Voltar

PPP contra o bicudo-do-algodoeiro

11 de Setembro de 2019

A assinatura de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Associaçãoeira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o Instituto Mato-grossensse do Algodão (IMAmt), a Embrapa e a Fundação Eliseu Alves, no valor de R$17,7 milhões, para o desenvolvimento de uma variedade de algodão transgênico resistente ao bicudo-do-algodoeiro pode ser o primeiro passo para o Brasil galgar patamares mais altos no ranking dos maiores exportadores mundiais de algodão. O país ocupa o quarto lugar nesse pódio, e, pela estimativa dos cotonicultores, pode alcançar o segundo, em cinco anos, hoje ocupado pela Índia, se crescer a uma média de 15% ao ano. Para isso, erradicar a praga que representa um acréscimo de cerca de 10%, ou US$250 por hectare, nos custos de produção é uma prioridade para cotonicultores, governo e iniciativa privada. A Parceria Público Privada (PPP) foi estabelecida na manhã dessa quarta-feira (06/09), na sede da Embrapa, em Brasília.



Os recursos disponibilizados pelo IBA para a cooperação técnica serão utilizados para acelerar as pesquisas que já existem em desenvolvimento de plantas resistentes ao bicudo e possibilitar a intensificação dos trabalhos, através da Plataforma do Algodão. Ela prevê etapas em curto, médio e longo prazos, até que se chegue à planta definitiva, o que costuma levar de dez a 15 anos. No Acordo de Cooperação Técnica, caberá à Abrapa captar os recursos junto ao IBA e repassá-lo, conforme cronograma físico-financeiro, para a Fundação Eliseu Alves, que será responsável pela gestão do montante a ser utilizado pela Embrapa, e para o IMAmt, que executará parte do projeto. A Embrapa e a Abrapa se comprometem a, em um prazo de 30 dias após a assinatura do termo, constituir um comitê gestor que irá elaborar um regimento interno, constituído por três representantes da Embrapa e três da Abrapa.



 A cerimônia de assinatura contou com a presença do chefe de gabinete do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Coaraci Castilho, representando o ministro Blairo Maggi, dos presidentes da Embrapa, Maurício Lopes, e da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, do presidente executivo do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Haroldo Cunha, do diretor do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, do diretor presidente da Fundação Eliseu Alves, Alexandre Barcellos, da diretora-executiva da Embrapa, Lúcia Gatto, do chefe-geral da Embrapa Algodão, Sebastião Nascimento, do diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero, dentre diversos membros da comunidade científica.



Produtores tecnificados



Em seu discurso, o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, rememorou a história da atividade algodoeira no país, enfatizando o período de migração para o cerrado que, segundo ele, ressignificou a cotonicultura nacional. "Esse setor representa muito bem o que o Brasil se tornou: mais que uma nação agrícola, uma potência em agricultura no mundo, e é um orgulho para a Embrapa ter participado desse processo", disse Lopes, dando como exemplo os resultados da safra 2016/2017, que deve fechar em 1,5 milhões de toneladas de pluma. "O Brasil já importou algodão, depois se tornou um grande produtor, até que veio o bicudo. A migração para o cerrado representa uma retomada da nossa cotonicultura", explica o presidente da Embrapa.



O presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, disse que o incremento nas exportações brasileiras, com o combate mais assertivo ao bicudo, pode fazer a cultura voltar a ser expressiva em estados como Alagoas, que sediou, na última semana, entre os dias 29 de agosto e 1° de setembro, o 11° Congresso Brasileiro do Algodão (11° CBA). "Alagoas já foi um grande produtor e processador da fibra, tanto que o algodão está até na bandeira do estado. Mas não produziu um único capulho nas últimas safras, e o bicudo é uma das razões pela qual a atividade foi devastada em seu território. Com a volta dessas regiões à produção, mesmo com produtores de pequenas áreas, vamos contribuir para incrementar a oferta brasileira da fibra. Este projeto nos possibilitará alcançar a meta de dobrar a produção em cinco anos", afirmou. Ainda segundo o presidente da Abrapa, Arlindo Moura, o algodão não precisa ser uma atividade de grandes produtores. "Mas precisa ser de cotonicultores tecnificados. E a tecnologia pode ser difundida para os pequenos. Isso fará dele a grande commodity do Brasil", disse.



Marco histórico



Possibilitado pelo aporte de recursos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), o desenvolvimento de uma variedade resistente ao bicudo será um marco na atuação do IBA. "Será, sem dúvida, um divisor de águas. Atualmente o bicudo é um problema quase exclusivo do Brasil, se considerarmos que se trata de uma praga que incide majoritariamente na América do Sul, e, nessa região, nosso país é o produtor que impacta na oferta mundial da fibra. Sendo assim, muito dificilmente haveria investimento internacional para buscar soluções. O êxito nessa iniciativa vai resultar em uma tecnologia exclusivamente pensada para as nossas condições, que vai favorecer diretamente a produtividade, a redução dos custos e, consequentemente,  a competitividade do Brasil no cenário mundial", afirma Haroldo Cunha, presidente executivo do IBA.



Nas palavras do chefe de gabinete do MAPA, Coaraci Castilho, a Plataforma do Algodão representará um impacto positivo, tanto na produtividade quanto na geração de renda em toda a sua cadeia produtiva. "Iniciativas como esta precisam ser aplaudidas e incentivadas. As parcerias com o setor privado são fundamentais, na visão do ministro Blairo Maggi, para impulsionar a ciência e a tecnologia em nosso país", recomendou Castilho. O bicudo chegou ao Brasil há aproximadamente três décadas e é considerado o maior problema fitossanitário da cultura do algodão.



A nova plataforma, segundo o diretor do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Alvaro Salles, representa um grande desafio. "O Brasil produzindo biotecnologia é algo que pode parecer impossível para muitas pessoas, que acham que isso é tarefa para multinacionais e instituições internacionais de pesquisa. Porém, há bastante tempo, nós temos observado que é factível, sim, e isso vai ser o contraponto, assim como um grande salto em tecnologia. Vários caminhos vão se abrir com esse projeto", afirmou Salles.

Quer ficar por dentro de tudo
que acontece no Portal Abrapa?

assine nossa newsletter