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Compromisso com a Qualidade posiciona Brasil entre os grandes produtores mundiais de algodão

07 de Maio de 2021

A qualidade da fibra de algodão é o que determina sua aplicabilidade e valorização no mercado. Muito além do gradiente de brancos e amarelos, a pluma tem finuras e tamanhos distintos e características diversas de resistência e resiliência que ajudam ou atrapalham na hora de transformar a matéria-prima em fios e tecidos. Nas últimas décadas, os cotonicultores brasileiros vêm trabalhando intensamente para elevar o padrão e a credibilidade da fibra produzida no país.


Muita coisa mudou desde que a cultura do algodão começou a migrar para a região central do Brasil, no final dos anos 90. "A Abrapa reorganizou a cadeia produtiva por meio de associações estaduais e parcerias com Embrapa, universidades públicas e privadas e fornecedores de insumos, entre outros", conta Júlio Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão. Novos recursos tecnológicos e pesquisas para melhoramento genético possibilitaram a expansão da cotonicultura e deram dimensão empresarial à produção brasileira de algodão, posicionando o país como quarto maior produtor mundial e segundo maior exportador da pluma.


O salto quantitativo e qualitativo não ocorreu da noite para o dia. A substituição da colheita manual pela mecânica trouxe desafios, como a maior incidência de cascas de caule na pluma.  Segundo Jean Belot, pesquisador do Instituto Mato- Grossense do Algodão (IMAmt),outros dois fatores também foram determinantes na evolução do processo produtivo: a prevalência da segunda safra e a oferta de muitas variedades novas. "São mudanças que criaram uma certa dificuldade para se obter aumento de qualidade ao longo dos anos", avalia.


Os desafios foram superados com pesquisa e novas tecnologias. Os produtores dominam cada vez mais as diversas etapas para melhorar o grau de folhas e outras contaminações, garante o pesquisador. A incidência de pedaços de caule, por exemplo, foi solucionada com a melhoria do manejo da lavoura e a adequação do tamanho da planta, aliada à modernização das algodoeiras com equipamentos de pré-limpeza.


Para minimizar a contaminação por fragmentos de semente no processo de descaroçamento, os produtores buscaram identificar as variedades mais suscetíveis - quando isso é detectado previamente, é possível fazer regulagens nas algodoeiras para amenizar o problema. A presença de açúcar na pluma também foi solucionada. "A pegajosidade é um ponto que resolvemos bem a nível das fazendas, porque os produtores estão cuidando muito mais do controle das pragas de final de ciclo", explica o Belot.


Com relação aos parâmetros de qualidade intrínseca da fibra, a escolha da variedade e o manejo são os fatores preponderantes. "A maturidade é o ponto chave para definir a qualidade intrínseca da fibra e o produtor está cada vez mais esclarecido sobre isso", afirma.


A busca dos cotonicultores por qualidade é um processo contínuo, assegura o gerente de Controle de Qualidade da Scheffer, Maksuell Marques. "Na última década, a qualidade se tornou prioridade.  Na Scheffer, adotamos um processo de melhoria contínua, desde a lavoura, colheita até o beneficiamento, o que nos assegura a evolução da qualidade, em busca de atender às necessidades do mercado", conta. "Hoje temos um algodão com pouca incidência de caule e fragmentos e uma evolução muito grande na fibra, tanto no comprimento quanto nos outros itens, como resistência e maturidade", destaca.


Análise de qualidade


Para o Brasil passar da condição de segundo maior importador para segundo maior exportador mundial de algodão, não bastava investir na melhoria do processo produtivo. Era preciso medir a qualidade da pluma nacional. Para aumentar a confiabilidade e a competitividade do produto brasileiro, em 2002 a Abrapa implementou a análise e classificação da fibra por instrumentos de alto volume aceitos comercialmente.


A adoção do padrão internacional de High Volume Instrument(HVI) equiparou o Brasil aos principais países produtores. A tecnologia, capaz de chegar mais longe que o olho humano, possibilitou medir características intrínsecas e extrínsecas da pluma, tais como micronaire, resistência, comprimento, uniformidade, índice de fibras curtas e cor – aspectos que influenciam no preço e definem se a pluma atende às exigências de cada comprador.


Mas ainda seria necessário dar um passo adiante. Em 2010, durante rodada da International Cotton Association, compradores internacionais reportaram que a qualidade do algodão brasileiro não correspondia ao que constava nos laudos dos laboratórios. A partir daí, a Abrapa empreendeu iniciativas para melhorar e padronizar as análises feitas no país. "Definitivamente, o Brasil precisava criar um modelo de qualidade e nos baseamos no modelo americano", conta Júlio Busato.


O programa Standard Brazil HVI – SBRHVI


Com o apoio das associações estaduais, a Abrapa contratou uma consultoria para verificar a conformidade dos laboratórios brasileiros de classificação do tipo HVI. Também foi disponibilizada a tradução do guia de boas práticas para análise de instrumentos de alto volume publicado pela força tarefa do Commercial Standardization of Instrument Testing o fCotton (CSITC).


Em 2016, visando à padronização da classificação, foi lançado o programa Standard Brasil HVI (SBRHVI). O programa foi estruturado em 3 pilares: um moderno e bem equipado laboratório central em Brasília; um banco de dados da qualidade, que armazena as informações de análise e classificação do algodão produzido no país; e permanente orientação e treinamento para os laboratórios que atendem aos cotonicultores brasileiros, para que todos trabalhem no mesmo padrão.  "Além de qualidade, o Brasil passou a entregar, também, credibilidade e transparência nos resultados das análises", ressalta o presidente da Abrapa.


O programa foi decisivo para o reconhecimento internacional da pluma brasileira. "Havia muita divergência de laudos e o mercado externo não tinha confiança no algodão brasileiro. O SBRHVI foi um divisor de águas", avalia Maksuell Marques.


Para o diretor Comercial da SLC Agrícola, Aldo Tissot, ao disponibilizar dados detalhados sobre a pluma comercializada, o programa também se tornou uma excelente ferramenta de feedback dos compradores sobre a qualidade do algodão brasileiro. "O mercado internacional é muito exigente, a qualidade que a indústria têxtil está demandando está cada vez maior e isso nos obriga a termos um produto melhor", pontua.


O contato direto com os compradores asiáticos tem possibilitado a evolução constante na qualidade da pluma produzida. "Todo feedback que recebemos, discutimos e tentamos fazer ajustes que atendam às necessidades do mercado", conta o diretor comercial da SLC. A gestão de dados é fundamental nesse processo.  "É preciso usar ferramentas de Business Intelligence para olhar os processos, usar a base de informações que temos para ver onde podemos evoluir e tomar as melhores decisões para a safra seguinte", ressalta.


 


 


Visão do mercado


 


O estreitamento da relação entre produtores e indústria também se verifica no mercado doméstico e contribui para o processo de melhoria contínua da qualidade do algodão produzido. "O entendimento entre cliente e fornecedor vem crescendo muito, ao longo dos anos. A indústria passou a fornecer informações que ajudaram os produtores a compreenderem as necessidades do mercado e desenvolverem a qualidade da fibra", avalia Cleber Resende Martins, gerente de Produção de Fiação da Cia Industrial Cataguases. A empresa produz os próprios fios e fabrica tecidos leves de algodão para vestuário - 90% do portfólio é feito com algodão nacional.


À evolução na qualidade da fibra brasileira, somou-se o aumento de produtividade. A produção praticamente dobrou nos últimos dois anos, chegando a 3 milhões de toneladas na safra 2019/2020. Com a demanda do mercado interno estagnada na faixa de 700 mil toneladas, os cotonicultores passaram a buscar mais ativamente o mercado internacional, competindo de igual para igual com grandes produtores como os Estados Unidos.


"Com o aumento da qualidade e da credibilidade, muitas indústrias que não consumiam o algodão brasileiro começaram a comprar nosso produto e a aumentar a nossa participação nas misturas", relata Marco Antonio Aluisio, diretor da Eisa Trading e da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea)."Felizmente, estamos batendo recordes de embarque e as indústrias estão cada vez mais confiantes de fazer compra futura de algodão brasileiro", afirma.


Na análise comparativa de dados, na média, a fibra produzida no Brasil é superior à americana em comprimento de fibra, resistência e micronaire, garante o presidente da Abrapa. "Estamos preocupados com toda a cadeia, desde a produção, ao beneficiamento e à logística. Trabalhamos para que todos os produtores caminhem no mesmo sentido e possamos oferecer um algodão de ótima qualidade para o nosso cliente, esteja ele onde estiver", conclui Busato.


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