A crise econômica decorrente da pandemia de COVID-19 teve forte impacto sobre o setor algodoeiro no mundo todo. A mudança no comportamento do consumidor têxtil reduziu a demanda global por algodão em 6,4% e resultou no recuo da área plantada e na previsão de queda na produção. Na busca por soluções conjuntas, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) promoveu, nesta quarta-feira (22), o Fórum Regional Algodoeiro dos Países Parceiros da Cooperação Sul-Sul Trilateral +Algodón: Encontro De Agremiações Algodoeiras. O evento virtual contou com o apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE).
O cenário mundial tem exigido novas estratégias de representação, defesa e promoção dos interesses do setor. Durante o encontro, a FAO fez um chamado aos países parceiros da Cooperação Sul-Sul trilateral +Algodão - Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru – para que unam esforços institucionais e técnicos, no sentido de superar as dificuldades e buscar soluções para a reativação econômica da região e para a sustentabilidade da cadeia de valor do setor agrotêxtil.
O embaixador Ruy Carlos Pereira, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores, abriu a reunião falando sobre a importância do intercâmbio de informações entre instituições de excelência públicas e privadas. Frisou, ainda, que o algodão é fundamental para o programa brasileiro de cooperação técnica internacional para países em desenvolvimento. "O programa contempla iniciativas como o aprimoramento da produção do algodão, a promoção do trabalho decente na cadeia de valor desta commodity, a facilitação do escoamento de subprodutos associado a programas de alimentação escolar, entre outros aspectos", enumerou.
Marcos Montes, secretário-Executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil mencionou o diferencial do algodão brasileiro, cultivado em regime de sequeiro – apenas 8% da área é irrigada –, e reafirmou a disposição do governo brasileiro em apoiar o desenvolvimento da cultura na região. "Acredito que podemos implementar, nos nossos países-irmãos, uma tecnologia mais avançada, fazendo com que o algodão seja uma cultura de boa renda para todos", afirmou. "O cooperativismo e o associativismo são instrumentos importantes para que o algodão gere renda e emprego para o médio e o pequeno produtor", enfatizou.
O diretor-executivo da Abrapa, Márcio Portocarrero, ressaltou que foi justamente o associativismo que propiciou o desenvolvimento da cotonicultura brasileira. A partir da criação da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, há 22 anos, o país passou da condição de segundo maior importador da pluma para segundo maior exportador mundial. "Nos anos 2000, os produtores decidiram retomar o cultivo de algodão no Brasil baseando-se nas seguintes premissas: adoção de alta tecnologia, investimentos em rastreabilidade, certificação socioambiental, qualidade e comercialização dirigida aos mercados interno, com o movimento Sou de Algodão, e externo, com o Cotton Brazil", contou Portocarrero, lembrando que a Abrapa conta, inclusive, com um escritório em Singapura voltado ao mercado asiático.
O papel do cooperativismo para a superação da crise econômica foi mencionado por representantes dos diferentes países e enfatizado pelo presidente da Organização Brasileira de Cooperativas (OCB), Marcio Lopes Freitas. "Há uma mudança muito clara no perfil do consumidor, 62% têm interesse em empresas que estão empenhadas em fazer o bem e isso tende a ser impulsionado pela pandemia", pontuou. "Esse modelo inclusivo e colaborativo que as pessoas estão buscando está presente no cooperativismo desde a sua origem: um modelo de negócio que promove inclusão social, geração de trabalho e renda e redução de custos e ampliação dos benefícios através da economia de escala", complementou. Segundo ele, 48% do algodão produzido no Brasil segue o modelo cooperativo, incluindo médios e pequenos produtores.
No encerramento do Fórum, Alberto Ramirez, especialista em Cooperativismo do Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, mencionou Brasil e Argentina como exemplos de cooperativismo bem-sucedido. "A questão central é saber como estruturar uma representação que tem, em seu DNA, a democracia e o trabalho em conjunto. Isso é fundamental", afirmou. Destacou, ainda, a importância das dimensões social e ambiental e da colaboração entre cooperativas dos diferentes países da região. "Não há democracia real sem que antes haja democracia econômica. As cooperativas permitem democratizar o acesso a bens de capital e renda, e isso vai viabilizando uma sociedade mais justa", ressaltou.
Além de integrantes dos governos membros da Cooperação Sul-Sul Trilateral +Algodón, o encontro reuniu representantes de agremiações de algodão, cooperativas, associações, setor têxtil-confecções, instituições de pesquisa, extensão rural e universidades. As discussões e recomendações serão compartilhadas e utilizadas para a elaboração de um plano de ação regional.