e Classificação de Algodão da Cooperfibra.


A facilidade de identificação de desvios, com os equipamentos em plena operação, é destacada por Sérgio Brentano, gerente de laboratório da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). "É possível tratar eventuais desvios imediatamente, sem comprometer a credibilidade dos resultados, elevando cada vez mais a confiança no laboratório", afirma. "Esta transparência, confiança e credibilidade demonstrada na atividade do laboratório contribui positivamente para o fortalecimento do setor produtivo, nos tornando cada vez mais competitivos no mercado mundial", avalia.


De acordo com Edson Mizoguchi, o programa demonstra que os laboratórios estão evoluindo. Na safra 2016/17, de cada 100 análises, 91 ficaram dentro da faixa de conformidade aceitável. Hoje, a taxa média é de 96.


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Programa Algodão de Reteste


O CBRA retesta, aleatoriamente, as amostras de algodão analisadas pela rede de laboratórios. Esta etapa, feita em duas máquinas no laboratório central, contempla as características micronaire, comprimento, resistência e uniformidade. Além de garantir a confiabilidade das análises, o reteste é uma ferramenta importante para a melhoria da qualidade das análises.


A falta de padronização do tamanho do material enviado pelos produtores, porém, ainda é um desafio para os laboratórios e para o CBRA. Para solucionar o problema, desde a safra passada, o laboratório Minas Cotton, da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), trabalha junto às usinas de beneficiamento para adequação da dimensão das amostras. "Fabricamos modelos de gabaritos com as especificações da IN 24 de 2016 MAPA e doamos para as algodoeiras", conta Anicézio Resende, gerente de laboratório da Amipa.


Pela norma, cada amostra deve ter pelo menos 14cm de largura por 24cm de comprimento e 8cm de profundidade, com espessura de massa de no mínimo 12cm e cerca de150g de peso. "Com essas especificações, podemos garantir que as amostras cobrirão toda a área da leitura no modulo da cor e outros, conferindo ainda mais precisão aos resultados e melhorando a credibilidade das análises feitas pelos laboratórios", afirma Resende.


 


Programa Interlaboratorial Brasileiro


Tanto o CBRA quanto os laboratórios participantes do Standard Brasil SBRHVI integram o chamado programa Interlaboratorial brasileiro, que consiste na realização de duas rodadas de ensaio por safra, para monitoramento dos equipamentos de análise do tipo HVI. O programa conta com a participação dos laboratórios Faserinstitut Bremen e Senai Blumenau.


Rhudson Santo Assolari Martins, gerente Laboratorial de Análises de Algodão da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), lembra que a iniciativa foi implementada com o objetivo de aumentar a confiabilidade dos laboratórios, através da avaliação da exatidão dos resultados de cada um. "Isso nos traz credibilidade e pode até mesmo ser usado como ferramenta de comprovação de resultados da análise comercial, caso haja alguma contestação", pondera.


Além das rodadas nacionais, todos os laboratórios, inclusive o CBRA, participam das rodadas internacionais de teste do CSITC - Força Tarefa do ICAC para Padronização Comercial da Análise Instrumental de Algodão. "A partir dessas participações e orientações, conseguimos garantir para o nosso cliente rastreabilidade, confiabilidade e credibilidade na qualidade das análises do algodão", avalia Anicézio Resende.


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Certificações


Com o objetivo de atestar a competência técnica e dar visibilidade ao Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), a Abrapa buscou a certificação ICA Bremen. Após um longo e rigoroso processo envolvendo auditorias e participação em quatro rodadas internacionais, em 2018 o CBRA entrou para o seleto rol dos 11 laboratórios certificados pelo ICA Bremen no mundo todo.


"Como o laboratório central é responsável por zelar pela confiabilidade dos resultados dos testes de toda a produção brasileira de algodão, é importante cuidar e comprovar que o próprio CBRA atende aos mais elevados padrões de qualidade", explica Axel Drieling. "Com a Certificação ICA Bremen, reconhecida no mercado mundial de algodão, o CBRA vem mantendo um padrão de excelência e conquistando um alto reconhecimento mundial de credibilidade e competência para o laboratório", atesta.


Em 2020, a Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro concedeu a acreditação baseada na NBR ISO/IEC 17025   ao CBRA, nas análises de comprimento, uniformidade, resistência, micronaire, grau de reflexão e grau de amarelamento. "Nos equiparamos aos melhores laboratórios do mundo, com rastreabilidade internacional", afirma o presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato.

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