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Setores de fibras têxteis naturais, artificiais e sintéticas discutem ameaças e oportunidades no contexto da Covid-19

20 de Maio de 2020

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Milton Garbugio, representou o setor de fibras naturais, no debate online que a Associação Brasileira da Industria Têxtil e de Confecções (Abit) promoveu na tarde desta terça-feira (19), para falar de cenários para as fibras têxteis no contexto da pandemia de Covid 19. No evento, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas (Abrafas) Lineu Jorge Frayha, e o conselheiro da mesma entidade, Renato Boaventura, falaram, respectivamente, pelos produtores de poliéster e poliamida. A discussão foi mediada pelo presidente da Abit, Fernando Pimentel.



Se, à primeira vista, o debate parecia sugerir o confronto entre insumos têxteis concorrentes, o consenso entre os debatedores foi justamente o oposto. Apenas o fortalecimento das cadeias produtivas integradas – desde a matéria-prima até a confecção –, a união entre os setores e a inovação podem assegurar uma retomada bem-sucedida, quando a crise atingir o pico e começar a passar. Da mesma forma, os participantes elencaram a redução do chamado "custo Brasil" e mecanismos de proteção à concorrência desleal como fatores prioritários.



"A China é um grande comprador, mas também um grande produtor de algodão. É difícil competir com quem tem mão de obra e energia mais baratas, além de subsídios governamentais. Precisamos, no Brasil, de garantir meios para que o investidor acredite no país para colocar o seu dinheiro. Para isso, temos de ter segurança jurídica e transparência por parte dos governos. É importante também uma reforma tributária, pois nem os estados se entendem nessa questão", considerou Garbúgio.



O presidente da Abrapa lembrou que, ao contrário das fibras artificiais e sintéticas, o algodão precisa ser cultivado, o que exige planejamento e obediência a um calendário agrícola. "Para termos algodão, precisamos de pelo menos 18 meses entre planejar e produzir. Isso nos deixa um tanto vulneráveis pois não sabemos quando tudo isso vai passar. A indústria nacional praticamente parou. O consumo mundial vai reduzir. Acredito que valorizar a indústria nacional e o produto brasileiro, de qualidade e sustentável, será essencial para puxar essa demanda", afirmou.



Renato Boaventura considera que é preciso garantir a integração. "Se hoje dependêssemos de importação, as coisas seriam ainda piores. Já perdemos elos da cadeia como o da produção de viscose. Não podemos deixar que outros se percam", afirmou. Os representantes de poliéster e poliamida enfatizaram a queda no preço do petróleo, base da fabricação destes produtos, e a posição da China na produção mundial como desvantagens para o setor neste momento. "Competir com a China e os países asiáticos é um trabalho hercúleo. A China detém 70% da produção mundial e tem incentivos governamentais para a exportação de seus produtos acabados. Nosso governo tem de entender a importância de reduzir o custo Brasil, que hoje para nós é maior até que as eventuais barreiras tarifarias de que dispomos para proteger a nossa indústria", disse.



Todos os setores representados avaliaram que o consumidor pós covid, empobrecido e receoso, vai prestar ainda mais atenção a critérios como qualidade e durabilidade, no momento em que voltar a comprar roupas e outros itens têxteis. "Ele também vai estar mais atento à sustentabilidade. Os cotonicultores fizeram um grande trabalho nesse sentido, tanto com o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que atua em benchmark com a Better Cotton Initiative (BCI), como com as iniciativas em qualidade e rastreabilidade. Para fortalecer a indústria nacional, são importantes também programas como o Sou de Algodão, que já está repercutindo muito no Brasil, ao difundir as informações sobre os nossos diferenciais competitivos junto ao consumidor final brasileiro", comentou.



Os participantes também evidenciaram a necessidade de valorização da indústria nacional e do produto feito no Brasil. "Isso vai além de uma etiqueta de origem, que demanda uma série de processos e rastreabilidade. Trata-se de um sentimento de que é preciso fortalecer o que é nosso, gerar empregos e melhorar a vida das pessoas", afirmou Pimentel.


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